Capitulo 2 - BRIAN

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Três anos no mar após a tempestade/ Nesse navio naufragado em que o amor me colocou/ Deus, queria que uma rajada de vento me levasse para casa/ Mas eu, eu não tenho para onde ir/ Agora aqui está você, com a força de uma onda (Nothing Whithout Love – Nate Rues)

Desde que recebi a noticia de que iria fotografar a Rebeca, não dormi direito uma noite sequer. E isso faz mais de três semanas. Ligaram-me perguntando se eu topava o trabalho com uma top model internacional, a ideia é fotografar em cada região do Brasil, começando pelo Norte. Nunca sou de perguntar o nome das modelos, mas o fato de ser internacional despertou minha curiosidade. E nem em um milhão de anos eu imaginei que esse encontro aconteceria.

Quando eu ouvi seu nome meu coração parou. E em seguida acelerou tão rápido que eu fiquei assustado. Afinal, quanto tempo faz? Seis anos? Cinco? Não sei ao certo, mas já é bastante tempo. Claro que não o bastante o suficiente para esquecê-la. Acho que nem em cinco vidas eu conseguiria esse milagre. O que dirá em cinco anos.


Sua expressão é um misto de emoções. Surpresa, medo, terror, então ela se recupera e me olha como se eu fosse ninguém. Entre todos os seus olhares, esse é o pior, sem sombra de duvida. O desprezo parece me cortar como uma navalha. Minhas mãos soam e eu preciso segurar a câmera com mais firmeza para que ela não escorregue e acabe me custando trabalhar por meses de graça para conseguir pagá-la.

O pessoal da equipe começa a arrumar tudo e eu saio da minha pose de estatua e vou ajeitar todo o equipamento, a Rebeca recebe as últimas instruções sobre o ensaio e então ela se posiciona em frente ao fundo verde do estúdio. Seus olhos são nervosos e evita todo o contato possível comigo. E isso me deixa ainda mais nervoso. Meu assistente, Mike, me olha com curiosidade e eu tento me focar na câmera. Mas como eu poderia conseguir? A coisa que eu mais desejei nesses últimos anos, está bem ali, parada em minha frente, posando para minha câmera e eu sequer posso falar com ela sem que ela finja que não me conhece.

Após longos minutos de tortura, a Rebeca começa a se soltar. E eu foco no que realmente importa. Claro que isso exerce muita força. Torci muito para que o dia de hoje chegasse, planejei todas as noites antes de dormir, ou pelo menos tentar, o que falaria para ela. Como seria nosso encontro. A forma que eu agiria.

E então todos os malditos "e se" tomavam conta da minha mente.

E se... ela não falasse comigo.

E se... ela me desprezasse.

E se... ela me batesse.

E se... ela desistisse do trabalho por minha causa.

E se... ela não me amasse mais.

A última hipótese estava me corroendo por dentro já. Eu poderia suportar tudo. Tapas, xingamentos, qualquer coisa, menos a ideia de que ela não me amasse. Até mesmo sua raiva seria algo bom nesse momento. Mas seu desprezo não. E, nesse momento, ela estava agindo da forma que eu mais temia. Como se eu fosse um inseto.

- Pausa! – Alguém grita com urgência e todos riem. Realmente depois de uma hora já estava bem cansativo fotografar e não prestar atenção na forma como aquela mulher estava mexendo com todos meus pensamentos.

Desde que eu decidi enfrentar meu pai e virar fotografo eu cogito a ideia de fotografar a Rebeca. Acompanhei seu trabalho incessantemente nesses últimos anos. Mas depois de algum tempo, fui deixando essa ideia morrer. Ela nunca havia voltado ao Brasil e, pode até ser muito presunçoso de minha parte, mas acho que era tudo uma forma de me evitar. Eu viajei para fora do Brasil por alguns meses no ano passado à trabalho, mas mesmo assim nunca nos topamos nas esquinas de Nova Iorque, no Central Park ou nas noites da Times Square.

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