Just a Life // COMPLETO // Livro II

Capitulo 22 - BRIAN

Ps: esse é o penúltimo capitulo, depois do último teremos enfim o epilogo. 

Você está esperando pela melhor desculpa?/ Você está esperando por um sinal para escolher?/ Enquanto espera, é o tempo que você está perdendo/ O que você está esperando?/ Você não quer abrir suas asas e voar?/ Você não quer realmente viver a sua vida?/ Você não quer amar antes de morrer?/ O que você está esperando? (What are you wainting for - Nickelback)

Acordo com os olhos pesados, embora tenha dormido mais de oito horas, sem dúvidas. Mas meu sono foi tão agitado que parece que dormi uma hora e olhe lá. Sonhei com a Rebeca, seu rosto passa pela minha mente em flashes de momentos que nunca aconteceram (e duvido, a tal momento, que algum dia chegará a acontecer). Todo meu esforço de me levantar da cama acaba quando vem à mente uma cena de seu abraço, jogo minha cabeça no travesseiro novamente e penso que é o fim.

Acho que mesmo quando eu tento fazer a coisa certa, sai tudo errado. Sai fora do eixo, é como seu eu sempre escolhesse a hora inoportuna, o modo inadequado. É como se cada passo que eu desse fosse torto e cada escolha fora feita às cegas. Mesmo que eu pense milhares de vezes antes de agir, tudo sai de um jeito não planejado.

Fecho meus olhos e tento trazer sua imagem de volta à minha mente, mas é como se uma leve neblina tivesse apagado tudo que a noite me trouxe como uma despedida.

Olho para minha mala pronta no canto do quarto. Respire fundo, me obrigo. Não existe só ela, certo? Há quantas mulheres no mundo? Mulheres como ela, lindas, inteligentes, determinadas. Que sabem o que quer. Com quem, aliás e principalmente, eu não tenho nenhum histórico de partidor de corações. Eu só preciso me obrigar, me forçar um pouco mais a esquecê-la. Talvez eu não tenha feito um bom trabalho nesses últimos cinco anos, alimentado expectativas e repetindo erros, mas agora já estou mais maduro, tenho certeza disso.

Todo mundo tem um amor na adolescência que é superado. Todo mundo.

- Mãe? – Abro a porta do quarto e vejo que está tudo escuro e silencioso. Olho no celular e vejo que tenho que sair daqui em uma hora, duas no máximo. – Mike? Jéssica? Caramba, vocês são um monte de dorminhocos... eu não trabalho com gente preguiçosa não, viu?

Passo pelos quartos e vejo que estão todos muito bem arrumados, a cama feita, as malas no chão ao lado da cama, a Jéssica deixou um sobretudo preto em cima da cama perfeitamente liso, com um salto preto no chão logo a baixo.

Vou à cozinha e vejo que tem café pronto. Minha mãe os convenceu a dar uma volta, finalmente. Tive um grande receio de leva-los até a casa de praia depois da morte do meu pai, tudo que uma viúva precisava logo depois do fatídico acontecimento que lhe trouxe tal titulo é um momento de solidão, de deixar toda a saudade existente bater como ondas de ressaca chocam nas rochas, e então tudo iria se acalmar, as coisas iam se alinhando e voltaria ao normal, até a próxima tempestade.

Que erro! Que só prova que na matéria mulheres eu só tiro um belo e redondo 0 (pelo menos no quesito de entender suas necessidades emocionais, convenhamos).

Sirvo-me de café, coloco em uma xicara que era minha preferida quando criança, azul com barcos amarelos. Não me lembrava de ter empacotado ela, mas ali estava, na primeira prateleira logo à frente, esperando por mim.

Pego a xicara e um pedaço de bolo caseiro, que suponho que tenha acabado de ter sido feito por ainda estar um pouco quente. E penso em como o humor da minha mão deve ter melhorado por conta das visitas surpresas, ela geralmente só fazia bolo em ocasiões especiais.

Levo minha refeição matinal para frente da casa, sento na cadeira de balanço e olho as ondas. Estou esperando algo acontecer, uma mensagem chegar, uma ligação me pedindo para permanecer bem onde estou. Fecho meus olhos quando os olhos começam a arder e sinto o cheiro do mar. Posso sentir ainda a sensação dos meus pés afundados na areia ainda úmida das ondas fortes durante a noite.

É um sonho. É um sonho que toma meu corpo, monopoliza minha mente, paralisa meus sentimentos. É o sonho do impossível, do que não aconteceria nem em outra vida. O sonho de que o milagre aconteça, ela apareça com seus cabelos curtos, as mechas loiras discretas, o vento vindo do oceano bagunçando uns fios, seus olhos apertadinhos por causa da claridade e o sol que bate em sua direção. É o sonho de que as palavras saiam da sua boca e me impeçam de ir embora, de pegar o avião e desistir de tudo. É o sonho de que meus erros sejam perdoados e enterrados, que vá para o fundo de um oceano, inalcançável como o fim de um iceberg. O sonho do milagre.

E pior que esse sonho é só a descrença de que, nesse caso, o milagre não acontecerá. Eu perdi a chance.

Pergunto-me se, cinco anos atrás, ela sentiu isso. Se seu coração se manteve nessa eterna aflição. Nesse sonho e o amargo sabor de uma ilusão, a certeza de que não aconteceria, mas um desejo tão latente, tão ardente que parece cegar todas as saídas de razão e ouve somente o coração, que bate forte, faz birra, implora e chora por mais um pouco, só mais um pouco de tempo, por só mais um pouco de esforço.

Mantenho meus olhos fechados enquanto sinto a xicara antes quente, esfriar. Mas eu juro que, nesse momento, posso sentir sua presença, pude ouvir seus passos subindo os degraus de madeira, sua respiração inquieta e sua presença, sua essência me cercando, talvez seu cheiro misturado com o sal da água. Posso sentir tanto que ouço sua voz, tão real. Estou ficando louco. Abro os olhos em um susto, mas a maior surpresa está onde minha visão alcança, no canto ali daquela varanda esverdeada, do chão branco descascado. Seus cabelos curtos, com mechas loiras discretas sendo jogados ao vento, seus olhos apertados, seus lábios em uma linha fina, que indica o medo, a insegurança e mil pensamentos presos dentro daquela mente. Suas sandálias na sua mão. E eu posso sentir uma emoção tão grande que as lágrimas saem quentes dos meus olhos, quentes e incontroláveis. Porque meu milagre acaba de acontecer, bem diante de mim.