Fábrica de Tecidos

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Os últimos dois dias que se passaram após o seqüestro do Sr. Hans, estivemos eu e Alister, com o pessoal do laboratório, avançando com a produção de vacinas, para continuar atendendo as áreas carentes de mais cinco ou seis bairros e escolas que faltavam.

Todo o trabalho feito anteriormente com os profissionais da saúde em geral, deu um resultado mais que satisfatório quando percebemos que a equipe de saúde se tornou mais segura em receber e tratar com mais humanismo os pacientes que procuravam ajuda em clínicas, postos de saúde e hospitalais, e que quando precisavam internar, permaneciam menos tempo que o de costume.

Nas áreas carentes, entretanto, era outra coisa. Víamos nas ruas e pelos bairros pessoas sendo ignoradas, negligenciadas e excluídas nas suas tentativas infrutíferas de terem auxílio.

Vimos crianças sem pais, largadas aos montes em orfanatos públicos, pais que haviam perdido seus filhos para a doença e muitos idosos largados sem o menor cuidado em asilos. Ainda havia muito a conscientizar e mudar na consciência pública.

Mas o que mais feria meu sentido racional, era ver que, as autoridades, qualquer que fosse ela, municipal, estadual ou federal, não se importavam coma população, não havendo nenhuma ação produtiva para ajudar os carentes, com exceção da nossa equipe que tinha patrocínio do Governo.

O que há com os humanos? - penso.
Será que o medo de adoecer, fala mais alto, do que a necessidade de vida do próximo?

Percebo que, lá naquela aldeia Carijó, mesmo a vida sendo rústica, os indivíduos eram mais unidos que os que viviam aqui com toda a infra-estrutura. Quanto mais conhecimento o ser humano obtenha, quanto maior seu poder financeiro, mais os humanos se tornavam insensíveis ao sofrimento alheio.

O ser humano in natura é ainda mais humano que os que se dizem civilizados - penso.

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No dia seguinte, voltava de uma dessas visitas, quando vi que naquele momento os sequestradores entravam em contato com os policiais que estavam acampados na empresa. Entrei na sala onde estavam todos e Alister.

- Não terá a fórmula de vacina alguma - diz o investigador Clóvis respondendo à algo no telefone que estava em viva voz. - mas estamos abertos quanto a negociação de sua rendição, sobre isso poderemos negociar.

- Vocês se arrependerão desta decisão - diz o voz do homem com sotaque inglês no outro lado da linha e desliga.

Eu olho para o professor que está de boca aberta e as mãos no rosto, estático no meio da sala. Vou até ele e o toco no braço, trazendo-o para mais perto de mim.

- Porque tenho a impressão de que os policiais e o Governo não estão se importando com o que acontecerá ao Sr. Hans? - pergunto falando baixo próximo ao ouvido do professor.

- Eva, eles estão fazendo o melhor que podem. O Governo não dará a fórmula da vacina para uma doença dessas, à nenhum estrangeiro sequestrador - explica Alister.

- Mas eu passei os dados da localização do cativeiro para a Polícia depois da primeira ligação. Foi fácil descobrir pelos dados do IP. Eles deveriam ao menos terem discutido uma forma de estourar o cativeiro, antes que aconteça algo ao Sr. Hans. - falo reflexiva.

- Isso é algo que eu também não compreendo, Eva. - diz o professor pensativo.

Preciso esclarecer meus dados, longe da presença dos policiais, então saio da sala, dizendo ao professor que vou dar uma volta em frente ao jardim da entrada da empresa. Ao sair pela portaria, meu celular toca em minha bolsa e me chama a atenção ser uma ligação de Paul. Faz tempo que não nos falamos e na correria da campanha de vacinação, percebo que até me esqueci dele.

Eva Em Busca Da Humanidade (Concluído e Será Revisado) #wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora