Acordei da cama com um pulo. Olhei para os lados, assustada e cansada ao mesmo tempo. Deus, estava ficando cada vez mais exausto desses surtos psicóticos pré realidade. Olhei para o lado e encontrei a estátua de sereia em pedaços sobre o carpete branco perfeito. O mesmo refletia a luz do sol de uma maneira que fazia om que os mesmos se assemelhassem a cristais perambulando sobre nuvens fofinhas.
Passei a mão no cabelo, esfreguei os olhos e fui ao banheiro. Trinta minutos depois já havia escovado os dentes, tomado o banho e me encontrava agora diante do espelho, com meu cabelo ruivo amarrado em um coque e os olhos castanhos penetrando os mesmos refletidos no espelho. Observava as profundas olheiras abaixo de meus olhos, o cansaço que o mesmo apresentava, a magreza já além do padrão normal de meu corpo e a curvatura natural dos meus lábios para baixo.
Flashs da minha antiga vida passava pela minha cabeça enquanto me autoanalisava. Imagens da minha antiga escola, dos meus amigos, namorado, irmã... Todas iluminadas pelo meu constante sorriso e um brilho inimaginável nos olhos. Esperança, alegria, êxtase, liberdade... Era isso que eu esbanjava por onde passava. O que essa pessoa diria se me visse agora?
__Anna, vem tomar café!
A voz de papai interrompeu meus pensamentos. Sequei as lágrimas, coloquei um suéter velho, short e All Star. Me olhei pela ultima vez no espelho e repeti para mim mesma:
__Eu estou bem, tudo esta bem. Tudo esta perfeito.
Ignorei o traço vivido de de loucura que substituía, lentamente, o brilho natural que antes meus olhos transbordavam e saí.
Meu olhos foram atraídos instintivamente para cima no momento em que cheguei as escadas. Nenhum sinal de Freya ou Aurora. Suspirei, aliviada, colocando as mãos levemente sobre meus olhos. Tornei a descer as escadas. sentindo um sentimento de agradável se apoderar de mim a cada degrau.
__Olá, Bela Adormecida!__ Falou papai, se virando para mim, enquanto colocava a frigideira no forno.
As palavras entraram como lâminas em minha mente, dilacerando meu consciente, exterminando qualquer sentimento agradável em meu estomago e liberando a memória terrível do pesadelo da qual fui obrigada a viver.
De repente, me vi de novo naquele cenário assustador, vendo papai ser baleado inúmeras vezes, presa na cadeira sem poder fazer nada. Revivi seu último suspiro, sua mão fria ser chocada violentamente contra o chão. seu sangue se espalhando pelo chão...
__Anna?
A voz de papai me fez despertar de meu transe. O mesmo olhava para mim com uma preocupação eminente. Só então percebi que lágrimas rolavam sobre minhas bochechas rosadas e sardentas.
__Um cisco caiu no meu olho.__Falei, secando as gotículas de água que ousaram escapar de meu estoque e forçando um sorriso.__Então... Panquecas, né?
__Sim! Eu não faço panquecas desde...__Ele parou por um instante. Ele sempre ficava assim quando começava a falar sobre mamãe. Nunca nos contou o que realmente aconteceu com ela. Sempre que questionávamos ele dizia repetidamente: ''Porque ela fez isso?...''. Paramos de perguntar depois que lágrimas não bastaram para expulsar a dor de papai e ele começou a se cortar.__Enfim. Eu não faço panquecas já a muito tempo...
Me sentei na mesa e me servi de ovos e algumas tiras de bacon. Olhei para Ashley a meu lado. Meu pensamento se voltou instantaneamente para a feição que a mesma possuía em meu pesadelo, com a espingarda de papai apontando para mim, o sangue no rosto e seus olhos possuídos pelo fogo latente.
__Ta olhando o que?__ Perguntou Ashley, ríspida e convencida ao notar meus olhos observando a mesma.
Revirei os olhos e voltei minha atenção a comida. Ela continuava a mesma vaca de sempre. Antes mesmo do bacon maravilhosamente cheiroso de papai chegar a minha boca, o som estridente do telefone interrompe qualquer ato ou foco que estávamos ou poderíamos ter no momento. Tanto Ashley, como eu nos contorcemos com o barulho irritantemente alto.
Papai deu um pulo e correu para atender o telefone, com os olhos brilhando de ansiedade.
__Meu Deus, isso é ótimo!__ Dizia papai, extasiado demais para notar que nossos rostos foram substituídos por grandes, ansiosas e chamativas interrogações.
Depois de mais algumas exclamações de surpresa e vários agradecimentos, papai voltou para a cozinha com um sorriso tão largo que me peguei perguntando se sua boca não rasgaria com a agressividade que ele a esticava.
__Fala logo, pai! O que está acontecendo?__ Perguntou Ashley, enquanto jogava seus cabelos irritantemente sedosos para o lado de modo que alguns fios penicassem meus olhos.
__Vocês vão para a escola!!__Falou papai, arregalando os olhos e batendo palmas.
Pela primeira vez, eu e Ashley tivemos a mesmo reação diante dessa notícia... Mas quem disse que foram pelos mesmos motivos?
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A Princesa Vermelha
Novela JuvenilEscuro, silencioso, assustador. Era assim que eu poderia descrever nosso novo ''lar''. Havia cheiro de mofo em todo lugar e, sinceramente, não sei como eles estavam conseguindo respirar com tanta facilidade. O cheiro chegava a ser sufocante. ...