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Harry

Confesso que quando recebi a mensagem da Bia para ir lá a casa me surpreendi. Fiquei ainda mais surpreso de saber o motivo da minha visita. O Thomas querer saber da minha história com a mãe e da dele próprio deixa-me um pouco feliz, mas receoso. Não quero de todo que ele me culpe pela perda do possível irmão ou irmã que podia vir a ter. Está certo que naquela altura eu me culpei e ainda hoje posso dizer que vivo um pouco com essa culpa. Mas lá está, o "se" é das palavras com mais significado no dicionário.
Estava na companhia do Louis quando recebi a mensagem e ele desejou-me toda a sorte na conversa. E vou mesmo precisar. Tenho noção que tudo o que eu possa dizer ao Thomas possa ser levado de má interpretação. A minha relação está tão complicada com ele que não sei se alguma vez pode ser recuperada e voltar a ser o que era.

Estaciono ao lado do carro da Bi, no lugar habitual e é engraçado ver que mesmo não estando a viver nesta casa o lugar do meu carro continua disponível. Lembro da Bia dizer vezes sem conta que não gostava do lugar do carro dela, mesmo que fosse mais perto do portão. Nesse dia escusado será dizer que a nossa pequena briga terminou connosco na cama e bem abraçados por assim dizer. Tínhamos discussões tão estupidas. Mas isso sempre foi o nosso melhor. Podíamos discutir vezes sem conta durante o dia, mas raramente íamos para a cama de costas voltadas. Das poucas vezes que isso aconteceu existe uma que me marca. A da época em que a Darcy se intrometeu entre nós. Claro que depois de casados também tivemos as nossas discussões e muito por causa dos nossos ciúmes mútuos. Mas não tenho culpa de ter uma mulher que é uma deusa comparada com muitas e que para mim qualquer um pode ser melhor que eu para a ter. É. Eu sou inseguro em relação à Bia, mas acho que sempre fui. Com o tempo e com os erros que cometi ultimamente tenho noção que ela me pode escapar a qualquer momento.

Mas voltando à minha vinda a esta casa novamente. Saio do carro e caminho vagarosamente até à porta. Mesmo tendo ainda a chave, opto por tocar à campainha. Oiço uma das minhas meninas "gritar" que ia atender a porta e assim que esta se abriu, pude ver um grande sorriso da parte da Emma que me abraçou como se o mundo fosse acabar amanhã.

- Pai... Tinha tantas saudades tuas. – Ela diz abraçando-me ainda com mais força.
- Eu também pequena. – Deposito um beijo na sua testa e entro atrás dela fechando a porta atrás de mim.

A parte chata e mais triste de não estar junto da minha família é que não estou com os meus filhos a tempo inteiro como eu gostava. Gostava de acompanhar mais a evolução de cada um, mas enquanto eu não resolver os meus problemas com a Bia, tenho noção que só os posso acompanhar à distância.

- Pai!!! – Olho para a escada e vejo a Lottie correr na minha direcção.

Eu adoro quando recebo abraços destes. São estes pequenos gestos que me fazem o homem mais feliz do mundo. Ser pai foi das melhores coisas que me aconteceu e a prova está no quanto eu fico feliz por ver que os meus filhos gostam de me ter por perto.

- Mas que gritaria é esta. – Na porta da cozinha revela-se uma Bia de avental e com o Zarry em seu enlace.

O pequeno velho cachorro vem na minha direcção pedindo festa e eu rio pois até deste traquina eu tenho saudades.

- Não sabia que já tinhas chegado. – A Bia fala e eu levanto o meu olhar para poder encarar o seu.
- Aqui as pequenas abriram a porta. – Olho a Emma que sorri largo para mim.
- Podias ter usado a tua chave. – Diz suavemente.
- Sabes que não me sinto bem em fazê-lo. – Sou sincero com as minhas palavras.
- Mas eu sentia-me melhor se o fizesses.

Fiquei confuso com estas palavras e até dá a pequena sensação que a frase é dúbia e pode ter mais que uma interpretação.

- Mãe, onde está a colher de pau? – Oiço o Thomas perguntar chegando à sala.

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