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Ao chegarmos ao carro, preparo-me para abrir a porta, mas Harry impede-me segurando a minha mão, com a sua por cima da minha. Encaro-o por uns segundos e ele tem um ar muito sério e perturbado. Encosto-me ao carro e ele junta o seu corpo ao meu. Passo a minha mão pela sua face suavemente e inclino-me para a frente para plantar um beijo nos seus lábios rachados do frio. Quando me afasto novamente, ele segura a minha cintura e enterra a cabeça no meu pescoço beijando-o cuidadosamente. Os nossos lábios voltam a encontrar-se mais acelerados. A um certo ponto, a sua testa está encostada à minha e os seus olhos mantêm-se fechados.

- Violett.

- Hum?

- Não podes morrer. Não de cancro.

- Isso não é algo que eu possa controlar, Harry. As coisas acontecem. – Ele abre os olhos e segura as minhas mãos, mantendo-me ainda encostada a ele.

- Nós devíamos ir a uma clínica especializada fazer análises e tratamentos de prevenção.

- Não vou fazer isso. E além disso se fizer é sozinha, de todas as formas. Incluindo financeiramente.

- Nem pensar Violett. Se eu posso e quero ajudar, é o que vou fazer. Eu vou fazer isto contigo. Até porque agora estamos juntos.

- Estamos? – Sussurro.

- Não estamos?

- Eu não sei, Harry. Não sei o que tu queres.

- Eu também não sei o que quero, boneca. – Sorri desanuviando a tensão e imito-o.

- Tu és um pequeno pateta.

- Talvez. Mas tu até que gostas de mim, não é?

- Não. Nem um bocadinho. – Sorrio e coloco os meus braços apoiados nos seus ombros e entrelaçados atrás do pescoço.

- De certeza?

- Absoluta.

- E se eu te fizer mudar de ideias quando chegarmos a minha casa?

- Aí o caso pode, eventualmente, mudar de figura. Mas só se o serviço for muito bom mesmo.

- Vamos tratar disso então. – Rio alto quando sinto os seus dedos apertarem o meu rabo. O meu riso é quebrado com um beijo profundo. – Queres ir jantar com umas pessoas hoje?

- Quem?

- O meu padrinho e alguma família e amigos. – Sinto-me lisonjeada e surpreendida com o seu convite. Ele nunca fala da sua vida mais íntima e agora convidar-me para jantar com a sua família é um grande passo.

- Os teus pais?

- Não acho que alguma vez te contei; mas sou órfão. – O meu coração falha uma batida. – Fui criado pelo meu padrinho. Ele é uma ótima pessoa e tenho a certeza de que vai gostar muito de ti. – A sua frieza e, indiferença ao falar disto, deixa-me perplexa e com um glacial súbito no peito.

- Desculpa ter falado nisso, não fazia ideia...

- Não tem problema. Ias saber esta noite de qualquer das formas.

- E como é que... – Testo o terreno. Sei que é uma sorte ter-me dito isto, mas ainda assim tento arrancar mais qualquer coisa. A minha curiosidade é a minha ruína.

- A minha mãe tinha cancro da mama. – O meu estômago vazio revira-se e sinto a minha cabeça a latejar. – Mas não foi isso que a matou. Foi num acidente de carro.

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