Capitulo 21 - REBECA

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Mesmo quando me descuido/ Me desloco/ Me deslumbro/ Perco o foco/ Perco o chão/ Eu perco o ar/ Me reconheço em teu olhar/ Que é o fio pra me guiar/ De volta (Me espera – Sandy e Tiago Iorc)

- Se você não pegar um avião agora mesmo e ir atrás dele, você vai se arrepender para sempre, Beca. Você sempre o amou, mesmo quando ele não merecia, mesmo quando não era reciproco e mesmo sem motivos nenhum, seu coração estava inteiro lá. Você sempre se deu por inteira. E ele nunca soube retribuir, até agora. – Babi diz pelo telefone, forçando toda sua calmaria, mesmo que por dentro eu saiba que ela está explodindo. – E agora é sua vez de pegar esse avião em encontro a ele. E ele não merece, não merece que você mova uma palha para encontra-lo. Ele sequer merece respirar o mesmo ar que você (não fique se gabando por isso e tira esse sorriso idiota do rosto), mas você merece. E se você não for, você vai pensar sempre no e se, e se sua coragem não vir agora, nunca mais ela vai aparecer.

- Mas, Babi... – Começo a falar juntando todos meus argumentos que tem me prendido nesse quarto de hotel, mas antes que eu possa começar a sequer expô-los, ela me corta.

- Nem mas nem meio mais. Você levanta essa bunda da cama, faça sua mala e pegue o primeiro avião porque eu não vou suportar uma madrinha de casamento tristonha pensando que aquilo (que no caso é meu casamento) poderia estar acontecendo com ela também.

- Você sabe que mesmo que eu vá a gente não se casa por tão cedo né? Nem sei se ele ainda está no Rio. Nem sei se ela me espera.

- Ele passou 5 anos com você no coração, não vai ser duas semanas que vão tirar. E muito menos qualquer país ou viagem que fizer. Você é o amor da vida dele.

Respiro fundo e tento me acalmar, meu cérebro nunca pensou sob pressão, mas eu também não sou regida pela total emoção. Mas como ser racional quando o cara que você ama está apenas esperando sua mensagem, sua resposta, para não ir para o outro lado do planeta e excluir você do coração? Não existe. Não há como ser racional quando o coração parece gritar em seu peito "vá, ame, siga, não desista".

- Babi, vou arrumar minhas coisas.

- Pera, isso quer dizer o que? Que você vem para São Paulo ou pro Rio?

Antes que eu possa ouvir um grande sermão e mais conselhos sobre o que devo fazer, desligo o telefone. Respiro fundo por alguns minutos e então coloco tudo que estava espalhado pelo meu quarto em minha mala vermelha, tento fazer tudo com calma, pois o que é para ser vai ser.

Mas assim que chego no aeroporto e começo a andar sinto uma adrenalina tão forte dentro de mim que não consigo andar simplesmente devagar e calma, como a boa conduta para uma dama me manda, e então meus passos vão de calmos à ansiosos à rápidos até que então eu estou correndo pelo aeroporto, sendo que ainda nem comprei minha passagem. Sequer sei se ainda tem voo para essa noite. Eu apenas corro e enquanto assim estou, nada mais ocupa minha mente a não ser os olhos dele, seu sorriso e abraço.

E é dessa forma que eu esbarro em um segurança e minha mala vai para longe, minha bolsa cai com tudo que estava dentro e eu simplesmente paro com todo o efeito da adrenalina dentro de mim.

Ele olha para mim como se eu fosse uma ladra e eu encolho os ombros enquanto me abaixo para pegar minhas coisas. Seu olhar acusatório apenas me faz querer cavar um buraco no chão e me enterrar.

- Estou atrasada, desculpe. – Digo assim que consigo juntar minhas coisas e então saiu andando o mais rápido que posso sem que eu pareça uma grande suspeita.

Assim que seguro minhas passagens nas mãos meu coração consegue se acalmar o bastante para que eu coloque os fones de ouvidos e aperte o play aleatoriamente. A primeira música que toca em meus ouvidos é Just Give Me a Reason e eu apenas respiro fundo, pela milésima vez hoje, tentando manter a calma e deixo a letra me tocar.

"Desde o início/ Você era um ladrão/ Você roubou meu coração/ E eu a sua vítima voluntária"

"Apenas me dê uma razão/ Apenas um pouco é o suficiente/ Só um segundo, não estamos quebrados só fora do eixo".

Continuo sussurrando a canção enquanto as lagrimas tomam conta dos meus olhos e o medo invade meu coração de uma forma peculiar. Os "e se" que tantas vezes tomaram meu sono agora me atormentam de novo, só que de uma maneira diferente. O que eu farei se ele não estiver mais lá? Como vou lutar conta isso? E o medo de me magoar novamente? Como posso me entregar, entregar meu coração novamente, a uma pessoa que no passado não soube cuidar bem dele? Como posso confiar que ele mudou? Como posso ter certeza que eu mudei o suficiente para saber qual é o momento em que não dá mais? E se eu me quebrar? Mas e se der certo como nunca pensei que fosse dar?

Abro meu celular e então vejo seu e-mail. Eu sei que ele está no Rio de Janeiro com o seu pai, cuidando dele e com sua mãe. Mas será que ainda estão na mesma casa, o lugar onde costumava estar também a minha casa? Mas será que ele não pegou o avião há dias atrás e a essa hora está amanhecendo na cama de alguma garota que conheceu no bar naquela noite? Ou talvez ele esteja embarcando nesse exato momento enquanto eu espero duas horas para o meu voo.

Minha única esperança é ir até lá e falar tudo que está em meu coração. Eu tentei ensaiar as palavras que quero dizer, tentei digitar em um e-mail, mas antes de enviar meu dedo tremia tanto que pensei que não fosse boa ideia. Mas agora me sinto estupida o bastante de aparecer de surpresa em lugar que eu nem sei se ele está ou não.

Eu apenas estou seguindo meu coração.

E tudo que meu cérebro diz é "idiota, você vai se ferrar".

Mas quem dá ouvido a ele quando você tem a chance, mesmo que seja 1% de chance, de encontrar com o cara que tem seu coração?

A lista de músicas continua tocando aleatoriamente músicas que só me fazem lembrar ainda mais a ele. E eu consigo me lembrar de momentos de dor, de raiva e de arrependimento. E por mais que tudo isso faça meu coração doer cada vez mais, tudo isso é neutralizado com as pequenas e breves lembranças de sua doçura, de seu olhar sonhador, de sua preocupação com sua família, do efeito que o toque de sua mão sobre a minha causa em meu coração. Nenhuma dor é maior do que o amor que ele traz nos pequenos gestos.

Por isso mesmo quando duas horas se passaram e chamam os passageiros para o voo das 23:00 para o Rio de Janeiro, eu apenas sinto meu coração disparar com toda aquelas adrenalina que me faz ter vontade de sair correndo.

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