Isolamento

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Minha cabeça era um turbilhão de emoções e pensamentos, depois que Nícolas apareceu essa noite, presenciando o beijo roubado de Bruno e os dois brigaram. Estava envergonhada, irritada, culpada por dar esperanças a um, mesmo sem querer e magoar o outro.

Nícolas me deixa em casa na companhia de Natália e sai, visivelmente aborrecido e agitado. E eu sinto que preciso fazer algo para resolver essa situação horrível que se formou. Nada disso está certo, e eu sei que sou a principal responsável.

Decido então, depois de pensar muito durante a noite, depois que passei com Natália assistindo à um filme e conversando, ir até Bruno. Em mente a melhor forma de resolver tudo.

No resumo, nossa conversa pela manhã foi basicamente, ele me pedindo desculpas por sua atitude em nome de todos os santos que sua mãe cultuava no Japão e eu pedindo que gravasse para mim, todo o material que ele tivesse da história entre ele e Evangeline. Queria ver as fotos e os vídeos dos dois, para que assim eu pudesse lhe responder se tenho ou não lembranças emocionais. Eu os devolveria, certamente tão logo pudesse. Ele aceitou e achou a medida acertada.

Saindo do apartamento de Bruno, meu celular toca, e eu o atendo vendo que Paul está ligando.

- Bom dia, Eva. Preciso que faça algo à pedido de Alister. - diz um Paul sério como se cumprisse ordens.

- O professor? Como assim? - fico estática, parada ao lado do carro ao ouvir o nome daquele de quem tanto sinto falta.

- Ontem, quando fui à sua casa, na verdade não era para te convidar para sair, essa foi uma desculpa que dei ao Nícolas, surpreso por encontrá-lo lá. O que fui fazer mesmo, era deixar para você uma chave. A chave da caixa postal do professor. Nela encontrará algo para você. A pedido dele, precisei esperar estes 30 dias para te entregar.

- Ainda não consegui entender Paul. - digo honesta.

- Eva, ele me pediu para que se algo acontecesse à ele, eu entregasse a você o conteúdo de sua caixa postal. Vá até lá e veja o que tem dentro. - explica - deixei a chave na gaveta do balcão da cozinha.

Eu o agradeço e sigo para casa intrigada. Tão logo pego a chave, visito a caixa postal de Alister e vejo que o conteúdo é composto de um gravador e anotações inéditas do projeto. Está endereçado à mim, com uma nota: Retire um tempo para ouvir e ler as anotações. Te amo, filha.

Volto então a falar com Paul, dizendo que ficarei fora pelo menos dois dias, que ele cuidasse de tudo na minha ausência, eu entraria em contato depois. Então arrumo minha mala para uma pequena estadia no interior e resolvo deixar o carro de Alister no chalé e este, aos cuidados de Natália. Então chamo um motorista da empresa para me levar.

Tudo que eu preciso é de um tempo para colocar minha cabeça em ordem, organizar meus sistemas e resolver a bagunça que está essa situação entre mim, Bruno e Nícolas. Me sinto aliviada por poder contar com Paul.

Quando o carro da empresa chega, me despeço de Natália e assim que entro e o motorista está partindo, escuto aquela voz de locutor, gritando alto meu nome. Não! Era tudo que eu não queria, ter que me despedir dele. É doloroso demais! Nícolas, porque torna tudo mais difícil?

Eu me viro e o vejo, e só o que consigo fazer é colocar minha mão espalmada no vidro da janela, e olhar seu rosto triste. Há desespero em seus olhos, seu semblante abatido ainda balbucia algo, quando eu o perco de vista.

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Cheguei a Santana do Itararé, uma cidade do interior do Paraná, já com a divisa de Minas Gerais, um lugar calmo, de planície verdejante, ótimo para colocar os pensamentos em ordem. Aluguei uma casinha perto do prado, com uma vista linda para as árvores oposta ao restante da cidade. E assim que me instalo, abro o conteúdo do pen drive que Bruno gravou para mim.

Eva Em Busca Da Humanidade (Concluído e Será Revisado) #wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora