Acordei com a luz do sol irritando meus olhos e uma voz familiar doce me chamando. Abri meus olhos com dificuldade devido a claridade e o que vi só me fez querer continuar inconsciente.
__Bom dia, princesa!__Aurora falou animada.
Ela trajava um uniforme de enfermeira e seus cabelos ruivos estavam presos em um rabo de cavalo. Seus olhos bicolores possuíam uma inocência quase cômica.
__Não, não, não. Vocês não são reais, isso é um sonho.__Sussurrei para mim mesma, tentando me convencer realmente disso.
__Ah, pelo amor de Deus.__ Freya apareceu em meu campo de visão. Seu uniforme era decorado com inúmeras correntes e estava tão colado em seu corpo, que por um minuto pensei que ele poderia se fundir com o mesmo.__Você sabe que é real, pare de ser tão estupida. É realmente uma pena voce só conseguir se lembrar caso...
__Shhh! Não estrague tudo! Tem que acontecer naturalmente...__Aurora interrompeu, se perdendo em seus pensamentos assim que concluiu a frase. Ela possuía um olhar tão sonhador que poderia afirmar que nele havia ao menos um risco de paixão.
Freya apenas revirou os olhos e os fixou em mim. Não sabia porque a mesma possuía tanto ódio por mim, mas algo em seu olhar vacilava no meio de tanta raiva. Um vislumbre de um passado distante, que por mais que a mesma queira apagar, tal objetivo está fora de seu alcance. Tentei decifrar aquele sentimento, e por cerca de alguns milésimos de segundos, flashs invadiram minha cabeça.
Eram tantas imagens sobrepostas umas as outras, tão confusas e disformes, que precisei fechar os olhos para me concentrar em cada uma. Consegui ver um palácio enorme e magnífico, exatamente igual ao qual eu havia visto em meu sonho.Mais para frente, vi a estranha morena conversando com a cópia fiel de Erik e por último vi Freya. Estávamos na floresta e ela sorria para mim enquanto eu corria atrás da mesma. Minha visão terminou quando caímos lado a lado na terra e Aurora começou a gritar.
__O que está fazendo?!__Aurora estava com os olhos repletos de ódio, e pude ver Freya morder o maxilar em sinal de medo da irmã.
__Não foi minha intenção, só... Aconteceu__A voz de Freya vacilava, e seus dedos tremiam levemente.
__Conversamos em casa.
Foi a última coisa que ouvi de Aurora antes das duas desaparecerem e me deixarem a mercê de meus próprios pensamentos, que se voltavam para a palavra ''Casa'' e do estranho sentimento que ela deixava em mim.
__Anna?
Quase pulei da cama ao ouvir meu nome. Me virei e notei uma enfermeira parada na porta com os olhos arregalados ao ver meu susto.
__Sim?__Perguntei, tentando acalmar as batidas do meu coração.
__Está na hora do lazer. Seu pai lhe trouxe algumas roupas hoje de manhã. Coloque-as e me siga, por favor.
Vesti uma calça legging rasgada da qual a existência eu nem sabia, um coturno e uma blusa um tanto larga. Meu pai poderia ser bom em muitas coisas, mas a escolha de roupas não era uma delas.
Terminei de me trocar, fiz minha higiene pessoal e segui a enfermeira que ainda me olhava espantada. A mesma me dirigiu para uma sala enorme, cheia de mesas e cadeiras ocupadas por em sua maioria idosos e alguns adolescentes, jogando animadamente seus jogos de tabuleiros.
Me sentei na primeira cadeira que avistei vazia, enquanto os olhares curiosos dos presentes pesavam sobre meu corpo. Dois irmãos gêmeos me encaravam e repetiam palavras, enquanto alguns idosos cochichavam ao meu redor e algumas meninas davam risadas insanas em minha direção.
Me levantei e deitei no sofá ao meu lado, fechando meus olhos e me imaginando no Havaí, quando vozes começaram a ecoar do corredor e se aproximaram da sala onde nos encontrávamos, causando um emaranhado de risadas e leves gritos de alegria, que logo se perdiam ao vento e se acabavam a conversas agradáveis e animadas. Não ousei abrir meus olhos, e a mínima vontade que eu ainda sentia só diminuiu quando pude distinguir a voz da pessoa responsável por tamanha tumulto. Não pode ser...
Sete bilhões de pessoas no mundo, cinco continentes, 195 países e ele tinha que estar bem aqui. Tantos hospícios para visitar, mas logicamente se tratando de mim, Erik tinha que escolher justamente este atraentíssimo sanatório.
Ouvi passos vindo em minha direção e levei minha mão aos olhos. Conhecia esse cheiro. ''Droga'', pensei.
__Não acredito.__ Sua voz denunciava um sorriso. A ironia presente em cada letra. A imagem de seus lábios se abrindo para revelar seus lindos dentes começou a se moldar em minha mente, me fazendo sorrir imediatamente. Desmanchei ambos no mesmo momento, infelizmente não o suficiente para passar despercebido por Erik.__Espera, isso foi um sorriso?
__Só nos seus sonhos.__Respondi, dando um leve sorriso irônico.__Esqueceu de tomar o remedinho?
__Resolvi dá-los para você. Acho que você está precisando mais.__O sarcasmo em sua voz foi quase sádico. Desmanchei meu sorriso na hora.__O que você quer, Erik?
O mesmo levantou minhas pernas, sentou-se no sofá e as pousou em seu colo, passando seus dedos sobre minha pele nua denunciada pelos rasgos de minha calça.
__Um bilhão de dólares.__ Ele respondeu, com um tom sonhador.
__Boa sorte com isso__Falei entre risos.
Ele riu um pouco, e logo voltou sua atenção para os rasgos em minha calça, esgueirando seus dedos para dentro da mesma. Um calafrio se espalhou pelo meu corpo, juntamente com um formigamento incessante.
__Erik, se mover mais um músculo, irei amputar seus dedos e enfiar um carregador de laptop na sua garganta.
O mesmo gargalhou por um longo tempo, um barulho tão contagiante quanto a risada de um bebe. Entrei na onda alguns segundos depois, e ficamos assim durante um longo tempo.
__Eu paro se você abrir os olhos.__Ele falou, ainda recuperando o folego.
Só então me dei conta de que ainda estava vendando meus olhos com minha mão. Dei um leve e quase imperceptível sorriso, e decidi entrar no jogo.
__Me obrigue.__Falei, o provocando.
Erik deu uma leve risada, pegou minhas pernas e as puxou, me arrastando pelo sofá, até minhas costas repousarem em seu colo e sua mão descansar em minha coxa. Tentei sufocar minha risada, o que foi uma tentativa completamente inútil.
__Então... Já se deu por vencida?__Erik perguntou, sua voz próxima de mim. Podia sentir seu hálito de menta se misturar com seu perfume perfeitamente doce. Uma mistura que me deixava extasiada e enjoada ao mesmo tempo.
__Jamais.__Respondi, tentando parecer forte, usando a ironia como minha única e até então eficiente arma.
Erik segurou meu pulso e o tirou de meus olhos, me fazendo abri-los imediatamente. Fixei meu olhar sobre os seus brilhantemente cínicos olhos azuis, que se aproximavam rapidamente. Seus lábios roçavam levemente sobre os meus, me fazendo desejá-los insanamente. Já havia fechado meus olhos quando senti Erik sorrir e se aproximar lentamente do meu ouvido.
__Até mais, Anna.
Ao dizer isso, Erik se levantou e saiu, me deixando travar sozinha a guerra que se iniciava dentro de mim.
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A Princesa Vermelha
Ficção AdolescenteEscuro, silencioso, assustador. Era assim que eu poderia descrever nosso novo ''lar''. Havia cheiro de mofo em todo lugar e, sinceramente, não sei como eles estavam conseguindo respirar com tanta facilidade. O cheiro chegava a ser sufocante. ...