Lembranças

45 5 17
                                    

  Durante o funeral de Alister,  vi muitas pessoas vestindo preto, pelo que percebi, esta é a maneira dos humanos expressarem seu luto, eu porém vestia o vestido azul, que Alister amava, e que fora de Evangeline.

  Vieram de todos os lugares por onde o professor já havia passado na vida, e onde deixara sua marca registrada de competência, carinho e dedicação ao próximo. Acadêmicos da Universidade, profissionais do Hospital, Membros da Cibernex, e ainda os funcionários e membros do Governo e policiais. Todos para dar a ele, sua despedida final. Eu observava, aquele que era o retrato do amor, carinho, atenção e o último e único parente que tivera um dia, emoldurado ali em sua mortália, para sempre. E pensava que tudo o que ficaria daqui por diante, seriam lembranças de tudo o que ele fora para mim.

  Paul esteve todo tempo a meu lado, me deixando apenas quando precisou tratar algo com um senhor de meia idade, negro, que eu não conhecia. Nícolas observava de perto, enquanto registrava a matéria para o jornal, onde concluía o assunto sobre o sequestro. Nesse interim conheci duas pessoas inusitadas. A irmã de Nícolas que fez questão de vir, tendo chegado de Moçambique, mais precisamente Maputo/África, para me conhecer depois de aguardar, segundo Nícolas falou, uma semana em casa sobre sua orientação, e estava querendo me 'ver de perto'. Ela na verdade, uma moça agradável, de sotaque suave, changana que é um dos dialetos da região onde trabalha como voluntária, se disse tocada pelo teor que motiva o projeto Eva.

- Muito bom te conhecer, pessoalmente, Eva - diz Natália, com um olhar tocante, e um sorriso tímido por meio da ocasião, que mostra as mesmas covinhas na maçã do rosto, que o irmão possui - pena ser num momento triste como esse, lamento muito! Quero te dizer que estarei um tempo no Brasil, e ficaria feliz em poder ter mais contato com você!

- Obrigada, Natália. Sim, claro, seria muito bom estar com alguém da família de Nícolas. - respondo lhe apertando a mão que me oferece.

  Ela se retira a seguir, enquanto vejo Paul me observando enquanto conversa. Seguro em minhas mãos os lírios brancos que trouxe para dar à Alister. Então algo estranho acontece. Como um Déjà vu novamente, um rapaz de olhos puxados, cabelos negros com um leve topete, muito bem vestido, se aproxima com cautela em minha direção.

- Olá, meus pêsames, eu sou... -tenta dizer, mas de alguma forma eu o conheço.

- Bruno... - digo, como se meus lábios se mexessem sozinhos, me trazendo uma lembrança distante.

- Isso! Bruno Yamashiro. Você... você se lembra de mim? - ele pergunta com a voz embargada, quase que sufocando ao falar.

- Não sei ao certo... enquanto você vinha em minha direção pareceu familiar... seu nome... Bruno, é como uma lembrança antiga, aqui.  - tiro o olhar de Bruno por um momento, tentando acessar internamente quem possa ser, quem é? Mas nada encontro no momento. Porém algo me diz, que é, ou foi, alguém importante para mim.

- Entendo... Bem, eu precisava vir, queria te dizer pessoalmente, que tenho muito o que lhe falar, e faz tempo que estou procurando uma ocasião. Infelizmente quando decidi te procurar, aconteceram todas estas coisas. - ele despeja de uma vez, quase atropelando as palavras - Por favor, assim que for possível, entre em contato. Você deve ter muitas  dúvidas, eu posso te ajudar, e quero muito, isso.

  Ele me entrega um cartão com um número de telefone, onde estava escrito : Bruno Yamashiro - médico geneticista. Então, meio que tonto, se retira, andando devagar, e pelo que posso perceber, ainda que não tenha chego com aparência de quem chorou com o a cerimônia de sepultamento, saiu secando o rosto, com as costas das mãos, tão logo virou de costas.

  Eu o observo, e na verdade, percebo que meu corpo, balança um pouco e contra minha vontade, sinto o chão se inclinar em minha direção, e então apago. 

Eva Em Busca Da Humanidade (Concluído e Será Revisado) #wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora