Capítulo 25

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Oi gente, eu já tinha alguns rascunhos prontos então decidi postá-los e de quebra ver se eu ainda quero continuar, até porque meus problemas foram parcialmente resolvidos.

Espero que gostem e votem por favor!

Dias sombrios 2

A vantagem da esgrima era que a atividade ocupava tanto a mente quanto o corpo. Assim, permitia que Darcy se esquecesse por alguns momentos dos problemas que tanto o afligiam na última quinzena e se concentrasse em outra coisa.

Antes de Rosings, Darcy fora adepto do esporte apenas moderadamente, mas agora se dedicava a ele. Ajeitou o cabelo para trás e fixou os olhos no oponente. O cel. Fitzwilliam também o encarou e fez um sinal. Outros rapazes e o mestre de esgrima assistiam à luta. Seu primo não fez nenhum movimento de ataque, era óbvio que queria se manter na defensiva desta vez. Darcy ficou satisfeito em atendê-lo e desferiu uma estocada. O golpe da espada foi aparado e os dois se afastaram novamente. 

De repente, sem aviso – e certamente sem ser desejada – a lembrança daquela noite humilhante em Hunsford aflorou à sua mente. Darcy perdera aquele duelo – e de forma muito dura.

Determinado a não perder desta vez, ele atacou com tamanha fúria que o coronel se viu surpreendido e foi forçado a recuar até sentir suas costas de encontro à parede, tentando bloquear a chuva de golpes desferidos contra ele. Finalmente, abaixou a espada num gesto de rendição.

Darcy não percebeu, desfechando um último golpe. Felizmente, o coronel saltou com muita agilidade e se lançou para agarrar o braço com que Darcy empunhava a espada. Segurou-o com força até que Darcy abaixasse a arma.

– Tudo bem, eu me rendo. Você não precisa me ferir para vencer, Darcy – observou num tom meio debochado.

Darcy não respondeu. Não havia sinal de que ele tivesse ao menos escutado o que o primo dissera. 

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A biblioteca e seu escritório eram seus lugares favoritos no momento. Poucos ousavam incomodá-lo ali, e sempre que precisava distanciar-se de seus pensamentos sombrios, podia lançar mão de um dos inúmeros volumes que preenchiam as prateleiras. 

Hoje, ele estava muito cansado para se interessar por algum romance. O duelo com o cel. Fitzwilliam, para completar todas as noites sem dormir, o havia exaurido. Muito cansado para resistir, deixou que a culpa o dominasse. Ele quase ferira Fitzwilliam seriamente! Deixara que suas emoções se sobrepusessem ao bom senso e quase fizera algo terrível. Não tentara sempre dissuadir Bingley de se deixar levar pelas emoções? Veja as conseqüências disso! Em seu estado normal nunca teria feito algo parecido. Mas havia mudado tanto desde que...

Ele sabia com que nome deveria completar a sentença, mas tentou desviar seus pensamentos dela.

Ouviu passos suaves atrás de si. 

– Por que você está aqui, nesta biblioteca escura? – perguntou Georgiana, tocando o espaldar da cadeira. – Estamos todos sentindo a sua falta.

Darcy desejava que Elizabeth e sua irmã se tornassem amigas, mas se ela o desprezava, todas as chances eram de que ela não quisesse nenhum contato com sua irmã.

Não disse nada em resposta à indagação desta. 

– O que o está aborrecendo, irmão? – insistiu Georgiana com a voz trêmula. – Você tem estado tão infeliz desde que voltou de Kent. Há dias em que nem o vejo – você passa todo o tempo ou em seu quarto, ou em seu escritório ou aqui. Sempre que se junta a nós, não diz uma palavra a não ser que seja absolutamente necessário. Você está tão distante, é como se eu morasse com um estranho. – Darcy ouviu um soluço na voz da irmã. – O que está errado? Por que você não confia em mim?

Ele precisava desesperadamente falar com alguém, mas não queria despejar seus problemas sobre Georgiana.

