27.

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Beatriz

Está tudo tão confuso na minha cabeça. Hoje de manhã quando acordei e vi que ele não se tinha ido embora senti um misto de emoções. Eu amo o Harry mais que tudo, mas estou magoada com as atitudes dele. Este homem sempre foi complicado e eu cheguei a descomplicá-lo em tempos, mas agora já não sei mais nada. Sempre tivemos as nossas zangas como qualquer casal e sempre conseguimos conversar, mas desde aquela maldita discussão e da situação da Samantha que nada foi e é igual. Tenho saudades do Harry. Do meu Harry. Ele está estranho desde que me trouxe a casa vinda do hospital. Estranho de uma maneira boa, pois tenta ao máximo falar com calma e nota-se que pensa antes de escolher as palavras que vai dizer. Está atencioso e não deixa nenhum pormenor de lado em relação a tudo à sua volta. Notei que as nossas filhas estão meio reticentes em relação a ele e quanto ao Thomas... Bom o Thomas evita falar com o pai a todo o instante. Sei que o regresso do Harry traz algo mais. Sei que eu e ele precisamos ter uma conversa. Mas vou ser sincera e dizer que tenho medo das respostas que vou obter.

Olho pela janela e posso ver lá fora a chuva cair. Este som deixa-me calma e transmite alguma paz e silencio. Estou a ser contraditória, mas o silêncio quebrado pela chuva é a única coisa em que me deixo levar agora.
Sinto uma presença atrás de mim e viro-me deparando-me com o Harry e uma bandeja com o que presumo ser o meu almoço.

- Aqui tens o teu almoço. – Fala pousando o tabuleiro na secretária.
- Não precisas de ter trazido. Eu descia para almoçar com vocês. – Disse sentando-me na cadeira e partindo um pouco do pão.
- Eu sei que podias. Mas como precisas de descansar, pensei que aqui estavas melhor.
- Obrigada.
- Volto quando terminares.

A frieza dele está dar comigo em doida. Isto se puder de chamar frieza. Só que este silêncio está a deixar-me inquieta.
Vejo-o virar costas e abrir a porta, mas a minha voz impede-o de sair...

- Fica. – Digo olhando nos seus olhos tristes, mas com algum brilho ainda escondido. – Faz-me companhia.

Soltando um longo suspiro ele anda até ao pequeno sofá que temos no quarto e senta-se. Reparo que ele quer falar, mas não sabe como. Assim opto eu por quebrar o silêncio...

- Fala comigo por favor. – Peço enquanto como.
- Tens a certeza que estás preparada para a nossa conversa? – Questiona com reticência.
- Alguma hora vamos ter de falar.
- As nossas meninas estão com a Inês e o Niall e o Thomas saiu com a Sophie e o Ed. Acho que estamos mesmo sozinhos para conversar.

Assinto e pousando os talheres no tabuleiro e andando até ao sofá onde o Harry está sentado e sentando-me a seu lado.

Harry

Agora é tudo ou nada. O silêncio incomoda ligeiramente para não dizer bastante. Ter a Bia a meu lado e não saber como quebrar o silêncio está a dar comigo em doido. Mesmo que o silêncio dure a apenas não mais que dois minutos.
Encosto-me no sofá fechando os olhos e respirando fundo. Posso sentir o nervosismo da mulher que tenho a meu lado e a sua respiração é meio intranquila e suave ao mesmo tempo. Oiço ela mexer-se e abro os olhos virando para ela e observando que ela se encolheu ligeiramente olhando a janela e vendo que faz frio lá fora. Muito talvez pelo vento que se faz ver correndo pelas árvores. O seu olhar encontra o meu e finalmente ela pronuncia uma pergunta...

- Porquê?

A única pergunta que ela faz e me deixa meio desconcertante de a ouvir. Engulo em seco e olhando-a profundamente decido finalmente responder.

- Precisava de respostas ao que realmente se passou na noite em que discutimos pelo telefone.
- E o que se passou naquela noite? Harry tu traíste-me e isso tu mesmo assumiste. Tanto que vais ter um filho com a Samantha.
- Não. O filho da Samantha nasceu na semana passada e ele não é meu filho. – Noto confusão no que acaba de ouvir. – Eu fui drogado naquela noite....
- Que estás a dizer? Por favor isto não é nenhuma brincadeira pois não?
- Deixa-me falar até o fim e depois decides o que queres fazer. – Ela assente. – Naquela festa o Michael estava presente e tirou umas fotos com o Alex e alguns dos convidados da festa. Na semana em que tu fizeste anos, ele mostrou-me essas fotos e algo nelas estava evidente. Uma pessoa era vista junto da mesa das bebidas com um saquinho na mão. Era algo que parecia um pacote de açúcar. Numa das fotografias essa empregada era mesmo vista a colocar isso num dos copos. Mas a sequência de fotos não ficou por aqui, porque de seguida a Samantha é vista pegando num copo. Essas fotografias foram o suficiente para eu ficar desconfiado de algo e começar a investigar o que se tinha passado. Lembro de ter discutido contigo e ter bebido bastante. Sei que a Samantha que trouxe uma bebida e eu estava mesmo furioso contigo e com toda a situação. Não entendia como tu poderias desconfiar de mim. Sei que dancei a noite toda, mesmo eu não sendo de dançar. O Liam ainda me tentou arrastar para o quarto mais cedo, mas eu recusei sempre. Quando regressei ao quarto já mais bêbedo que o normal recordo que encontrei alguém conhecido e esse alguém me encaminhou para outro quarto dizendo que o meu estava com problemas. Entrei no tal quarto e deitei na cama demasiado sonolento para até ir tomar banho ou tirar a roupa. Com esforço lá me levantei e despi a roupa deixando-me ficar apenas de bóxeres. Não sei quanto tempo levei a apagar pois não tinha noção de nada. Na manhã seguinte quando acordei tinha a Samantha deitada a meu lado e completamente nua. Levantei-me aflito e vestindo a minha roupa atrapalhadamente corri para fora do quarto onde dou de caras com o Michael e o Liam. Andavam à minha procura. Viram a Samantha sair do mesmo quarto onde eu tinha estado antes e a cara que fizeram não foi boa.
- Mas se tu não te lembras de nada como tens certezas de que apagaste mesmo e não dormiste com ela?
- O Michael quando me mostrou as fotos disse que mais tarde nessa manhã viu a Samantha com uma tal de Georgina, empregada do hotel e lhe deu um envelope. Eu fui atrás dessa empregada para saber a verdade.
- Estiveste em Chicago este tempo todo? – Assinto.
- Não queria ter ido, mas na manhã da véspera de Natal a Samantha voltou a dizer que aconteceria algo aos nossos filhos se eu não me afastasse de ti de vez.
- E essa Georgina? Como a encontraste?
- Hospedei-me no mesmo hotel daquela vez e através da fotografia encontrei-a. Ela estava reticente em falar comigo pois a Samantha fez a sua chantagem barata com ela. Quando ela decidiu falar foi um choque saber se tudo o que a Samantha fez.
- Mas e o irmão da Samantha?
- Foi outro coitado que foi engando pela irmã e pelo cunhado.
- Cunhado? Mas...
- É tudo tão confuso...
- Eu sei. Senti o mesmo quando soube de tudo. Mas eu posso provar o que estou a dizer. A Georgina veio comigo para falar contigo. Quando quiseres eu trago-a cá para confimar tudo e tu perguntares o que quiseres.
- Não sei que pensar...
- E eu também tenho as minhas perguntas – Ela assente. – O que se passou com a Emma?

Beatriz

Tanta informação para assimilar. Eu sabia que existiam coisas que não batiam certo nesta história, mas nunca pensei que tudo não passasse de uma mentira e armadilha. Ainda processando as informações, o Harry pergunta pela Emma. A minha Emma. A minha pequena que nem sei como pode estar a cabeça dela depois de tudo.
Contei ao Harry tudo o que o professor de história fez e como a Emma se sentiu quando me viu. Contei também o que se passou na escola com a diretora e a reunião que tivemos.

- E eu estava tão embrulhado nos meus problemas que esqueci que tenho três filhos. Eu deveria ter cá estado para eles.
- Mas não estiveste. – Solto as palavras mesmo sabendo que não foi a melhor maneira de o dizer e que o posso magoar.
- Bia, eu sei que errei, mas não quero errar mais com eles. Estou cansado. Sei que estive longe de vocês, mas deixa-me estar perto novamente. – O seu tom era de súplica. – Não preciso que me perdoes. Apenas quero estar por perto. – Lágrimas naqueles olhos verdes são visíveis e isso corta-me o coração. – Por favor Bia. A Emma, a Lottie mal falaram comigo ontem e eu apenas as quero felizes. Já o Thomas... Por favor... Deixa-me ficar perto deles, mesmo estando longe de ti. – Ele limpa as lágrimas rapidamente.

Ao fim de tantos anos, volto a ver um Harry frágil e com medo. A última vez que o vi assim foi quando nos conhecemos e ele era aquele rapaz frio, mas muito doce e com medo. Medo de não ser o suficiente para a família. Ele sempre foi o suficiente e no fundo ele tem medo de errar. Ele tem noção que errou e não gosto de o ver desta maneira. Ele sempre foi um bom namorado, marido, pai e sobretudo amigo.

- Desculpa se não fui o suficiente para ti e para os nossos filhos. Mas eu estou cansado. Cansado de tentar remediar erros que me levam a afastar de vocês. – Limpa as lágrimas e levanta-se virando costas.

Na cabeça dele deve estar tudo uma confusão. Ainda pior daquilo que eu possa estar a sentir ou a pensar. Mas mesmo magoada com tudo eu não consigo deixá-lo só. Eu amo o Harry com todas as minhas forças e quero tê-lo perto de mim, mesmo que longe ao mesmo tempo.
Levanto-me e agarro o seu braço virando-o e abraçando-o fortemente. É um abraço como há muito eu queria ter. Oiço os seus soluços e eu própria me dou conta que também choro.

- Não vás embora. Não hoje. Não amanhã. Fica connosco. Nós precisamos de ti...

Desfaço o abraço, mas ainda perdida nos seus braços olho-o e limpo as poucas lágrimas que ainda correm no seu rosto. Ele meio que sorri e deposita um beijo na minha testa.

- Obrigado. Não sabes o quão importante é para mim ficar, mesmo que longe.

As suas palavras fizeram-me sorrir e eu apenas o abracei novamente. Esta era a etapa e o capitulo que eu queria ultrapassar na minha vida. Respirei aquele perfume que tanto amo e apenas me dou conta de ser elevada e por fim deitada na cama.

- Descansa. O médico pediu que não te esforçasses. – Sorri para mim e entrelaça os dedos nos meus, deitando-se a meu lado. Pego na sua outra mão livre e levo-a até ao meu ventre.
- Não te afastes de nós.
- Jamais o voltarei a fazer. Vocês são tudo para mim. Agora descansa que bem precisas. E tu mini eu, - fala para a minha barriga -, nunca esqueças que aqui o pai te ama muito. Tal como ama todos os teus irmãos e a tua mãe.

O meucoração bate forte ao ouvir a palavras do Harry. "Amo-te" é algo que quandodito por ele ainda me deixa de pernas bambas e com borboletas no estomago.
Posso ainda não ter a coragem suficiente para lhe responder as palavrinhasmágicas, mas só se saber que sentimos o mesmo fico muito mais aliviada.
A nossa conversa sobre a Samantha e tudo o que envolve a minha situação com oHarry não está totalmente resolvida, mas está um passo de ser enterradacompletamente.
Embrulhada nos meus pensamentos e com o Harry fazendo alguns carinhos nasminhas costas, me deixo levar pelo cansaço.    

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