O Retorno

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Nícolas (6 meses depois)

Os dias se arrastaram, as horas eram intermináveis, e não se passava um minuto em que minha cabeça não pensasse nela. Talvez porque eu a via todos os dias, ou porque eu sentia muita falta de seu sorriso, do seu olhar brilhante nos meus, das suas sardas leves na pele levemente bronzeada ou de nós dois sentados na namoradeira branca no jardim. Mas isso já fazia meses, e de uma coisa eu tinha certeza, tudo em mim estava vazio e cinza sem ela!

Para sobreviver, para sub existir à sua ausência, eu focava minhas energias no meu trabalho. Para ajudar, minha irmã ficou só mais uns dias, depois que ela se foi, seu tempo de recesso havia terminado, e ela precisou voltar para Moçambique na África, me deixando na mais profunda solidão, sem ter ao menos alguém com quem conversar quando chegava na minha casa, agora novamente vazia.

Houve épocas no meu passado, em São Paulo e depois aqui em Curitiba em que eu saía da redação com meus amigos e íamos direto para um barzinho para um happy hour, mas depois dela, isso havia mudado não tinha mais sentido pra mim ficar à deriva num mundo humano normal, quando eu tinha a minha Eva. E agora, meus amigos tentam me carregar para os barzinhos com as moças da redação sempre me cercando, com seus sorrisos nos lábios dizendo que eu ando muito "pra baixo" e querem me animar. Não quero me animar!

Então uso a estratégia de trabalhar horas a fio, rever matérias até tarde para estar cansado o suficiente para apenas ir para casa, tomar um banho e tentar descansar, ou até dormir na esperança que mais um dia acabe para começar tudo novamente na manhã seguinte.

A casa que fora de Alister, e Eva herdou, está agora com Paul, que à pedido dela, tem cuidado de tudo, até que ela volte. Das mobílias, jardim, de suas ações na empresa e os projetos.

Paul tem se mostrado um executivo e biogeneticista promissor e responsável, muito parecido com Alister, nem se parece com o moleque esquentado que era há um tempo atrás. Acredito que o professor fez maravilhas com ele, quando precisou "consertá-lo". Ele tem sido muito criterioso também ao falar de Eva para mim. Talvez por que perceba a angústia pela qual estou passando, ou, à pedido dela mesmo.

Eva, pelo pouco que soube, através de entrevistas e matérias, foi encarregada de montar uma campanha no Sudeste do país, e por lá ficou logo após eu vê -la saindo aquele dia. Está já seis meses lá e além da imunização e cura dos doentes, se empenhou em usar sua parte das ações para fazer uma reurbanização e seneamento das áreas mais pobres e afetadas de São Paulo, Minas e agora Rio de Janeiro.

Como te admiro, Eva!

Eu, é claro, tentei falar com ela inúmeras vezes por seu celular, mas sem sucesso. Segundo Paul, o número dela já não era o mesmo, e acredito que isso seja proposital para me evitar e me esquecer.

Porquê, Eva??

É a pergunta que faço todas as noites deitado em minha cama e olhando o teto. E então, hoje não é diferente. Me vem a mente, o dia em que ela me trouxe aqui, logo que saí de alta daquele hospital. Foi minha primeira tentativa de tocá-la, quando estávamos na sala, ela parecia absorta observando talvez a primeira casa humana que conheceu, e eu perdido em seu cheiro doce, aqueles cabelos... irresistível à mim, ela aqui, na minha casa, longe dos olhares das enfermeiras no hospital. Queria sentir sua pele e tocar sua boca que estava tão próxima. Sua reação ao meu toque me deu a certeza que Eva seria minha, só minha.

E agora estou eu aqui, sem ela, por quilômetros de distância, nem estamos no mesmo estado, e eu precisando seguir com a minha vida, depois que lutei contra a maldita doença só pra vê -la novamente, e depois perdê-la assim.

Eva Em Busca Da Humanidade (Concluído e Será Revisado) #wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora