Acordei com um pulo, antes mesmo de abrir meus olhos. Minha respiração era forte e entrecortada, meu coração estava em um ritmo insanamente rápido e meus sentidos demoraram vários segundos para se estabilizarem.
Olhei ao redor. Estava sentada na cama e tudo em meu quarto se encontrava em estado perfeito e estranhamente normal. Meus olhos pararam ao avistar a estátua de sereia intacta em cima da comoda. Esfreguei meus olhos inúmeras vezes, revisando mentalmente os momentos anteriores a meu... Espera.
''Como diabos, eu cheguei até minha cama??'', pensei rapidamente. Minha cabeça borbulhava com perguntas das quais eu não conseguia encontrar respostas. Odiava o sentimento de derrota que se instalava em mim naquele momento.
__Anna, desça para comer!__O grito irritantemente fino e alto de Ashley cortou meus pensamentos, me fazendo acordar de vez para a realidade.
Decidi deixar toda esta loucura e questionamentos de lado e me concentrar em sobreviver mais um dia neste buraco.
Depois de tomar banho e me trocar, finalmente saí daquele quarto assustador. Já estava descendo a escada, quando algo do terceiro andar chamou minha atenção. Olhei para cima, meu coração disparando na mesma hora.
Acima de mim, me fitando com os braços apoiados no corrimão da escada, estava as gêmeas. Seu olhar revelava desaprovação, dureza e decepcionamento. Fiquei estranhamente tentada a descobrir o motivo daqueles olhos tão críticos, mas logo afastei este pensamento da cabeça.
Voltei a olhar para a frente, tornando a descer as escadas, um passo mais hesitante que o outro. Sentia seus olhares censuradores pesando sobre mim a cada degrau, até finalmente desaparecerem após eu virar o corredor em direção a cozinha.
Encontrei Ashely sentada a mesa com uma pilha de panquecas a frente, enquanto papai fazia mais, brincando com a frigideira.
__Olá, Bela Adormecida.__Fala papai, com um leve tom de raiva na voz, ao me ver.
Apenas sorri em resposta e me juntei a Ashely. A mesma permanecia com o olhar perdido nas panquecas, como se não tivesse ideia do que estava ocorrendo a seu redor. A cutuquei com o cotovelo, esperando que isso bastasse para acorda-la.
Ela voltou sua atenção para mim, os olhos estranhamente vazios e cansados. Era como se ela não me enxerga-se de fato, mas sim olha-se através de mim. O pensamento me causou calafrios.
Enquanto questionava mentalmente sobre o vazio de Ashley, algo em seus olhos me fez dar um pequeno salto na cadeira. Por um lapso momentâneo e extremamente rápido, um traço vermelho vivo brotou de dentro de seu pupilas e sumiu magicamente.
Meu rosto paralisou ao presenciar aquilo. Meus olhos percorriam cada centímetro dos de Ashley, procurando algo a mais para explicar aquilo. Então eu encontrei.
Bem no fundo de suas pupilas, quase que imperceptível, uma pequena fonte vermelha escuro brotava de seus olhos. Era como se algo desejasse se libertar de algum canto interno e escondido de sua alma. Meu coração parou.
Estava prestes a gritar com Ashley e perguntar o que diabos estava acontecendo, quando papai chamou minha atenção, perguntando se eu queria bacon para acompanhar meus ovos.
__Não, obrig...__ Me interrompi assim que me virei para ele.
Ali, em minha frente, sentada na cadeira e colocando uma colher de creme na boca, estava a gemea de olhos verdes. Ela me fitava com as sobrancelhas arqueadas, como se me desafiasse para algum jogo imaginário.
Não pude evitar o movimento instintivo de abrir minha boca em um ato de completa surpresa. Olhei para papai, que ainda fritava panquecas, nem notando a presença da gêmea de olhos azuis a seu lado, roubando uma dedada da sua massa.
__Feche a boca antes que entre mosquito, Anna.__Falou a gêmea de olhos verdes em minha frente, soltando uma risadinha aguda e fofa.
__Não seja tão malvada, Freya!__ Censurou a outra irmã, provocando outra risada da gêmea.
''Freya... É o nome da irmã malvada'' Lembrei a mim mesma em pensamento.
__Owwt, a doce e fofa Aurora, sempre salvando o dia...__Ironizou Freya, fazendo cara de pena.__Que lindo.
__Não queira me ver zangada, Freya.__Falou Aurora, tão seria e autoritária que mal a reconheci. Uma rápido, mas perceptível feição de medo passou pelo rosto da irmã, que logo se recompôs e voltou a sua expressão irônica habitual.
''Aurora e Freya... Pelo menos consegui uma resposta para as minhas milhares de perguntas'', pensei, em um falso e rápido entusiasmo.
__Anna, estamos ficando sem tempo... Resolva logo e volte antes que...__Ela se interrompeu, deixando o resto no ar. Ambas as irmãs abaixaram a cabeça em sinal de dor.
__Não é real... Nada disso é real...__Balbuciei, virando a cabeça repetidamente em sinal de negação.
__Ashley é real. E o que esta acontecendo com ela também.__Falou Freya, dando um sorrisinho cúmplice e malvado.
Olhei para Ashley instintivamente, a tempo de ve-la dar um sorrisinho para aquela silhueta ruiva irritante a minha frente.
__Não seja tão insensível, Freya...__ Falou Ashley, se virando para mim__ A Anna não aceita ser a vilã da história.__ Concluiu, abrindo um largo sorriso.
__O que diab...
__Não temos tempo para isso, Anna.__Aurora me interrompeu.__ Se não voltar logo, isso acontecerá.__ Concluiu, se virando na direção de papai, antes de sumir, com lágrimas nos olhos.
Olhei hesitante, na sua direção. Gritos saíram de minha boca antes mesmo de ver papai caindo no chão lentamente, sujando o balcão de sangue e fixando seus olhos em mim.
Vi, horrorizada, a vida se esvair de seus olhos. O último suspiro se soltar de seu nariz, finalmente livre após tanto tempo espremido. Observei sua mão se chocar contra o chão, fria e sem vida. Notei sua camiseta favorita agora encharcada de seu próprio sangue, graças a incontáveis feridas de bala.
irei a cabeça em direção a minha irmã mais nova, não querendo que a mesma presenciasse essa visão. Esse pensamento sumiu tão rápido da minha mente quanto um piscar de olhos.
Ashley segurava a espingarda de papai, mirando-a em minha testa. Seus olhos estavam fundos e de um vermelho tão nítido quanto as gotas de sangue em seu rosto.
__Adeus, Anna.
Foi a última coisa que ouvi antes da mesma atirar em mim e e eu mergulhar em uma escuridão profunda e interminável.
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A Princesa Vermelha
Roman pour AdolescentsEscuro, silencioso, assustador. Era assim que eu poderia descrever nosso novo ''lar''. Havia cheiro de mofo em todo lugar e, sinceramente, não sei como eles estavam conseguindo respirar com tanta facilidade. O cheiro chegava a ser sufocante. ...