E o retrovisor poderia retratar/ O que deixamos pra trás/ Dirija querido, dirija querido (Drive Darling - BOY)
Entrei no carro rezando para a viagem demorar bastante. Agora estou querendo ir o mais rápido possível e me afastar o máximo da Rebeca. Onde eu estava com a cabeça quando pensei que poderia dar certo? Que ela me ouviria, tentaria entender e perdoaria?
É evidente que não. E era mais obvio ainda que ela já estivesse com outra pessoa. Claro que essa possibilidade passou pela minha cabeça um milhão de vezes, mas estava confiante já que nunca tinha visto foto dela com nenhum namorado, imagine um noivo!
Aperto o volante com tanta força que meus dedos começam a doer. Sinto meus dentes apertando uns nos outros e o maxilar ficando cada vez mais rígido. Não por causa dela, ou esse estupido anel de noivado que apareceu do nada. Mas por mim. Por todas as expectativas criadas e destroçadas.
Ouço o barulho da chuva ficando mais forte e de repente escuto o barulho de um trovão. O barulho é completamente assustador e para piorar toda a situação estamos em uma estrada completamente esburacada e com vários pedaços em asfalto.
Vejo a Rebeca ir um pouco para frente e olhar assustada para o céu. É de manhã, mas não tem nem sinal do sol saindo, como estava quando saímos do hotel. Como o tempo pode fechar dessa maneira do nada? E ainda por cima no pior momento possível.
Realmente não tem como isso ficar pior.
Outro trovão, ainda pior, ressoa abafando a música. A Rebeca dá um pulo no carro e na hora toda minha tensão parece se aliviar bastante, me fazendo sorrir um pouco de canto. Obvio que assim que ela me olha, disfarço e volto a minha postura séria.
Eu amo o silencio e um pouco de solidão. Nos últimos anos isso tem sido raro, já que todas as viagens que eu faço têm geralmente umas cinco pessoas esmagadas entre si ou pelo menos o Mike e a Jéssica. Por isso, respiro aliviado quando tenho momentos como esse, música, um carro vazio -porque a Rebeca está me ignorando tanto aqui que eu realmente já estou me sentindo só- e uma chuva.
Estaria tudo perfeito se eu não estivesse com um aperto no peito que parece que vai esmagar meu coração. Abro a boca, mas não tenho o que dizer. Minha vontade é de gritar. Coisas sem sentido nenhum e grunhidos. Mas não posso fazer isso. Não posso perder meu equilíbrio. Agora eu sou um adulto, responsável e maduro, tudo que tenho que fazer é esperar.
É claro que tudo tornaria melhor se eu soubesse por que e pelo que tenho que esperar.
Avisto logo a frente um longo pedaço da estrada sem asfalto e barro vermelho. Tento passar o mais rápido possível, mas o carro derrapa totalmente, me fazendo perder o controle no mesmo instante. A Rebeca solta um pequeno grito e então o carro sai da estrada. Para a nossa sorte, antes de bater em uma arvore, ele para por causa da lama toda.
Me viro para ela e sua expressão é de profunda raiva. Tento acelerar o carro e sair dali, mas parece que a cada vez mais o carro afunda.
Até parece que estou fazendo isso de propósito. Mal ela sabe que quero sair logo desse lugar tanto quanto ela. Ou até mais.
Tento acelerar mais algumas vezes até o carro morrer. Bato com as mãos no volante e solto um pequeno grunhido abafado.
- Eu. Não. Estou. Acreditando. - Ela diz pausadamente e eu fecho os olhos, respirando fundo. - Dá para você me tirar desse lugar, pelo amor de Deus?
- Não sei se você percebeu, mas estamos no meio de um lamaçal vermelho. Caso queira ir nadando até a parte de asfalto e andar o resto do caminho, fique a vontade.
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Just a Life // COMPLETO // Livro II
RomanceApós cinco anos viajando pelo mundo e conquistando fama, Rebeca volta para o Brasil. Muito mais madura e decidida, com sua carreira no auge e um noivo ao seu lado ela se encontra mais confiante para, finalmente, dar de cara com o passado. Mas será q...