Confusão

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Estes últimos dois dias, depois da conversa com Nícolas, passei trabalhando no complexo ainda estasiada com suas palavras. Pensar que aquele homem lindo, moreno e alto, se sentia tão dependente de mim, tinha tanta necessidade de mim, sem se importar com o que sou, me deixava atônita. E me fazia pensar que eu poderia enfrentar o mundo. Mesmo tendo nos falado apenas por telefone desde então, por causa da correria causada no escritório da Cibernex à custa de relatórios e gráficos a serem entregues para o Governo por causa do vazamento de informações e todo o processo que se seguiu.

Na minha sala, já havia contado tudo ao professor, que claro, esteve me esperando aquele dia, para saber do resultado da conversa com Nícolas.

- Esse rapaz, o Nícolas, gosta mesmo de você, mesmo com tantas diferenças, o que é estranho - diz com ar preocupado - Mas ainda assim me sinto feliz, isso prova que ainda existem pessoas neste mundo que toleram 'o diferente'. Agora, Eva, mudando de assunto, você conseguiu conversar com Paul a cerca do vazamento de informações? Seria importante saber a versão dele.

Então me dou conta que Paul deve mesmo explicações, e que ainda não conversamos sobre isso, desde que eu o encontrei no Jardim Botânico. Mesmo irritada com ele, preciso ouvir sua versão.

- Vou ligar agora pra ele. - digo. E o professor concorda me encorajando.

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- Olá, Eva. Boa noite, que bom que ligou - diz Paul.

- Boa noite, Paul. Estou ligando por causa daquela conversa que precisamos ter.

- Ah, até que enfim vou poder falar com você, mas queria que se possível, essa conversa fosse pessoalmente, não é algo que queira conversar por telefone. Você se incomoda? - pergunta agora, cordial.

- Não me incomodo, pode ser. Tem uma sorveteria perto aqui do complexo. Me encontre lá em 30 minutos pode ser? - pergunto e ele concorda imediatamente e desliga.

Ajeito toda a papelada para o professor, deixo em sua mesa. Nesses dois dias, além de todos os relatórios ainda estamos preparando o planejamento para o início da imunização nas 11 escolas nos bairros carentes, na próxima semana.

Tomo uma ducha após o uso do emplastro glicosado que tenho que usar. E coloco um vestidinho qualquer para falar com Paul.

Chego à sorveteria e encontro Paul. Seu cabelo louro com penteado meio bagunçado com gel em estilo rebelde, sua pele branca realçando os olhos verdes claros, sob uma roupa de estilo "mauricinho", que mesmo sem querer, chama a atenção das moças de outra mesa. Ele já em uma mesa, sentado e com um copo de água e uma casquinha com uma bola de sorvete dentro. Me faz pensar que ele quer passar a impressão de estar consumindo algo, como os humanos.

- Você leva mesmo a sério esse negócio de se misturar - digo, agora rindo um pouco.

- Ah, Eva. É sempre tão bom te ver. Com você perto, não me sinto sozinho nesse mundo, chato! - diz com um sorriso ao me ver, e se levanta de maneira até cavalheiresca.

- Preciso mesmo Paul, que me diga, o que houve com as informações daquela semana em que imunizamos os profissionais de saúde. - digo quase sem nenhuma paciência, com sua cordialidade, já me sentando na cadeira em frente à sua.

- Nossa! Ok, vamos lá então. Sei que você ficou bem aborrecida comigo, e o professor também deve estar, mas não foi minha culpa. Quero dizer, sei que passei as informações para Olavo, mas foi porque ele me pediu, e me deu um bom incentivo. Eu acabei cedendo. - tenta se defender, se sentando outra vez.

- E qual seria o incentivo, para você agir dessa forma, comprometendo a Cibernex junto ao Governo? A Cibernex acolheu a você e sua turma da Faculdade. - digo categórica.

Eva Em Busca Da Humanidade (Concluído e Será Revisado) #wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora