10.

761 53 12
                                    

Beatriz

Acordar na manhã seguinte à noite que tive com o Harry foi um dos meus piores pesadelos. Lembro-me de levar a mão ao espaço a meu lado e sentir um frio devido a este se encontrar livre de qualquer corpo. Abro os olhos e vejo-me sozinha naquele quarto. Olho me volta tentando encontrar algo que me dissesse que a noite não tinha sido um sonho, mas a única coisa que encontrei foi mesmo um vazio. Ele foi-se embora sem dizer nada. Cada vez que estamos juntos tudo nos faz parecer tão certo e tão errado. Nem um bilhete, mensagem ou telefonema. Simplesmente naquela manhã ele evaporou-se. Respirei fundo tentando esquecer a dor e mágoa que poderia estar a sentir e levantei-me para dar início a um novo dia.

Passaram dois dias e o Harry não deu sinais de vida. Pelo menos não diretamente. Sei que esteve a lanchar em casa da Anne e tanto a Emma como a Charlotte amaram ter o pai com elas. Já o Thomas optou por se manter à distância nesse lanche e mal trocou duas palavras com o Harry.

Hoje o Thomas decidiu que queria voltar à escola e assim deixei-o no colégio depois de deixar as minhas pequenas. Sei que ele está desconfortável com este regresso, mas acredito que lhe vai fazer bem.
Agora aqui estou eu a caminho da clínica. O Michael pediu para falar comigo e assim pedi-lhe para ela ir ter comigo. Se há algo que eu tenho saudades é de estar com os meus amigos e conversar com eles. Ultimamente tem sido tão intenso que mal tenho tempo para mim quanto mais para eles. Mal me sento no meu gabinete uma batida na porta é ouvida e pela porta entra o Michael.

- Bom dia Bia. – Fala sentando-se à minha frente.
- Bom dia Michael. – Respondo ligando o computador.
- Como estás?
- Bem. – Respondo engolindo em seco.
- Há quanto tempo trabalhas comigo? Dez anos? – Olho-o confusa. – Pois bem. Conheço-te há tempo suficiente para saber quando estás a mentir. E definitivamente estás a mentir.
- Eu estou a sufocar... - Falo olhando as minhas mãos.
- Alguma coisa com o Zarry? Com um dos miúdos? Ou será com o Harry? – Assim que ele diz o nome que ando a evitar o meu olhar ergue-se e prende-se nele.
- Estou cansada, Michael. Cansada de tentar amar alguém e ser forte. Cansada de ser mãe que os meus filhos querem e a mulher que todos esperam que eu seja. – Suspiro. – Esta situação entre mim e o Harry está a colocar-me doida, já para não falar nos problemas com os meus filhos. Todos os dias me pergunto onde eu errei. Onde errei para o Thomas ser quem é e para o Harry ter feito o que fez.
- Bia, não digas isso. Tu és uma ótima mãe e uma mulher extraordinária. Não te culpabilizes pelos erros dos outros.
- O Harry e eu dormimos juntos. – Falo prontamente.
- Como? – Pergunta surpreso.
- Sim. Ele estava carente e eu não sou de ferro. Aliás eu ainda o amo e muito. Mas depois ele nem estava lá quando acordei.
- Mas o que ele tem na cabeça? Não te condeno por teres estado com ele. Afinal tu ainda o amas e mesmo estando de for dá para ver que ele não te esqueceu.
- Então porque se enrolou com a Samantha?
- Samantha? Samantha Waters? – Fico confusa.
- Sei lá se ela é Waters. Por mim até podia ser o diabo a quatro que pouco me importa.
- Bia, sei que não gostas de falar sobre o assunto. Mas queres falar sobre o que se passou aquando da tua discussão com o Harry.
- Apenas eu tive mais uma vez ciúmes da Samantha. Já existiam semanas que eu via a maneira que ela olhava o Harry nas fotos e nas entrevistas e não estava a gostar. O Harry quando falámos disse que eu tinha de confiar nele e que eram coisas da minha cabeça. A discussão foi mais além e pela primeira vez tenho certezas que tanto as minhas palavras como as dele magoaram-nos ao extremo. Depois supostamente naquela noite foi quando ele dormiu com a Samantha e dois meses ou três ela reapareceu dizendo que estava grávida.
- Desculpa Bia, mas essa história tem pontas soltas. O Harry nunca colocou a ideia da Samantha estar a mentir?
- Olha Michael, o Harry não é nenhum santo e Darcy apenas existiu uma nas nossas vidas. Não acredito que alguém descesse tão baixo forjando uma gravidez.
- Tens razão, mas diz-me apenas mais uma coisa... A vossa zanga aconteceu quando exactamente?
- Inícios de Julho, porquê?
- Nada. Apenas para saber.

Just LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora