O jantar de terça-feira
Na terça-feira, Darcy e Bingley chegaram pontualmente. A reunião em Longbourn contava com um número razoável de convidados, incluindo a sra. Long e os Goulding. Após os cumprimentos usuais à chegada dos cavalheiros, todos os convidados passaram à sala de jantar.
Darcy manteve-se atento ao amigo, curioso em saber se o amigo tomaria o lugar que lhe havia sido reservado em todas as festas anteriores, ao lado de Jane Bennet. Ao entrar na sala, Bingley pareceu hesitar, mas Jane olhou ao redor e lhe dirigiu um sorriso: estava decidido. Ele se sentou a seu lado.
Darcy manteve sua expressão de nobre indiferença que ocultava sua satisfação pelo amigo. Somente quando Bingley se voltou para ele com um sorriso alarmado, Darcy permitiu que seu contentamento se revelasse de modo que Bingley soubesse que ele sinceramente aprovava a situação.
O comportamento de Bingley durante todo o jantar demonstrou que sua admiração por ela não só não havia esvaecido, como se intensificara. Embora mais contida que anteriormente, essa conduta convenceu Darcy de que, se não houvesse interferência alheia, a felicidade de Bingley e de Jane logo estaria garantida. Darcy encontrara a prova que estivera procurando, de que Jane amava seu amigo e que agora respondia às atenções de seu amado.
Esta era, no entanto, toda a animação que seu estado de espírito lhe permitia, pois não se sentia alegre. Elizabeth sentara-se praticamente na outra ponta da mesa. Ele se sentara ao lado da sra. Bennet.
Darcy tinha pouca vontade de conversar com a mulher e era óbvio que ela se sentia da mesma forma. Eles mal se falaram e, quando o fizeram, o pouco que disseram foi expressado de maneira extremamente formal e fria. Ele tentou, uma vez, quebrar o gelo, comentando que as perdizes estavam excelentes, mas a concisa resposta por parte dela o desencorajou de novas tentativas de diálogo.
Talvez a única vantagem de sua localização na mesa fosse o fato de ter uma ampla visão de Elizabeth. Ele a fitava com freqüência, notando que ela parecia estar ligeiramente desapontada com alguma coisa. Mas com treze pares de olhos capazes de observar qualquer atividade de Darcy, ele não podia demorar seu olhar no objeto de seu amor.
Ao vê-la, não podia evitar a pontada de ciúmes que penetrava seu coração por saber que, embora ele a amasse de forma tão intensa, o coração dela pertencia a seu primo. No entanto, por mais que quisesse, não podia odiar Richard Fitzwilliam e Elizabeth. Só lhe restava assentir e aceitar.
Ao término do jantar, os cavalheiros, sr. Bennet, sr. Goulding, Bingley e Darcy se retiraram para a biblioteca. Enquanto Bingley e o sr. Goulding conversavam sobre os eventos ocorridos em Hertfordshire na ausência de Bingley, com o sr. Bennet acrescentando, vez por outra, seus próprios comentários, Darcy permaneceu calado a maior parte do tempo. Ele respondia a qualquer pergunta que lhe fosse dirigida, mas não iniciava qualquer conversação. Darcy se deu conta de que, desde sua chegada com Bingley a Hertfordshire, ela mal falara com Elizabeth. Não era de se surpreender, considerando-se seu estado emocional. Mas o fato de não poderem ser marido e mulher não significava que não pudessem ser amigos. Era-lhe muito difícil aceitar que não pudessem se sentir à vontade na companhia um do outro – talvez ele devesse mudar isso. Talvez. Ele tentaria conversar com ela quando se reunissem às damas na sala de estar.
Logo em seguida, os cavalheiros deixaram a biblioteca, encaminhando-se à sala de estar onde as mulheres se encontravam sentadas, envolvidas em seus assuntos. Bingley imediatamente procurou Jane e Darcy, inspirando profundamente, se dirigiu na direção de Elizabeth.
Infelizmente, as damas se agruparam ao redor da mesa onde a sra. Bennet servia o chá e Elizabeth, o café, e se dispuseram de tal forma que não havia espaço perto dela que admitisse uma cadeira. A coragem lhe faltando, Darcy hesitou, pois quando ele tentou se aproximar, uma das meninas acercou-se de Elizabeth, cochichando-lhe alguma coisa.
Rapidamente ele se afastou para outra parte da sala.
Para encobrir seu desconforto, ele pegou uma xícara de café e trocou algumas palavras com várias pessoas no salão, às vezes com Bingley, uma vez com Jane e uma ou outra vez com William Goulding, mas com a moça com quem tanto esperara conversar ele não pode falar. Furioso consigo mesmo por ser tão tolo, pensou:
Um homem que já foi rejeitado! Como pude ser tão bobo a ponto de esperar que ela me amasse? Haveria sequer uma mulher que mudasse sua maneira de pensar depois de declarar seu desagrado de modo tão incisivo?
Entretanto, por mais que ele fizesse a si mesmo tais reprimendas, não pode resistir à tentação de devolver sua xícara pessoalmente a Elizabeth. Ficou muito surpreso quando ela lhe indagou:
– Sua irmã ainda está em Pemberley?
– Sim, ficará lá até o Natal – ele respondeu.
– E está sozinha? Seus amigos já partiram? – pressionou Elizabeth.
– A sra. Annesley está com ela. Os outros foram passar estas três semanas em Scarborough.
Elizabeth não contestou. Feliz por Elizabeth ter perguntado sobre sua irmã, infeliz por ela não prosseguir com o diálogo, Darcy se manteve próximo a ela por alguns minutos, calado. No final, ao perceber a outra jovem sussurrando algo para Elizabeth novamente, ele se afastou.
Quando o serviço de chá foi recolhido e as mesas de jogos armadas, todas as damas se levantaram. Pensando em se juntar a Elizabeth, Darcy começou a caminhar em sua direção, mas foi repentinamente impedido pela sra. Bennet, cuja avidez por jogadores de uíste logo o forçou a se sentar junto aos outros do grupo. Agora ele perdera toda a esperança de prazer. Ansioso, ele olhava continuamente na direção de onde Elizabeth estava sentada. Com seus olhos vagando pela sala e sua atenção dispersa, Darcy acabou jogando muito mal.
A noite terminou logo depois. A carruagem de Darcy e Bingley foi chamada antes de todas as outras e eles se prepararam para ir embora. O desapontamento de Darcy em relação àquela noite foi, em parte, mitigada pela observação da despedida de Bingley e Jane. Distanciados do resto do grupo, os dois ficaram envolvidos em um fervoroso diálogo até que, por fim, Bingley percebeu que já era hora de partir. Após uma despedida cordial e muita insistência por parte da sra. Bennet para que repetissem a visita, os dois cavalheiros se foram.
Bingley mantinha sua habitual jovialidade, poupando seu taciturno amigo do peso de sustentar a conversa. Darcy sentia-se aliviado com isso, pois estava inquieto, tentando pensar na melhor maneira de contar a Bingley que seu melhor amigo arquitetara contra sua felicidade. Não sabia como Bingley reagiria.
Para dar a Bingley a liberdade de cortejar Jane – e permitir a si mesmo e ao amigo um tempo afastados após sua confissão – Darcy decidiu ir a Londres.
– Vou partir amanhã – disse em voz alta.
Bingley interrompeu o que estava dizendo e encarou Darcy.
– Por quê? Para onde?
– Não será por muito tempo, não mais que dez dias – Darcy lhe assegurou. – Eu preciso ir a Londres, resolver alguns negócios.
– Negócios? – inquiriu Bingley. – Não me lembro de nenhuma carta ter chegado para você aqui. Posso saber que negócios são esses?
– Nada muito importante, só algumas coisas que eu preciso fazer.
Bingley não se satisfez com a explicação, mas como Darcy não emitiu nenhuma outra palavra, teve que se contentar.
A razão para o silêncio de Darcy era, na verdade, medo. Medo de que a natureza normalmente afável de Bingley não fosse suficiente para que ele o perdoasse, e medo de que o episódio pudesse instaurar um certo distanciamento entre eles – ou até mesmo o fim da amizade.
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O Outro Lado De Orgulho E Preconceito
RandomUma fanfic fantástica para quem gosta do livro Orgulho e Preconceito de Jane Austen. A autora reescreveu o livro inteirinho sob o ponto de vista do Mr. Darcy. Tudo em Português/BR. --------------------------- Eu não sou a verdadeira escritora, so...