36.

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Edward

E cá estou eu de roda das minhas partituras. Isto não está fácil. A audição está cada vez mais próximo e eu garanto que o meu cérebro está quase a fritar com isso. O medo de errar e não conseguir uma das vagas está a consumir-me em demasia.
Olho as horas e quando me preparo para enviar uma mensagem ao Thomas, recebo uma de volta a dizer que estava a chegar. Sim, o Thomas também vai fazer a audição e garanto que se ele não entrar, o mundo só pode estar do avesso. Ainda pensamos os dois fazer uma dupla e essa hipótese não está de lado. A audição principal é a solo, mas poderá haver uma em grupo. Em relação ao Thomas, só não entendo porque ele não conta aos pais que vai participar. O tio Harry ia adorar saber que também o Thomas tem gosto pela música. Está bem que ele ainda tem alguma mágoa pela situação dos pais e sinceramente eu compreendo-o muito bem. Afinal também eu sou filho de pais separados. Queri ajudá-lo, mas não sei como. É que o casmurro do meu melhor amigo tem mais esqueletos no armário do que qualquer um possa pensar. Desde a situação dos pais, da Sophie que pelo que ele me disse anda estranha e terminando na "chatagem" do Stefan, a cabeça dele ainda não queimou de vez e eu ainda nem sei como.
Minutos depois vejo o Thomas entrar pela sala a dentro e sentar-se em frente ao piano.

- Desculpa o atraso. – Ele fala sem me olhar e mexendo nas suas pautas de música.
- Não tem mal... Mas está tudo bem?
- Vai ficar, eu espero. Vamos ensaiar? – Assinto e assim cada um de nós se concentra na música que vai tocar.

Ele começa a tocar os primeiros acordes e eu embalado nos meus próprios acordes dou por mim a seguir as suas pisadas. Só não esperava o que acontece a seguir quando a voz do Thomas se faz ouvir cantando enquanto toca. Prendo a respiração pois nunca ouvi o Thomas cantar. Quer dizer, ele cantava quando íamos aos concertos dos nossos pais, mas nunca o tinha ouvido ecoar desta forma. Sorrindo me lembrei de acompanhar com o violino a música que ecoa nesta sala. Pode não ser nada, mas estou a gostar de partilhar este momento com o meu melhor amigo. Quando ele termina...

- Para quem é?... Nunca te tinha ouvido cantar com tanto sentimento. Aliás, nunca te ouvi cantar e meu Deus... Tu tens uma voz incrível.
- Sabes quando somos crianças e sonhamos com o futuro? – Assinto tentando entender onde ele quer chegar. – Pois bem, eu também já fui criança e tive os meus sonhos. Ainda tenho. Sempre fui amado pela minha família e amigos, mas chega o momento em que eu os desiludi e nem sei como lhes pedir desculpa. – Vejo os seus olhos marejarem.
- Thomas, todos erramos. Mas temos de aprender com os erros.
- Eu sei, mas quando esses erros te fazem perder a confiança dos teus pais, do teu melhor amigo e até da tua namorada, o caso muda de figura.
- É para eles?
- O quê?
- A música que acabaste de cantar e tocar... É para eles? – Pergunto de forma suave pois sei que ele está frágil.
- Acho que nunca vou ter coragem de chegar perto de nenhum deles e pedir desculpa por tudo. Eu quero. Quero muito, mas tenho medo de os desiludir novamente.
- Eu sou o teu melhor amigo e estou aqui. E sou sincero quando digo que fizeste muita porcaria nos últimos tempos sim, mas eu já te desculpei. – Ele eleva o rosto para mim. – Desculpei no dia em que a minha irmã chegou a casa com o maior sorriso de apaixonada dizendo que o rapaz que ela gosta finalmente decidiu admitir que ela é especial. – Ele sorri. – Desculpei no dia em que te vi chorar a saída do teu pai de casa e no dia em que enfrentaste o meu pai quando a tua mãe esteve no hospital. Tu és um rapaz como qualquer outro. Mas a diferença é que tu erraste, sabes disso e queres o perdão.
- E se todas essas pessoas não me perdoarem?
- Eu perdoei, a minha irmã perdoa por isso acho que neste momento a música se encaixa apenas nos teus pais.
- Não sei...
- Tive uma ideia. Porque não a tocamos na audição? – Solto a ideia.
- O quê?! Tu estás maluco? Eu não quero passar vergonhas. Ainda não arranjei coragem para contar aos meus pais que vou fazer a audição quanto mais cantar uma música para eles.
- Porque não? Thomas pensa bem. Tu queres enterrar os teus erros e nada melhor que audição para isso. – Noto-o pensar.
- Só se me ajudares a escrever a história dos meus pais nestas partituras. – Ele sorri ligeiramente.
- É claro que ajudo. Afinal quem não quer ver o amor dos Styles impressa na música.

Just LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora