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15:24 PM

Fecho a janela e encosto a minha testa ao vidro gelado e húmido. Sexta-feira está chuvosa, cinzenta e fria, diria até tempestuosa. A chuva bate com força na parede de vidro, mas apesar da sua resistência sinto que a mesma se vai quebrar quando um relâmpago atravessa a cidade de Nova Iorque, dou um passo para trás afastando-me. Nunca vira um tempo tão negro nesta cidade e já cá estou há uns anos. O escritório está praticamente vazio, pois hoje havia uma sessão de sensibilidade a favor de crianças órfãs, mas não tenho estômago para isso por isso fiquei de fora e decidi arranjar trabalho onde não existe para me tentar abstrair dos pequenos órfãos no piso de baixo. A Victoria está na Europa de visita à semana da moda de Londres e estas são semanas atarefadas para quem aqui trabalha, independentemente da área. Daqui a precisamente um mês, a peça de teatro da minha mãe vai estrear e lá vou estar eu na fila da frente para assistir à mulher da minha vida a representar a minha vida. Mais ou menos.

Mais um relâmpago é ouvido e afasto-me para a minha secretária novamente, tenho frio e quero vestir outro casaco, mas não trouxe nada mais para além deste casaco preto, que é quente, mas não o suficiente para o que sinto agora dentro de mim. Uma sensação arrebatadora e gelada. Vejo que já são três e meia da tarde e que posso sair para casa quando quiser pois o meu turno já terminou e ainda tenho a meia-baixa médica. Penso em ir comprar uma pizza e mais algumas porcarias para me ir esconder no meu sofá emaranhada em filmes e livros, mas de imediato perco a vontade. O David está fora da cidade, teve que ir visitar os pais, porque aparentemente o pai dele partiu o pé a jogar golfe. O que não faz muito sentido, diga-se de passagem. Ele vai estar todo o fim-de-semana fora e eu vou estar sozinha e livre de trabalho. Mas esta tempestade não é propensa a corridas, nem a passeios, muito menos a jantares de amigos em minha casa. Este tempo deixa-me melancólica e deprimida, cansada e indiferente.

Agarro nas minhas coisas e olho em redor uma última vez antes de me ir embora. Vou ficar encharcada com esta chuvada e sem guarda-chuva, vai ser lindo! O som do elevador a chegar ouve-se e quem eu jamais esperava ver sai dele com um ar muito descontraído, um fato elegante, as mãos nos bolsos e o cabelo despenteado, um ar cansado mas preocupado ao mesmo tempo. Ele é tão giro.

- Violett! Não sei se ainda se lembra de mim, sou o Louis, o amigo do Harry. – Aproxima-se e sorri-me antes de estender a sua mão, para que a aperte.

- Claro. É impossível esquecer a sua cara. – Respondo igualmente sorridente. – Eu já estou de saída, e a Victoria não está, mas se quiser deixar recado-

- Não, não. É consigo mesmo que quero falar.

- Comigo? – Assente e recuo um pouco, pouso a minha mala na secretária novamente e sento-me, ele senta-se num banco à minha frente. – Pode ser breve? É que é sexta-feira e não tenho paciência para aqui ficar durante muito mais tempo. – Ri-se e murmura algo que não percebo.

- Estou a pensar numa forma delicada de o dizer.

- Pode simplesmente dizer, os nova-iorquinos são rudes frequentemente, nada a que não esteja já habituada.

- Então o que se passa é o seguinte; O Harry está louco. – Encaro-o atentamente com a mão debaixo do queixo, em apoio. Espero que desenvolva, mas nada.

- E o que tenho eu a ver com isso?

- Lá está! A Violett tem tudo a ver com isto, porque é por sua causa. Não de uma forma depreciativa nem a estou a culpar, mas a verdade é que algo me leva a crer que o Harry está a desenvolver sintomas de depressão e, sejamos sinceros, se isso acontecer, é porque ele está no fundo do poço mesmo.

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