Capítulo 49

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Duas cartas

As lâminas se tocaram rapidamente e logo se apartaram outra vez, cantando. Baines assentiu em aprovação para seu oponente que apenas esboçou um sorriso.

– Muito bem, senhor – disse o mestre de esgrima. – Melhorou muito nestes últimos meses.

– Obrigado – respondeu Darcy. – Tenho tido muito em que pensar.

– Parece ter-lhe feito bem, há menos raiva em seus movimentos.

–É bom saber.

Darcy deixou o mestre de esgrima em seguida, mas não tinha pressa em ir para casa. Casa que, no momento, estava fria e vazia. Decidiu, então, caminhar até a mansão. Não era muito longe e o dia estava bonito.

Gostaria de saber como Bingley estava se saindo em sua corte a Jane. Teria dado tudo certo? Ele esperava sinceramente que sim. Mas se... quando Bingley ficasse noivo de Jane, Darcy veria Elizabeth com mais freqüência. Não se importava que isso acontecesse, mas seria doloroso vê-la. Não que fosse começar a evitá-la, claro que não, mas mesmo assim...

Percebeu que, na verdade, estava sendo bem covarde. Estava fugindo de todos que o tinham magoado ou pudessem magoá-lo. Primeiro deixara Netherfield imediatamente após confessar a Bingley o que havia feito, com medo de sua reação. E deixar Hertfordshire significava deixar Elizabeth, por medo do que pudesse acontecer. Ele a amava – tanto, que às vezes isso o assustava – mas não podia se esquecer que o maior perigo estava onde o coração estava. Um golpe emocional é mais profundo e doloroso que qualquer lesão física. E também de muito mais difícil cicatrização. Conseguiria suportar se ela ferisse seu coração novamente?

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Havia duas cartas esperando por ele em casa, uma delas vinda de Netherfield. Darcy se sentou à escrivaninha e abriu a primeira. Era de Georgiana, escrita há aproximadamente uma semana.

       Meu querido irmão,

       Escrevo-lhe com ótima disposição e espero que esta carta assim o encontre e ao sr. Bingley. Tudo corre muito bem aqui, embora algumas vezes eu anseie por algum acontecimento interessante que alivie a monotonia. Mas tais pensamentos são raros – A sra. Annesley é uma preceptora boa e paciente e uma boa companheira. Tenho tudo de que preciso, exceto sua companhia.

       A srta. Bingley e o sr. e a sra. Hurst partiram alguns dias atrás para Scarborough. Fiquei deveras surpresa nos dias entre a sua partida e a deles. A srta. Bingley esteve incomumente quieta e pensativa. Conversamos bastante e confesso que passei a gostar dela. Quando ela o sufocava de atenções ou quando se mostrava maldosa eu chegava a desgostar dela, mas agora, ah, você não acreditaria que é a mesma pessoa. Espero sinceramente que ela se case e seja feliz – acredito que ela tenha finalmente se desligado de você.

       O primo Richard nos escreveu. Diz que está outra vez de licença, desta vez por algumas semanas, e está em Londres no momento. Eu lhe disse que você foi a Hertfordshire com o sr. Bingley – espero por uma resposta desde então, embora eu acredite que logo você também deverá receber uma carta dele.

       Tenho receio de perguntar, mas o farei mesmo assim ou morrerei de curiosidade – você se encontrou com a srta. Bennet outra vez? Confesso que do contrário ficarei “extremamente desgostosa”, como tão eloqüentemente diz tia Catherine. Por favor, quando a vir novamente diga-lhe que mando lembranças – nunca me cansarei de dizer o quanto gosto dela.

       Sua, Georgiana.

Darcy releu a carta várias vezes sentindo toda sorte de emoções. Estava feliz por Georgiana estar bem, embora ao ler o primeiro parágrafo tenha percebido que sua irmã já estava “inquieta” e logo precisaria ser apresentada à sociedade.

A mudança da srta. Bingley lhe causara uma certa surpresa e alívio. Ele não quisera magoá-la, mas tampouco queria que continuasse a se comportar da forma que sempre o fizera em relação a ele. Talvez a mudança fosse mesmo para melhor e a srta. Bingley se mostrasse uma pessoa mais agradável.

Ao ser informado da presença do cel. Fitzwilliam em Londres ficou apreensivo. Não tinha certeza se gostaria de ver o primo, sabendo sobre os sentimentos de Elizabeth, mas ele sentia falta da companhia do coronel. Sempre fora uma pessoa com quem podia conversar e que o fazia enxergar tudo de maneira mais clara.

Cuidarei disso quando preciso for.

Quanto ao último parágrafo, bem... Sim, ele havia se encontrado com Elizabeth, mas pouco aproveitara da ocasião. No momento, Darcy não tinha pressa em voltar a Hertfordshire depois de dois dias longe, embora seu desejo fosse grande.

Alcançou a segunda carta e parou ao ver o selo – Lord Fitzwilliam Conde de Matlock.

Darcy respirou fundo e a abriu. Fora escrita naquela mesma manhã.

       Caro primo,

       É melhor que esta carta o encontre bem, ou ficarei “extremamente desgostoso”, como diz tia Catherine. Se este não for o caso, chegarei aí logo após esta carta e exigirei que você se alegre. Mas nas atuais circunstâncias, exijo apenas que você me explique o que faz em Londres ao invés de estar em Hertfordshire na companhia da srta. Bennet.

       No momento, estou na casa de meus pais em Londres, bem solitário. Hoje tenho alguns negócios a resolver, mas amanhã estarei livre. Talvez eu vá visitá-lo. Estou curioso para saber o que se passou em Pemberley – Georgiana me escreveu contando que a sua srta. Bennet lá esteve na mesma época que você.

       O sr. e a sra. Wickham já se estabeleceram com relativo conforto em Newcastle, como me disse o General _________. Confesso que li cada uma das cartas vindas da parte dele com certo receio, esperando saber se o patife havia causado algum problema. E esta é outra coisa que quero saber – o que fez com que você desse àquele homem tamanha soma em dinheiro e o mandasse para o norte?

       Temos muito o que conversar, primo, e o mais importante é sobre como você tem passado.

       Atenciosamente, etc.

A introdução da carta trouxe um sorriso ao rosto de Darcy. Sem dúvida, seu primo ainda se preocupava com seu estado emocional. 

Ele não sabe de nada.

A carta destruíra qualquer relutância que pudesse ter em ver o cel. Fitzwilliam. Sem demora se pôs a escrever-lhe uma resposta, convidando Fitzwilliam para ficar em sua casa enquanto estivesse em Londres. Já que tinham tanto o que conversar, não fazia sentido que ficassem em casas separadas. Darcy pediu a um criado que levasse a carta e recostou-se na cadeira.

Vai ser bom ver Fitzwilliam outra vez, disse a si mesmo. Não há razão para qualquer tipo de desavença...

Por mais que repetisse isso a si mesmo, não conseguia dissipar seus ciúmes.

O Outro Lado De Orgulho E PreconceitoOnde histórias criam vida. Descubra agora