Uma última dúvida
Talvez o coronel pudesse ler sua mente, ou talvez fosse sua postura em frente à janela que alertara seu primo sobre seu desconforto. O que quer que fosse, alguma coisa delatara a perturbação de Darcy, fazendo com que seu primo logo lhe perguntasse.
– No que está pensando? Não se divertiu ontem à noite no jantar com os tios da srta. Bennet?
Darcy desviou o olhar de sua inconsciente observação do mundo exterior.
– Perspicaz como sempre, Fitzwilliam – ele respondeu. – Gostei muito da visita. Não é isso o que está me perturbando.
– Então o que é?
Darcy respirou fundo e se sentou.
– Estou confuso – admitiu. – Sei que é impossível que a srta. Bennet me ame, mas os tios dela parecem apoiar a idéia de que eu me case com ela.
– E como eles sabem? Você praticamente escondeu seus sentimentos de mim e de Georgiana, impossível que os tenha confidenciado a duas pessoas relativamente estranhas.
– Os Gardiner são pessoas muito perspicazes. Não me surpreende que eles tenham percebido o que sinto.
O cel. Fitzwilliam pensou por um momento.
– Talvez você deva encarar o apoio deles como um bom sinal. Tenho certeza de que eles conhecem os sentimentos de Elizabeth em relação a você.
– Gostaria de poder encarar dessa forma – disse Darcy. – Mas eles apenas insinuaram vagamente, não disseram nada concreto.
– Darcy, tem certeza de que quer fazer nova proposta de casamento à srta. Bennet? – perguntou o coronel sério.
– Por que pergunta?
– Não quero ser pessimista, mas e se ela o recusar uma segunda vez? Lidar com seu coração partido durante meses depois do episódio em Kent já foi difícil. Não quero nem imaginar o que aconteceria se você se desapontasse outra vez.
– Você acredita que ela ainda não sente nada por mim?
– Não tenho nenhuma opinião formada no momento, já que não tenho nenhuma informação, com exceção do que aconteceu em Kent e o que se passou a seguir. Só estou sendo realista. Há outras questões, no entanto. O sr. Wickham está casado com a irmã mais nova da srta. Elizabeth, não está?
– Sim... – respondeu Darcy hesitante.
– Você está disposto a se ligar a ele definitivamente?
Darcy meditou. Wickham era talvez a única pessoa no mundo que Darcy odiava. Nunca tivera sentimentos tão intensos em relação a alguém, exceto a Elizabeth que se situava no outro extremo de sua gama emocional.
Percebeu que no caso de ele se casar com Elizabeth, Wickham estaria ligado a ele da maneira mais próxima possível, como cunhado. O parentesco que Darcy impedira por pouco dois verões atrás se efetivaria. Poderia ignorar esse fato casando-se com Elizabeth?
E por que eu deveria me preocupar com isso? Quando crianças, já éramos como irmãos mesmo que não de nome e de sangue. Como adultos essa ligação pode não me agradar, mas não preciso manter contato com ele. Se eu me cassasse com Elizabeth, ele se tornaria meu cunhado, mas eu teria Elizabeth a meu lado. Isso é tudo o que importa.
– Sim, posso aceitar isso. Você tem alguma objeção?
– Nenhuma. Se você a ama, então fico perfeitamente satisfeito. Mas me diga com sinceridade, você está considerando seriamente fazer-lhe uma segunda proposta de casamento?
Darcy suspirou.
– Eu não sei. Eu... – As palavras lhe faltaram.
– Você ainda a ama.
– Sim. Ela domina todos os meus pensamentos, em todos os momentos. Na verdade, é muito irônico – disse Darcy, com um breve sorriso. – A única mulher com quem posso me imaginar casado, é a única que não posso ter.
Seu primo o olhou com comiseração e surpresa.
– Não paro de me surpreender com a mudança que a srta. Bennet causou em você. Antes seria inimaginável que você se abrisse e falasse de seus mais profundos sentimentos até mesmo para seus parentes mais próximos. Você nunca engoliria seu orgulho, admitiria suas falhas e erros, nem permitiria que qualquer outra pessoa tirasse de você o peso da responsabilidade. – Cel. Fitzwilliam. sorriu. – Eu espero sinceramente que esta mudança não seja em vão. Desejo fervorosamente vê-lo feliz.
Darcy balançou a cabeça.
– Mas eu não sei quais são os sentimentos dela por mim. Eles se alteraram tão drasticamente durante todo o tempo em que tivemos contato. Se eu soubesse que ela me ama, correria até Hertfordshire agora mesmo. Se eu soubesse que ela me ama, por mim mesmo, então não teria escrúpulos em fazer-lhe uma segunda proposta.
Ele se levantou e foi olhar pela janela novamente.
– Mas eu não sei. Quisera soubesse. Evitaria muitas noites de insônia.
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O Outro Lado De Orgulho E Preconceito
RandomUma fanfic fantástica para quem gosta do livro Orgulho e Preconceito de Jane Austen. A autora reescreveu o livro inteirinho sob o ponto de vista do Mr. Darcy. Tudo em Português/BR. --------------------------- Eu não sou a verdadeira escritora, so...