Dúvidas????

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Durante toda a semana, me divido entre estar com os alunos do 5. ano, que vai das 8h da manhã até as 15h da tarde e depois hospital, visitar os pacientes.

Tenho me adaptado bem à vida humana que me rodeia, talvez o fato de que quando estou com os alunos, não preciso esconder quem sou, e eles também se adaptaram bem a mim. Mas quando estou entre os pacientes no hospital preciso preservar a identidade verdadeira de Eva. A equipe de saúde em geral, entendeu que para ser feito um bom trabalho humanitário entre os doentes, é melhor que eles não saibam quem realmente sou, assim fica mais fácil, não precisando explicar tudo.

Então pra eles sou apenas uma visita para lhes dar apoio. E por incrível que pareça, por apenas visitá-los e estar presente com eles, todos os 170 pacientes da infectologia, quer sejam homens, mulheres ou crianças, estam reagindo muito bem às meditações, após ter começado com as visitas.

Em algumas delas, eu apenas fico ao lado, segurando suas mãos e me fazendo presente lhes dando meu apoio, como nos casos mais graves. Em outros casos, conversamos e até rimos e gargalhamos. Em outros, os ajudo a tomar as medicações orais e a comerem. E por fim, alguns casos requerem passeios ao ar livre, empurrando suas cadeiras de rodas ( devido à fraqueza nos músculos das pernas, ainda debilitados). É neste último que se encaixa o caso do Nícolas.

Ele teve ganho de peso na última semana, está no final do tratamento com antibióticos e assim que estiver com estrutura física para andar sem apoio, terá alta médica do hospital. O que tem me deixado super satisfeita.

Estamos dando uma dessas voltas ao ar livre, está calor, é verão em Curitiba, o céu é de um azul claro límpido com a temperatura amena do final da tarde. Enquanto empurro sua cadeira pelo gramado do hospital, ele levanta seu rosto em minha direção, e diz:

- Eva, uma coisa me tem deixado pensativo.

- Tenho percebido que hoje você está mais calado. Porque não me diz? Talvez eu possa te ajudar.

- Bem, eu venho pensando, se... bem... logo terei alta daqui e...

- Hahã, e isso é muito bom. Você está bem forte agora, né? - dou-lhe um soquinho no ombro, estamos um pouco mais próximos agora, como amigos mesmo - lembro que você mal conseguia se sentar, e agora olha você! Tenho sentido um, orgulho de mãe!!

- Hum... bem, não era bem isso que eu ia dizendo. É... - diz mas não consegue completar a frase.

- Nícolas, se você não falar, fica difícil decifrar você!

- Olha, bem, ok. O que eu quero dizer é que, depois que eu sair... bem... hã... Como vou poder falar com você ou ver você de novo? Quero saber se você vai querer ter contato comigo ainda... - diz por fim e olha encabulado para os sapatos.

- Ah, isso... - tento pensar numa resposta.

- Sim, quero dizer, sei que está num projeto de uma empresa contratada do Governo, que irá custear toda a imunização nacional e ainda irá exportar as vacinas e ainda tem esse programa que estou inserido, de visitas em apoio à infectados. Só não sei como funciona depois. Depois das altas hospitalares, vocês podem ter contato com esses pacientes? Isso é possível?

Então eu o olho e penso:

Boa pergunta, Nícolas. Não havia calculado essa parte do projeto. Na verdade o Professor Alister, não comentou sobre nada assim. Será que todos estes pacientes terão essa necessidade? Ou é só Nícolas??

Ele percebe que eu hesito em responder, então movimenta sua cadeira com as mãos virando-a na direção do sol e fecha os olhos. Vou até ele a paro à sua frente, fazendo sombra sobre seu rosto.

Eva Em Busca Da Humanidade (Concluído e Será Revisado) #wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora