29.

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Harry

Acordo sobressaltado e custa um pouco a assimilar onde estou. Respiro fundo e ao sentir alguém a meu lado, sorrio ao ver a Bia adormecida. O facto de ela me pedir para dormir com ela pode não ter grande significado, mas para mim é algo que significa muito. Eu amo esta mulher com tudo o que tenho e dói olhar para trás e ver que magoei tanto.
O relógio marca três e vinte da madrugada. Levanto-me vestindo um t-shirt e uma calções velhos que ainda estavam no roupeiro junto com as coisas da Bia e vou beber um copo de água. Ao passar na sala em direção à cozinha oiço uns pequenos soluços vindos do sofá. Ao me aproximar vejo a Emma encolhida e na companhia do Zarry. Aproximo-me devagar para não a assustar.

- Ei... Ems... - Falo suavemente chamando por ela.
- Pai... - A sua voz sai fraca devido ao choro.
- Que se passa? – Pergunto sentando-me a seu lado e tentando aproximar-me dela. Coisa que desde que regressei tem ido impossível. Não sei se por medo de rejeição da sua parte ou simplesmente porque não sei como fazê-lo.
- Pensei que tivesses ido embora. – Diz limpando as lágrimas e abraçando-me.
- Embora? – Ela assente.
- Acordei e vi a porta do teu quarto aberta. Como não te vi pensei que tivesses ido embora. – Aperta-me mais para ela.
- Oh meu amor. Eu estava com a mãe. – Ela olha-me assim que ouve a palavra mãe e sorri.
- Estavas? – Assinto e o seu sorriso volta a aparecer. E garanto que o sorriso dela é tão bonito quanto o da mãe ou dos irmãos. Não sei como alguma vez pude deixar este sorriso esmorecer.
- Eu prometo que não vou embora.
- Mas já foste e quando... quando... Não estavas cá... - Ela encolhe-se nos meus braços e automaticamente sei do que ela fala. Odeio-me por não ter cá estado quando ela mais precisou.
- Desculpa... O pai promete que agora vai ser diferente. – Deixo um beijo na tua testa enquanto ela brinca com a bainha da minha t-shirt. – E se fossemos beber um chocolate quente como fazíamos antes? – Questiono colocando uma mecha do seu cabelo no sítio.
- E podemos comer biscoitos? – Pergunta com um sorriso.
- Que venham os biscoitos e o chocolate quente. E tu Zarry vens connosco.

Levanto-me pegando na Emma ao colo e sigo em direção à cozinha. Tento não fazer barulho para não acordar ninguém, mas a risada da Emma faz ouvir e eu próprio reprimo a vontade que tenho de gritar ao mundo que adoro a risada de cada um dos meus filhos.
Preparo as canecas e o chocolate enquanto a minha pequena coloca o prato com os biscoitos na mesa. Quando nos preparamos para sentar, a porta abre-se mostrando uma Charlotte meio assustada.

- Emma... Foi aqui que te meteste? – Abraça a irmã.
- Lottie, eu... Desculpa, não te queria assustar. – Retribui o abraço.
- Quando me disseste que o pai não estava no quarto eu ainda estava meio a dormir. Depois acordo e não te vejo. Fiquei com medo. – A voz da Lottie é baixa.
- Mas eu não fui embora, nem vou. – Digo em direção às duas ao que elas me olham sorridentes.
- Prometes? – A Lottie olha nos meus olhos.
- Prometo. – Sorrio ao ver o ar de aliviado de cada uma das minhas filhas. – Agora vamos beber o nosso chocolate quente e comer os biscoitos. – Digo enquanto preparo uma caneca para a Lottie.

No meio de muita algumas risadas e conversa sobre as saudades do chocolate quente e da maneira como a Bia iria ficar chateada por termos comido os biscoitos preferidos dela, comemos e bebemos o nosso mini piquenique.

Vendo que passa das quatro da manhã, coloco as canecas para lavar e tapo os biscoitos, dizendo às pequenas que está na hora de ir dormir.
Sigo-as até ao quarto delas, ainda meio confuso por ambas voltarem a dormir no mesmo quarto. Aconchego-as e deixo um beijo na testa de cada uma e saio do quarto. Mas não sem antes prometer mais uma vez que não vou embora e que de manhã eu estarei aqui em casa como sempre deveria ter estado. Antes de fechar a porta ainda vejo o Zarry esgueirar-se para o tapete junto à cama da Emma.
Faço o caminho até ao quarto onde deixei a Bia a dormir e vejo que ela se encontra da mesma forma que a deixei. Sorrio e tiro a camisola e os calções, deitando-me a seu lado como horas antes o tinha feito.
Sinto-a virar-se aconchegando-se nos meus braços e eu prontamente que a recebo sentido a paz que este gesto me transmite. Esta situação faz-me recordar a declaração que lhe fiz quando fomos acampar e no dia em que a pedi em namoro. Lembro de todas as palavras que lhe disse assim como lembro a maneira como ela me respondeu a cada frase que eu lhe disse.
Sinto saudades desse casal que fomos e penso se algum dia o poderemos voltar a ser. Sei que ela está muito magoada comigo e com razão, mesmo eu não tendo culpa e já ela sabendo a verdade. Sei que há qualquer coisa que a impede de se entregar a mim e ao nosso amor novamente. Mas eu no lugar dela faria o mesmo. Foram muitas atitudes erradas, discussões e palavras ditas no calor do momento. Em todos estes anos de convivência apenas uma discussão supera esta que tivemos. A vez em que deixei a Darcy intrometer-se entre nós. A insegurança da Bia tinha um fundamento e só eu não queria ver. Foi preciso vê-la distante de mim naqueles dias para eu perceber o quão perto eu queria e quero ficar desta mulher. Porque tudo para mim tem de ser difícil e constantemente posto à prova? Esta é a pergunta à qual eu não tenho resposta concreta. Apenas sei que todos os obstáculos pelos quais passei com a Bia a meu lado me fizeram crescer e aprender que sem confiança e amor eu estou completamente perdido. Não preciso ser rico para ter o amor e confiança da minha família. Não sei quanto tempo vou levar para reconquistar cada um deles, mas eu vou conseguir.
Embrulhado nos meus pensamentos e fazendo pequenos círculos suaves nas costas da Bia, me deixo levar pelo sono.

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