Retorno ao Passado

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Por Nícolas

Deixo o complexo de coração apertado por ter estado tão perto de Eva e não ter tido força de vê -la. Mas se a visse, não sairia de perto dela. Às vezes é mais forte do que eu!

Durante meu tempo de faculdade de jornalismo, conheci uma garota, linda e inteligente que se chama Naomi. Ela era sorridente, leve e muito amigável. Fazia amizade com todos e era a garota mais popular da turma.

Sua família é árabe e seu pai autoritário e protetor, muito conservador das tradições de seu país. Naomi sempre vinha para o campus de carro com ele, que a fazia se cobrir com um lenço nos cabelos e nunca usava maquiagem. Bem até o carro dar a ré e ir embora, daí Naomi dobrava o cós da saia, até deixar a mesma na altura dos joelhos, retirava o lenço, soltava os cabelos e passava um batom, que realçada ainda mais sua beleza exótica de olhos escuros e cabelos levemente ondulados, longos e negros.

Não havia um rapaz que não tentasse algo com ela. Me tornei próximo à ela quando tivemos que estudar juntos literatura, logo estávamos amigos e a seguir, namorados. Meus amigos bufavam só de me verem com ela. Mas fazer o quê, não é? Sou o tipo que elas gostam. Cara de modelo, corpo naturalmente bem torneado, alto e para falar a verdade, usada bem meus atributos.

Adorava estar com Naomi, sempre leve, seu sorriso solto, mesmo com a opressão do pai, não se deixava intimidar, e sempre dava um jeito de ir às baladas das irmandades e namorar contra a vontade dele. Bem este foi o meu caso.

O seu pai, ou o baba, como ela chamava, não aceitou ter a mim, um descendente de judeu como candidato à genro, e tivemos que namorar escondidos, os últimos 2 anos de faculdade.

Por causa de minhas notas excelentes, meu currículo foi logo aceito na editora de O Globo e eu comecei a trabalhar para valer assim que me formei, mas o baba de Naomi, não deixou que ela trabalhasse, então ela teve que se contentar em ensinar literatura para as crianças da mesquita próxima ao seu bairro. Logo após isso nosso tempo ficou muito curto.

Após minhas segundas férias no Jornal, marcamos um pic-nic no Parque Ibirapuera em São Paulo mesmo onde morávamos, mas ao encontrar Naomi, ela estava abatida. Me dei conta de que por causa do nosso pouco tempo juntos, mal perguntava sobre seu pai, que estava doente há dias com dor no abdome, diarreia e muita tosse. Neste dia, ela me disse que o pai precisou internar. E ela não sabia o que fazer, na verdade mesmo sendo autoritário, o pai era tudo pra ela.

Pouco tempo após, ela também adoeceu, na mesma época que a cidade de São Paulo foi assolada pela famigerada doença. Ouve um caos absoluto entre as grandes empresas, e não pude estar com ela nessa fase, pois fui transferido com os outros da redação para Curitiba.

Naomi ficou sendo tratada por sua mãe, irmã e uma amiga nossa em comum, que me passava seu estado de saúde pelo menos duas vezes por dia, enquanto eu e os outros transferidos da redação tentávamos nos habituar, à uma nova cidade, com novos costumes e novos colegas de trabalho.

O tempo passou e à medida que Naomi não conseguia responder aos antibióticos nada efetivos existentes na época, seu pai morrera e sua família intensificou o cuidado com ela, se revezando para não deixá -la sozinha durante sua internação.

Naomi se mostrou resiliente no tratamento, superando todas as expectativas e acabou sobrevivendo e saindo de alta milagrosamente. Ficamos então no namoro à distância enquanto os meses passavam. Mas nada voltou a ser como antes, a distância não permitiu que nossa paixão continuasse. Bem pelo menos de minha parte. Eu me senti sozinho, com a morte de minha mãe e a ida de minha irmã para fora do país. E então eu tambem adoeci.

Pensando que morreria ali naquele hospital, conheci meu anjo. Minha Eva! Ah, tudo mudou, minha vontade de viver, de lutar voltou. E hoje vejo que nada se compara ao que sinto por Eva. É com esse sentimento que estou aqui, neste avião rumo a São Paulo.

Eva Em Busca Da Humanidade (Concluído e Será Revisado) #wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora