Capítulo 10- BRIAN

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Todos os meus pequenos planos e esquemas/ Perdido como um sonho esquecido/ Parece que tudo o que eu estava fazendo/ Estava esperando por você (Real Love- Tom Odell)

Entro no avião e vejo que terei que me sentar ao lado de um garotinho de 10 anos ou algo do tipo. Pela primeira vez desde que eu e o Mike começamos a trabalhar juntos não sento ao seu lado. Não por decisão minha. Antes ele sempre fazia questão de ir comigo, por vezes para evitar a presença da Jéssica por causa de alguma briga desnecessária e estressante, às vezes para infernizar a minha vida mesmo, ou então para aprender um pouco mais sobre o próximo trabalho que íamos fazer. Posso dizer que nunca fiz muita questão de sua campainha nos voos. Mas hoje posso perceber como ela faz falta. Acho que sou meio expert nisso de só aprender a dar valor quando perder.

Nota mental: mudar essa atitude babaca de uma vez por todas antes que eu perca tudo de uma vez.

Assim que jogo minha bagagem de mão no bagageiro e me jogo na poltrona, totalmente frustrado, o garotinho ao meu lado pausa o seu jogo e me olha com uma expressão de nítida irritação. Bem vindo ao time meu amigo, também não estou nada feliz em te ter ao meu lado.

- Querido, você vai ter que desligar o celular. – Uma mulher loira que está sentada bem à minha frente diz ao menino que a olha com uma expressão que até eu teria medo. Essas crianças estão cada vez piores. – Você não quer ter que ficar sem celular por mais uma semana não é?

Eu a olho, pela primeira vez com atenção e curiosidade. Ela me olha rapidamente antes de desviar sua atenção para o filho de novo. Mas os poucos segundos em que nossos olhares se cruzaram pude ver todo o cansaço de sua expressão. O menino faz uma cara de bravo e ao mesmo tempo assustado e coloca o celular na mão de sua mãe, que está estendida.

Ele olha pela janela assustado enquanto as aeromoças e o piloto começam a dar orientações sobre o que pode acontecer caso ocorra algum acidente.

Tento fechar meus olhos e me desligar do garoto que encara a janela com um misto de raiva e medo, mas minha mente me leva ao rosto que mais tenho evitado em pensar, mesmo que seja completamente inútil, tendo em vista que terei que passar mais dois dias fotografando e filmando-o.

Mas mesmo que eu queira abrir os olhos e simplesmente voltar à realidade, onde é aparentemente mais seguro. Eu não consigo. Muitas vezes por dia eu me pego nesses momentos. Onde paro para refletir sobre tudo que aconteceu conosco. E olha que não me refiro somente ao que aconteceu nesses últimos dias.

Eu perdi a mulher da minha vida, o fato é esse. Há cinco anos eu não fazia a menor ideia do que uma pessoa que me ama poderia fazer por mim. E o que a força de um amor poderia fazer na minha vida. Eu não fazia ideia do peso que a felicidade que escorria lentamente pelos meus dedos tinha. E eu a deixei ir. A cada vez que a desprezei, a cada vez que optei por não ouvir meu coração, cada vez que não a puxei e não a envolvi em meus braços. Eu definitivamente a deixei ir.

Paguei um preço caro. E ainda pago.

Só que agora eu já resolvi dar um fim definitivo a isso tudo. E espero de todo o coração, que a multa por ter saído dessa campanha simplesmente do nada resulte no último preço que terei que pagar por simplesmente não conseguir mais correr atrás da minha felicidade.

Não é covardia. Não é medo de ser feliz. Não é imaturidade. Eu apenas sei que ela não é mais para mim. Não adianta eu lutar, correr atrás, dizer que a amo. As palavras não surtem mais efeito. E aquele enorme anel está em seu dedo o tempo inteiro para me lembrar disso. O seu sorriso de felicidade está lá para me lembrar disso. Todo o seu sucesso está lá para me lembrar disso. A vida dela é muito melhor sem mim.

Just a Life // COMPLETO // Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora