Capitulo 12 - BRIAN

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E essa é a maneira na qual nós permanecemos/ Ah, que será a forma que continuaremos /Oh, não, não (From Afar - Vance Joy)

Desde que cheguei no estúdio evitei ao máximo não procurar desesperadamente pela Rebeca. Juntei todas as minhas forças –que eu não sabia que existia- para focar no trabalho. Por mais que o Mike faça toda a iluminação junto com a Jéssica, eu quis ajudar. Ajustei pela quinta vez a câmera e vi várias posições para as fotos.

Estava achando completamente absurda a proposta dessa campanha. Eles queriam fazer algo diferente, onde cada pessoa, de cada canto do Brasil, se identificasse. Mas é desnecessário termos que viajar para fazer fotos em um estúdio! Tudo bem que muitas fotos vão ser feitas ao ar livre, em certos pontos turísticos ou lugares que façam as pessoas de todas as regiões do país se identificar. Mas essas fotos básicas poderiam muito bem ser feitas só em um lugar.

Mas quem era eu para estar dando pitacos em um trabalho que acabei de abandonar? Foi uma estupidez sem fim, mas eu sabia que não tinha volta. Todo mundo que desenvolve campanhas desse nível, com modelo internacional e tudo, são responsáveis demais para aceitarem desculpas como a minha.

Nos últimos minutos antes das fotos começarem eu passo meus olhos despretensiosamente pela equipe, torcendo para não encontrar com a Rebeca no mesmo instante em que meu coração ansiava por vê-la. Mesmo sabendo que eu vou fotografa-la, que ela estará completamente deslumbrante em minha frente por horas e horas nesses dois dias, eu precisava ver seus olhos. Seu olhar. Seu rosto. Sem as mascaras e os esforços de ser indiferente. Sem as inúmeras personagens que ela tinha que encarnar enquanto estava à frente de uma câmera.

E eu consegui. O que não esperava era ver além dos seus olhos. Quando uma mulher lhe chamou a atenção, quebrando os segundos congelados que pareciam séculos enquanto os nossos olhos estavam fixos, e ela se virou, puxando o seu roupão preto eu soltei sem querer um suspiro. E desviei meus olhos. Não a tempo, é claro, e poder perceber as curvas que suas costas fazia. A curva da cintura e do quadril, dos ombros, do pescoço.

Eu já tinha visto, pela fresta da porta, através de um espelho turvo aquelas mesmas curvas, mas elas ainda me faziam soltar o mesmo suspiro e dar o mesmo aperto em meu coração por saber que jamais chegarei perto daquilo tudo que parece ter sido esculpido com todo o cuidado.

A pele da Rebeca é clara, um branco quase pálido, e o bronzeado que ela carregava parece ter ido todo embora nas últimas semanas. Ela está muito mais alta do que cinco anos atrás e ganhou muitas coisas além de sutis curvas. Ela ganhou postura e pose. Ganhou feições, olhares e expressões que jamais sabia que aquele rosto seria capaz de transmitir.

Existem muitas outras mulheres mais bonitas, eu sei disso porque trabalho com todos os tipos de campanhas. Existem mulheres com muito mais curvas, mas toda a fragilidade, a essência, as curvas, a sensibilidade da Rebeca a tornou única. Ela poderia ser quem quisesse. Poderia ser uma adolescente ingênua ou uma mulher sexy e absurdamente bem resolvida. Era só dar um papel e ela o interpretava com perfeição.

Mas, como sempre diz minha mãe, não adianta mais chorar pelo leite derramado. Ou pela mulher perdida. Antes que eu consiga realmente me recuperar, ela está parada à minha frente. Seus olhos são gélidos, impassíveis. Era como se eu tivesse me tornado apenas um objeto. Talvez eu mereça. Tudo bem, eu sei que eu mereço completamente isso, mas também não posso ficar igual um chorão arrependido sentindo auto piedade de mim o tempo inteiro.

Eu apenas não sabia como lidar com aquele olhar. Ao mesmo tempo em que era simplesmente indiferente, ela parecia estar completamente magoada. Perdida, me arriscaria dizer.

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