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Beatriz

Depois da conversa do Harry com o Thomas sinto que finalmente as coisas se estão a endireitar. Naquela noite o Harry ainda ficou à conversa comigo mais um bom tempo até que se fez tarde e ele acabou por ir embora.
Hoje é um dia diferente e igual. Diferente por ser Natal e nem saber ainda onde o vou passar. Igual por ser mais um Natal. Ontem à noite o Harry passou por aqui e levou as gémeas e o Thomas depois de eles decidirem ir com o pai passar o Natal. Não fico chateada pela escolha deles, mas sim triste. Levanto-me vendo que lá fora chove e o dia é cinzento. Olho me volta e o Zarry olha-me como quem sente o que eu estou a passar. Depois do meu banho tomado saio do quarto e vou preparar o meu pequeno-almoço. Esta casa fica tão silenciosa sem os meus pequenos. Colocando umas torradas na torradeira e aquecendo um pouco de leite o meu pensamento apenas vai de encontro ao Natal passado. Um Natal onde eu estava feliz e a minha família estava do mesmo modo. Respiro fundo e ouvindo o "plim" da torradeira retiro as minhas torradas barrando-as com manteiga e pegando na caneca de leite, vou até ao alpendre de minha casa. Sento-me numa das cadeiras e encolho-me vendo a chuva cair.
Perdida nos meus pensamentos sou desperta com o ladrar do Zarry. Quando o meu olhar procura a porta atrás de mim vejo nada mais nada menos que o Harry parado na ombreira da porta. Fico confusa com a sua presença...

- Que estás aqui a fazer? – Pergunto meio receosa, mas com o coração a mil.
- Eu sabia que não irias escolher onde passar o Natal, assim... - Aponta para dentro de casa e eu ao espreitar posso ver os meus filhos, os pais do Harry e os meus na maior "algazarra" a colocar tudo em ordem. Desde comida da época, passando pelos enfeites natalinos e até oiço as gargalhadas de cada um dos meus filhos.

Sinto uns braços na minha cintura e assim que me viro de frente para o Harry o meu único impulso é abraçá-lo. Um abraço onde sei que me sinto segura, mesmo depois da confusão que se instalou.

- Obrigada. Não sei como conseguiste...
- Apenas te conheço demasiado bem para saber como reages. Eu sei que o Natal para ti tem um significado de ouro, muito pelo facto do tempo em que estiveste no orfanato. Ontem quando saí daqui com os miúdos, o Thomas comentou comigo que não queria que passasses o natal sozinha. Assim foi só juntar um mais um e perceber que não irias escolher, a tua família ou a minha se isso significasse que não pudéssemos estar todos juntos. Despois falei com a minha mãe e com a tua e cá estamos nós.
- Não sei que te dizer. – Engulo em seco depois de entender que este homem me continua a conhecer demasiado bem.
- Só preciso que te divirtas e que acima de tudo te sintas feliz. Pelo menos hoje quero que sorrias da maneira que só tu sabes fazer.

Sorrio para ele e abraço-o mais uma vez. Somos interrompidos quando a Emma me vem chamar para a ajudar com os embrulhos de última hora. Ao entrar de volta em casa, posso cumprimentar e abraçar tanto a minha família como a do Harry. O Thomas sorri e abraça-me forte como só ele sabe fazer e volta entretanto para os enfeites de luzes que coloca com a ajuda de cada um dos avôs. Deixo o Harry com a mãe dele e as minhas e sigo a minha filha até ao quarto dela.

- Mãe...
- Sim Lottie.
- Agora que o mano está de bem com o pai quando é que tu e ele voltam a morar juntos?

Confesso que a pergunta da minha filha me apanhou desprevenida. Sento-me a seu lado na cama enquanto coloco de lado todos os embrulhos que acabámos de fazer.

- Não te sei dizer. É tudo complicado de te explicar.
- É por causa da senhora que está grávida certo? Aquela que diz que gosta do pai e que é má para nós. – Desta vez é a Emma que se faz ouvir.
- Má para vocês? – Questiono confusa. – Que vos fez a Samantha?
- Nós fomos com a tia Inês e com a tia Sophia ao parque e ela apareceu lá com um homem. Depois disse para mim e para a Emma que o pai não gostava de nós e que te ia deixar sozinha. E que depois nós íamos para uma escola longe do pai e nunca mais te íamos ver a ti e a ele. – Abraça-me. – Mãe, não deixes que ela nos leve para longe.
- Não vou deixar. Ninguém vos vai mandar para longe.

Just LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora