Como uma garota comum...

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Durante as semanas que passaram, após a morte de Alister, percebi que ainda que exista a dor da perda, o mundo não parou. O mundo não se deu conta de que, alguém especial havia nos deixado, alguém por quem eu sentia muita falta, mas que tive que encarar o girar do mundo sem ele.

Foi difícil voltar ao ritmo, mesmo porque, o meu local de trabalho foi o palco do último ato do professor. Sempre que eu entrava na Cibernex, ou na sala de Alister, que agora era a minha, sentia sua presença e sua ausência. Mas a vida de todos os outros que precisavam de nós estava sendo encurtada a cada minuto, e eu não podia parar de ajudá -los por causa de minha dor. Então, o jeito foi continuar sem o professor.

"É algo que o tempo ameniza, mas não apaga" - lembrei-me das palavras de Bruno.

Passei então a me ocupar 100% no mundo que Alister me deixou. Participava das reuniões da diretoria, ajudava Paul e Vanessa nos laboratórios 1 e 2. Paul agora era engenheiro genético chefe do laboratório 2 de criações, já que Alister havia passado para ele todos os projetos e tendo ele mesmo estudado anos para isso. Confesso que era um excelente biogeneticista!

Nícolas agora era chefe de redação do jornal onde trabalhava, graças à seu furo de reportagem com o caso do sequestro. Vinha me visitar todos os finais de tarde, quando saía do jornal. Sua irmã Natália era agora uma amiga presente, me levando para compras e passando algumas noites comigo para saber mais do projeto, e algumas vezes saiu conosco como voluntária para ajudar nas vacinações e com as medicações dos mais doentes, já que era portadora saudável da doença e não poderia se contaminar.

Bruno ficou mais próximo, tirando minhas dúvidas sempre que estas surgiam. E sempre disposto a conversar comigo sobre qualquer que fosse o assunto.

Me sentia mais centrada comigo mesma e estava pronta para avançar com o projeto por todo o Brasil. A região Sul estava toda coberta, graças à ajuda de Paul, que dividiu comigo as comitivas. Na verdade, Alister deveria ter previsto isto, dois androides ao invés de um, era bem mais viável. Rapidamente alcançaremos todo o território. Os próximos Estados seriam, São Paulo, que depois de um relatório entregue por Nícolas e apresentado ao Governo em uma entrevista com o Sr. Hans em rede Nacional, estava em calamidade. E o Rio de Janeiro, que não ficava muito atrás em situação crítica. Após estes dois, iríamos ao Nordeste.

Numa noite, enquanto chegava em casa, após ter deixado Natália no Centro da cidade, estava tirando a bolsa do carro, já dentro da garagem, quando ouvi uma discussão dentro do chalé.

- E você pensa que é o quê? - identifico a voz de Paul logo assim que a ouço, pois ele usa palavras que não fazem parte do vocabulário de ninguém que ande comigo. - Ela não é propriedade sua!

- Olha, não me irrite, gatoto! Estou farto de te ver cercando e a abraçando com suas mãos cheias de dedo, sempre que tem oportunidade! - agora a voz de Nícolas.

Eu me detenho na varanda só para ver no que esse bate boca vai dar. Quero ver como se comportam quando eu não estou por perto. Então os gritos de um para outro continuam, cada vez mais acalorados.
- Quer saber? Eva nunca reclamou, se ela não me quisesse por perto, ela já teria dito. - fala Paul cheio de si - Ela não tem papas na língua, cara!

- Ela está comigo! Tenta mais uma vez colocar essas suas mãos em cima dela, que eu vou quebrar cada pedacinho seu e te jogar num ferro-velho! - ouço Nícolas perdendo as estribeiras.

- Ah, vem me quebrar agora, tô louco pra ver isso. Vem, cara! - Paul arrasta alguma coisa na casa, quando eu entro.

Eu paro no beiral da porta, e os olho. Os dois me veem e emudece. Faço jeito de séria, mas estou rindo por dentro, e também morrendo de vontade de matar estes dois.

Eva Em Busca Da Humanidade (Concluído e Será Revisado) #wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora