Capítulo 18

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Darcy despertou, nem um pouco mais próximo de ter compreendido o emaranhado de emoções que o dominava, do que estivera na noite anterior. Decidiu dar uma volta por seu caminho favorito. Talvez o ar fresco o ajudasse a pensar.

O passeio foi pelo pequeno bosque que ladeava o parque, onde havia um caminho coberto que ninguém parecia valorizar a não ser ele próprio, e onde se sentia a salvo do escrutínio das pessoas.

Cavalgou perdido em seus pensamentos. O fato de Elizabeth estar tão próxima a Rosings era um choque. Se era agradável ou doloroso ele ainda não sabia, embora estivesse inclinado a admitir a primeira alternativa.

Mas a presença dela não o ajudaria a manter o controle - sempre que estava perto dela, precisava de todo seu autocontrole para não agir de forma irrefletida.

Repentinamente, ao sair da aléia de árvores, ele a viu.

Elizabeth estava com um vestido branco de musselina, a blusa coberta por um casaco cor de canela. Seus olhos se fixaram em Darcy, surpresos, contornados por seus cachos escuros e seu chapéu.

Ela estava linda a ponto de lhe tirar o fôlego, sua forma emoldurada pelo verde das árvores. Ele puxou as rédeas e devolveu o olhar.

A moça fez uma pausa em sua caminhada e cruzou as mãos em frente ao próprio corpo. Ela não falou.

Talvez fosse melhor, já que Darcy não conseguia pronunciar uma palavra. Uma parte de seu cérebro sugeriu que fosse embora antes que ele dissesse algo de que se arrependeria mais tarde. Esporeou seu cavalo, colocando-o em movimento, e pesaroso, afastou-se lentamente.

Assim que deixou o bosque para trás, começou a galopar de volta à mansão.

No momento em que chegou, viu que o primo se preparava para sair.

- Onde você vai, primo? - ele indagou.

- Vou à reitoria novamente. Pretendia ir mais cedo, mas a srta. Bennet disse que geralmente sai para caminhar sozinha pelo parque, então combinei que iria visitá-la mais tarde.

Darcy resistiu ao impulso de segurar o coronel para impedi-lo de ir. Ver os dois tão à vontade na companhia um do outro não era nada agradável para ele.

Mas por quê? Ele pensou. Ela não lhe deve satisfação por conversar com outro homem que não seja você.

Não obtendo nenhuma resposta do primo, o cel. Fitzwilliam deixou a mansão, assobiando uma melodia alegre.

Isto significava que Darcy teria que passar a maior parte do dia com a tia e a prima.

- E então a minha querida Anne disse a ela que não era apropriado que ela fosse sozinha à loja. Uma dama, eu sempre digo, deve estar sempre acompanhada de uma mulher mais velha, ou algum conhecido - concluiu lady Catherine.

Ninguém se manifestou. Eles estavam sentados ali, conversando, por quase duas horas desde o almoço. Mas como Darcy não se sentia propenso a falar, sua prima muito menos, lady Catherine se encarregou da tarefa. O cel. Fitzwilliam ainda não havia retornado e Darcy dizia a si mesmo que não devia ir atrás dele para mandá-lo voltar.

Ouviu-se o som de passos no hall e Darcy se levantou para interceptar o primo antes que sua tia o fizesse.

- Ora, Darcy, como vão as coisas? Que assunto era esse entre você e tia Catherine que o deixou tão ansioso para me ver?

- Coisas demais para repetir. Podemos nos desculpar e ir para o escritório?

Fitzwilliam concordou e eles passaram rapidamente pela sala para pedir licença.

Entraram no escritório raramente usado, e o coronel se sentou enquanto Darcy preferiu se postar próximo ao console da lareira.

- Então o que fez na reitoria? - perguntou Darcy, tentando esconder a dimensão de sua curiosidade.

- A maior parte do tempo conversei com a srta. Bennet. Me diverti muito.

- E sobre o que falaram?

- Muitas coisas; a família dela, música, vários livros, até mesmo política. Ela é uma moça muito interessante.

- E foi só isso? - insistiu. Darcy queria saber se a conversa havia sido em algum aspecto similar às que ele próprio tivera com Elizabeth.

- Bem, devo confessar que você foi o assunto por um bom tempo, introduzido por ela.

Darcy se voltou para encarar o primo.

- Ela quis falar sobre mim? - perguntou incrédulo.

- Claro. E foi muito interessante - disse o coronel, rindo. - E pretendo voltar amanhã para continuar a 'nossa conversa'.

O quê? De novo?

- Primo, não creio que seja sensato você criar algum tipo de vínculo com a srta. Bennet - ele declarou.

- Ora, e por que não?

- Pela posição dela na sociedade - ela não herdará nada da propriedade de seu pai, nem tem qualquer fortuna.

- Só por isso? - riu Fitzwilliam. - Eu já sabia disso, e não, eu não tenho nenhum 'plano'. Filhos mais novos podem se casar com quem quiserem, lembra?

Darcy concordou.

- Então foi apenas por uma questão prática que você me alertou? - Ele riu novamente, levantando-se e abrindo a porta. - Se não fosse isso, eu poderia pensar que você está com ciúmes, Darcy.

Ele deixou o aposento, fechando a porta atrás de si, deixando Darcy rígido em frente à janela. O último comentário de Fitzwilliam ecoava repetidamente.

"Eu poderia pensar que você está com ciúmes, Darcy."

Ciúmes! Era exatamente o que estava sentindo. Era assustador - quase o fazia querer mal ao primo.

Mas se estou com ciúmes de Fitzwilliam por Elizabeth lhe dar atenção, então o que estou sentindo por ela? Seus pensamentos corriam.

A resposta estava em seu coração. Estivera lá por muitos meses, embora não tivesse consciência disso antes.

Ele a amava.

No momento em que percebeu isso, um sentimento de paz tomou conta dele. Depois de tanto tempo, ele finalmente admitira. Suspirou, visualizando a imagem dela que vira naquela manhã.

Então seu lado racional tomou a dianteira novamente e o inquiriu.

Você está apaixonado. E agora, o que pretende fazer?

Darcy não sabia.

O Outro Lado De Orgulho E PreconceitoOnde histórias criam vida. Descubra agora