II

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Amélie sempre acordou cedo, nunca conseguiu ficar por muito tempo na cama sem fazer nada. Muitas vezes odiava a cama, pois passou metade da vida confinada em uma. Vestiu seu robe de cetim branco e foi para a varanda onde costumava ficar todo dia no final da tarde. Fazia frio e ela sabia que podia piorar a saúde dos seus pulmões, mas naquele momento nada importava para ela. Nada. Ela só queria a paz daquele momento e apreciar o nascer do sol. Anika muitas vezes a tirava dali naquele horário, ela afirmava que aquilo acabaria com sua saúde, e estava certa; mas Amélie nunca foi conhecida por sua obediência, e sim por sua teimosia. O sol começou a nascer atrás das montanhas, e os raios do sol atingiram seu rosto devagar.

— Vossa alteza, a senhorita sabe que não pode vir para cá tão cedo. — Anika aproximou-se e a puxou pelo braço. — Você pode ter uma crise! Sabe muito bem que o clima piora sua saúde.

— Você poderia me deixar em paz. — puxou o braço da mão de Anika. — Deixe-me viver.

— A senhorita vai morrer, e não viver, ficando aqui fora.

— Saia daqui.

— Eu vou chamar sua mãe!

— Chame o demônio, mas saia daqui! — Amélie gritou.

Anika olhou horrorizada para Amélie, nunca havia blasfemado em sua frente, e saiu correndo. Amélie respirou fundo e se sentou na espreguiçadeira. Ela não queria ter sido tão grossa e ter blasfemado na frente de Anika, mas não se conteve. Ela odiava aquelas malditas ordens sobre ela. Muitas vezes tentava pensar em momentos felizes da sua vida, mas quase nada vinha em sua mente.

Gostava de praticar piano, era uma coisa que havia achado interessante e inovador, afinal não exigia seus pulmões, somente as mãos. Ela gostava de ouvir Blue Danube Waltz, era simplesmente linda quando toda a orquestra tocava, mas também era lindo quando ela tocava no piano. Nunca deixou ninguém da família vê-la tocar, era como um segredo, assim como seu diário era. Quando fechou os olhos e os abriu novamente, sua mãe estava na sua frente com uma expressão furiosa e os braços cruzados. Ela já havia presenciado sua mãe assim diversas vezes, e a maioria das vezes por causa dela.

— Amélie, pode me explicar?

— O que eu deveria explicar? — retrucou com um sorriso maroto no rosto.

— Você ainda ri?

— E tenho motivos para chorar? — arqueou a sobrancelha.

— Amélie, pare de me responder!

— Mas a senhora está fazendo perguntas.

— Cale-se Amélie. Vá para seu quarto.

— Eu quero ficar aqui.

— Mal começou o dia e você já está me estressando, Amélie.

— A senhora já disse meu nome quatro vezes.

— Está contando quantas vezes eu disse seu nome, Amélie?

— Agora, cinco vezes.

— Para seu quarto. Agora! Não me faça repetir novamente. — encarou furiosa para a filha.

Amélie se levantou da espreguiçadeira e andou em direção ao seu quarto.

Quando chegou lá, a lareira mantinha seu quarto aquecido, e logo tirou o robe e se sentou na cama. Começou a chorar, como sempre fazia todos os dias. Ela não queria ser fraca, não queria ser chorona, mas as circunstâncias a deixavam agir daquela maneira. Muitas vezes não conseguia controlar o que sentia, e tinha vontade de fugir. Levantou-se e abriu as pesadas cortinas de veludo azul marinho do seu quarto, e olhou para o lago próximo do palácio. Em poucos dias, ela achava, estaria na Alemanha. Estaria em Schloss Charlottenburg, o maravilhoso palácio da família Hohenlohe-Langenburg.

O destino de AmélieOnde histórias criam vida. Descubra agora