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Thomas

Confesso que muitas vezes pensei que não chegaria a este dia. Depois de tantos ensaios, tantos medos e tantas inseguranças, aqui estou eu prestes a entrar naquele palco e enfrentar um público. Vou fazer uma atuação que pode mudar a minha vida daqui para frente caso eu consiga passar.
É óbvio que gostava de ter a minha família aqui comigo, principalmente os meus pais e as minhas irmãs. Cada vez que penso que não lhes contei nada, sinto-me burro, pois acho que fui abandonado aos leões, mas a culpa é exclusivamente minha. Se eu não fosse tão problemático não estava aqui sozinho. É nestas coisas que não posso negar de quem sou filho. Segundo os meus avós também os meus pais tiveram as inseguranças deles. O problema é que ao contrário deles eu apenas contei ao meu melhor amigo e à minha namorada o que vai acontecer. Namorada essa que eu nem sei se ainda é ou não. A Sophie anda tão indecifrável que já nem eu sei em que ponto está a nossa relação. Nos últimos dias a única coisa que soube sobre ela foi que está a viver com a mãe pois a relação com o tio Louis está cada vez pior. Ela diz que eu nunca a soube compreender, mas no fundo não fui só eu que falhei. Vezes e vezes sem conta eu tentei falar com ela aquando do divórcio dos pais e elea nunca me deixou falar com ela. Tudo o que soube foi através do Ed.
Ed que também anda estranho desde o regresso da Anna. Caramba será que a minha amizade com a Anna sempre foi assim tão mal vista e eu nunca dei conta.
Olho o relógio da parede através do espelho que tenho à minha frente e vejo que faltam menos de dez minutos para a minha audição. Não sei se choro ou rio, mas os nervos nem me deixam pensar em condições.
Sinto uma presença atrás de mim e quando me viro deparo-me com a Sophie.

- Que estás aqui a fazer? – Pergunto meio estupefacto de ela estar aqui. – Não devias estar aqui.
- Desculpa, mas vim apenas desejar boa sorte e entregar-te isto. – Passa-me umas folhas de papel para a mão e olho-as incrédulo.
- Mas... Mas isto é... Como?...
- Eu guardei-as desde aquele dia.
- Sophie, esta letra tem mais de cinco anos e eu nunca mais a consegui encontrar. Porquê agora?
- Achas que a consegues tocar?
- Não tenho coragem.
- Por favor. Toca-a e te garanto que não te arrependerás.
- Onde queres chegar?
- Faz apenas o que te peço. – Sai da sala, mas não sem antes me deixar um beijo suave nos lábios.

Olho para as folhas mais uma vez e nem quero acreditar que esta letras e estas partituras sempre tiveram coma Sophie. Não sei, que fazer e estou tão confuso. Esta miúda deixa-me confuso e cada vez mais perdido.
Bom e agora é a minha hora. Penso assim que vejo o Ed parado na porta dando sinal que era esta a minha vez de atuar.

A medo entro no palco e sento-me em frente ao piano respirando fundo. Está tudo escuro à minha volta e olhando as notas à minha frente começo a tocar livremente como se nunca na vida tivesse feito outra coisa. Fecho os olhos e deixo-me levar para outra dimensão. Muitas coisas me passam pela cabeça, entre elas memórias de quando eu era criança e era feliz. Não que não o seja agora, mas quando era miúdo não tinha um terço dos problemas que tenho agora. Lembro de chegar a casa da escola e ter o meu pai à espera para jugar comigo à bola ou simplesmente brincar comigo ou ver um filme. Lembro o meu aniversário de seis anos quando a minha mãe contou que eu iria ser irmão mais velho. Fiquei tão feliz que corri pela casa toda contando a novidade a todos.
Quando as minha pequenas nasceram simplesmente decidi o nome de cada um apenas olhando para elas. Acho que os meus pais não estavam à espera que eu o fizesse, mas ali o irmão era eu. Lembro o dia em que comecei a afastar-me das gémeas sem mesmo eu saber. Arrependo-me de tanta coisa que se voltasse atrás faria tudo para ninguém à minha volta sofrer com os meus erros. Eu só pedia que todos eles me perdoassem de alguma forma.

Atrevo-me a abrir os olhos e olhando de relance para a plateia enquanto toco não acredito no que vejo. Tocando as últimas notas olho com mais intensidade e posso ver os meus pais e as minhas irmãs na primeira fila.
Depois da ultima nota, o som dos aplausos se faz ouvir e estou tão confuso com tudo à minha volta. Posso ver o sorriso das minhas irmãs e os olhos da minha mãe brilhantes. O meu pai está com uma expressão serena e não sei se isso é bom ou mau.
O pano cai e eu corro o mais depressa que consigo dali para fora.

- Thomas... - Oiço o Ed chamar. – Deixaste todos preocupados quando saíste dali a correr. Está tudo bem? – pergunta olhando-me confuso.
- Eles estavam lá. – A minha voz soa baixo.
- Eu vi... Eles estavam tão felizes. Devem estar orgulhosos de ti.
- Não sei... Não sei como eles souberam.
- Ei... Não olhes para mim que eu estou inocente.
- Então?
- Thomas, seja como for que eles souberam que estarias aqui, o importante é que eles estiveram do teu lado. – Fala sorrindo.
- Ed, estás disposto a uma loucura? – Pergunto ansioso.
- Vais fazer o que estou a pensar?
- Desde que seja esta a que vamos tocar. – Entrego-lhe as folhas que a Sophie me tinhas entregue quando veio ter comigo.
- Este sim é o Thomas que conheço. – Diz olhando para as folhas e de seguida para mim.

Corremos os dois para fora da sala e rezando para encontrar a nossa professora de música e contar a minha ideia.
Só espero que dê certo. Aliás tem de dar certo.



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Olá Lover's :)

Bom este capítulo estava enguiçado. Como disse no capítulo anterior eu tinha divido em dois pois precisava de deixar a nota anterior.
Demorou, mas cá está o que eu queria ter colocado no capítulo anterior, mas não me foi possível.
Quanto ao próximo já estou a tratar dele e só vos peço um pouco de paciência que neste momento ainda me estou a habituar à nova rotina de horários nocturnos de trabalho com a escrita.

Até ao próximo :)

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