Na Aldeia

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Nosso acampamento está de pé na primeira hora de claridade do sol. Apesar de o vilarejo ser tranquilo e estarmos cercados pela mata. Os ribeirinhos acordam cedo também para os afazeres domésticos e para cuidar dos seus doentes. Todos os acampados dormiram pesadamente após o dia longo que tiveram ontem e estão refeitos, todos menos um, é claro. Nícolas foi dormir com a lua já alta, pois se recusou me deixar antes que a fogueira se apagasse.

Eu por minha vez, passei as poucas horas da noite em meu colchonete olhando o teto da tenda e pensando nele. No beijo... na nossa conversa. Mas Nícolas precisava de mais horas de sono, acho. Acordou cansado e se arrastando. Enquanto os outros já estão arrumados e tomando seus cafés, ele aparece com a toalha no ombro e a escova de dentes na mão.

Enquanto ele vagueia pelo acampamento eu estou em ligação com o professor, e Nícolas se aproxima me observando.

- Alister, é necessário e eu dei minha palavra! Preciso fazer isso. - digo ao professor na ligação.

- Sim, eu sei, Eva. Considere apenas o Conselho de Nícolas, sim? Estes nativos podem não reagir bem ao que você é, precisará de muita cautela. - diz o professor - Eu levarei tudo que precisa e voltarei 12h antes do combinado. Faremos isso juntos.

Eu concordo, na verdade ele tem razão. Desligo depois e começo preparar todo o material para o dia que teremos ainda no vilarejo.

- Bom dia! Teve bons sonhos? - pergunto sorrindo, à Nícolas que me olha.

- Quase não dormi, dona Eva, tudo graças a você, e esse seu milagre de beijo - diz se aproximando e me beijando a testa - mas vou te dizer uma coisa, minha vida se resume em a.E. e d.E. Antes de Eva e Depois de Eva. Nunca mais serei o mesmo!

- Não fale assim, se eu fosse humana ficaria encabulada! - digo lhe sorrindo.

- Sério, cada minuto dessa noite, valeram a pena. Você é o que me aconteceu melhor nestes meus 25 anos. - diz agora me olhando sério.

Eu o olho encantada! Que espécime humano maravilhoso é esse Nícolas!

Os acampados olham em nossa direção, mas nada dizem. Continuam comendo ou arrumando suas coisas. Na verdade acredito que não se atrevem a dizer, por não saberem o que falar, de um relacionamento entre uma híbrida e um humano.

Fazemos o atendimento do vilarejo como planejado, desde o treinamento das moças do posto e dos aldeões sãos à entrega e aplicação dos antibióticos. Durante os dois dias ali vemos melhoras significativas nos doentes que já estão sem febre, sem diarréia e comendo. Foi muito bom vê-los melhor. As crianças doentes que não podiam ir à escola, já se arriscaram a brincar. Isso me deixava mais que satisfeita.

No terceiro dia, o professor chegou como avisado. Bem na hora do almoço dos acampados, e trazendo tudo que precisávamos para levar à aldeia de Caian.

- Estou vendo todos muito melhor, bom trabalho, filha. - diz me abraçando.

- Professor, cuidado, ou outras pessoas irão ouvi-lo. - dou-lhe um sorriso e um beijo na bochecha.

- Certo, vou me conter. - diz ajeitando sua camisa.

Nos reunimos então na tenda e colocamos todos os detalhes da imunização da aldeia a limpo. Levaríamos a tenda de campanha porque pelo que disse Caian os nativos não estariam em melhor estado que os aldeões. Revesaríamos os da equipe que estivessem cansados, pois seriam pelo menos mais 3 dias fora. Eu estaria fazendo a vacinação e a estrega de antibiótico oral com o pessoal do laboratório, assim não estaria exposta e ainda teria toda a indumentária de protecção mesmo estando de dia. Enquanto o professor e mais uma das meninas ajudariam nas visitas aos debilitados.

Eva Em Busca Da Humanidade (Concluído e Será Revisado) #wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora