Eu estou ficando velho e preciso de alguém em quem confiar/ Então me diga quando você vai me deixar entrar/ Eu estou ficando cansado e preciso de algum lugar para começar (Somewhere only we know - Lilly Allen)
Vejo minha mãe na varanda com uma expressão completamente irreconhecível. Ela está acanhada. Muito magra. Minha mãe sempre foi uma mulher elegante, nunca magra demais, nunca com dois quilos a mais do que o aceitável para a sociedade.
E ela era feliz assim. Era natural a ela. Não algo natural como se ela sempre tivesse sido imposta a todos os padrões estúpidos que estamos submetidos. Ela sequer percebia tudo isso. Ela vivia do jeito que achava que deveria viver d o jeito que achava que era bom para sua família.
E agora lá está ela, com olheiras grandes e perceptíveis ao redor dos olhos. E seus olhos... Antes sempre atentos e curiosos. Tão importantes. Sempre parecia carregar um grande pensamento. E agora parece que há um véu cinza por cima. Parece que esse véu, na verdade, cobre toda a sua alma.
- Brian, querido. – Ela levanta da sua cadeira de madeira e me abraça. – Que saudades de você.
- Eu sei, mãe. – Sinto um nó subir em minha garganta. – Faz um bom tempo que não venho visitar vocês.
Ela se afasta e segura meu rosto com suas mãos, encostrando sua testa na minha e me olhando no fundo dos olhos. Afasto-me de forma sutil depois de alguns segundos olhando-a. Não posso chorar. Não posso ser fraco e a obrigar de me consolar.
- Onde está ele? – Digo com mais dificuldade.
- No quarto, mas está dormindo. Eu o acordaria, mas... bom, ele precisa dormir. – Ela também fala com dificuldade e entra dentro da casa. A casa é branca com uma parede azul cor de mar. É simples, mas elegante. Assim como tudo em minha mãe.
- Você quer beber algo? Tem bolo de laranja e chá, mas posso fazer um café. – Ela sorri forçadamente. Dá para ver pela sua expressão nos olhos. Nada está bem, mas ela é uma mulher maravilhosamente incrível e forte.
- Aceito um pedaço de bolo, mas deixa que eu faço o café. – Sorrio e a alcanço, passo meu braço por seus ombros e seguro seu ombro direito com a palma da minha mão. – Ele vai ficar bem, mãe. -Sussurro em seu ouvido, não que eu acredite de verdade nisso, mas ela precisa acreditar.
- Eu espero que sim, querido. – Uma lagrima pousa no canto do seu olho e então ela respira fundo. Ela se senta na cadeira branca de madeira e dos vários pratos que então empilhados sobre a mesa. – Mas me conte sobre sua vida.
- Mãe, por que você não me contou no ano novo que ele estava doente? – Digo enquanto encho a garrafa da cafeteira. Ouço seu respirar fundo e o bater de suas unhas na mesa. – Eu te liguei, você me mandou falar com o papai e então eu disse que não e você deixou para lá. Você já sabia que ele estava mal.
Viro-me e me apoio na pia, seus olhos estão cheios de água, mas nenhuma delas escorre. Estão presas como em uma represa de algo que ela quer esconder. Quase me arrependo de ter tocado nesse assunto assim, de forma tão abrupta e grosseira. Mas eu não podia mais me controlar, ela deveria ter me contado.
- Algo assim não se esconde, mãe! – Falo um pouco mais alto e a vejo tremer levemente, até que ela começa a chorar. É aquele tipo de choro desesperador, em que a pessoa simplesmente curva sua cabeça, coloca a mão no rosto e tudo que você vê são as gotas caindo sobre a mesa de madeira branca, os ombros tremendo descontroladamente e se ouve soluços. – Me desculpe.
Permaneço no mesmo lugar, completamente paralisado. Não sei o que fazer, o que falar. Minha vontade é de ir a abraça-la, envolve-la com meus braços e pedir perdão dez mil vezes. Mas eu não consigo, meus pés não saem do lugar e minhas mãos seguram a pia com toda a força que há em mim.
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Just a Life // COMPLETO // Livro II
RomanceApós cinco anos viajando pelo mundo e conquistando fama, Rebeca volta para o Brasil. Muito mais madura e decidida, com sua carreira no auge e um noivo ao seu lado ela se encontra mais confiante para, finalmente, dar de cara com o passado. Mas será q...