– Me perdoe se não lhe conto. Não é nada com que você deva se preocupar – ele suspirou. – Nem eu mesmo me reconheço, não sei mais se sou bom ou mal. É possível um homem mudar a própria maneira de pensar? Será que eu permitiria a mim mesmo essa mudança? – O silêncio caiu entre eles. Darcy não disse mais nada.

– Venha se juntar a nós, Fitzwilliam – disse Georgiana, apoiando a mão sobre seu ombro. Ele ignorou o gesto.

– Não.

Georgiana saiu. Ele a ouviu tentando segurar as lágrimas. Pode ouvi-la quando, já no hall, sussurrou, “Richard, primo, nada mudou...” A porta se moveu até fechar, e Darcy levantou-se para trancá-la. 

Tentou ler, mas sua atenção se manteve dispersa. Frustrado, destrancou a porta. O cel. Richard Fitzwilliam e Georgiana Darcy ainda estavam ali. Ignorou os dois e passou rapidamente por eles indo para o seu escritório. Novamente trancou a porta.

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Sua maior distração estava ali sobre sua escrivaninha, formando uma grande pilha. Cartas para responder, negócios para resolver e tantas outras coisas que exigiam sua total atenção. Jogou-se na cadeira e pegou uma pena. 

Havia quatro cartas. Respondeu-as o mais brevemente possível. As contas e negócios foram logo resolvidos. Inúmeros convites para festas e bailes – todos respondidos, todos recusados.

Logo não havia mais nada a resolver. Sem ter com o que se ocupar, perdeu-se novamente em seu sofrimento.

As palavras o assombravam onde quer que fosse, o que quer que fizesse.

Se tivesse se comportado de uma maneira mais digna de um cavalheiro... O senhor é o último homem no mundo com quem eu me casaria...

Fez o que pode para esquecê-las, mas pareciam ter sido gravadas com ácido em sua mente. Ainda mais difícil de esquecer era a expressão de Elizabeth ao pronunciar tais palavras. Darcy observou o luxuoso ambiente. Grande, refinadamente decorado com móveis caros, e estantes que guardavam livros pertencentes a várias gerações. Mesmo com todas as contas e dívidas pagas, ainda possuíam muitos milhares de libras. E ele trocaria tudo isso por uma palavra gentil, um olhar de aprovação da mulher que ele amava, mas que não lhe retribuía o sentimento. 

A pilha de papel sobre sua mesa era uma muda testemunha do quão enfadonha e vazia era a sua vida. Na verdade, quando pensava nisso, podia perceber que os momentos mais excitantes de sua vida recente, quando se sentira mais vivo, ele passara na companhia de Elizabeth, conversando, dançando...

Apesar de todos os seus deveres e responsabilidades, Darcy ainda era jovem, inseguro no que se referia ao seu próprio coração. Ele era ‘experiente nas coisas do mundo’, como dissera Elizabeth, mas não havia vivido. Não sabia o que fazer – esquecê-la ou lembrar-se dela, amá-la ou odiá-la. Não sabia como separar problemas emocionais de sua vida diária – por isso chegara perto de ferir seu primo aquela manhã.

Queria poder conversar com alguém, se expor e deixar que, somente uma vez, os escudos criados ao seu redor caíssem. Mas na última vez fizera isso, fôra ferido e humilhado. Nunca novamente. Era um homem adulto e deveria lidar com seus próprios sentimentos! Darcy estava cansado. Por um momento chegou a invejar a indiferença de Wickham ao que os outros pensavam dele. Mas foi somente por um instante – ele se importava muito com o que os outros pensavam a seu respeito. Mais que tudo, ele queria que todos – especialmente Elizabeth – tivessem uma opinião favorável em relação a ele.

Seria verdade o que Elizabeth dissera sobre ele? Será que seus amigos o viam pela mesma perspectiva? Arrogante, presunçoso, com um desdém egoísta pelos sentimentos alheios? Darcy queria saber, mas temia perguntar, com medo das respostas que poderia ouvir.

O Outro Lado De Orgulho E PreconceitoOnde histórias criam vida. Descubra agora