Berlim era uma cidade agradável. As casas eram belas, as ruas organizadas e limpas, as pessoas viviam alegres, embora houvesse alguns rebeldes que eram contra a família imperial e sempre surgiam problemas para Heinz resolver. Seu pai havia morrido quando ele tinha quinze anos, e sua mãe assumiu a regência enquanto ele não era maior de idade. Ter assumido um império tão jovem não tinha sido muito fácil. Reinos aliados ficaram desconfortáveis com alguém tão novo assumindo, outros o apoiaram, pois de qualquer forma, ele era o primogênito.
Ele estava conseguindo governar seu império com maior empenho que conseguia, e achava que ás vezes falhava. Muitas vezes se sentia frustrado, e isso o incomodava bastante. Vivia confinado em seu gabinete, com diversas audiências, vários ministros, duques, viscondes, barões, e embaixadores de outros países. Ele completaria 23 anos em poucos dias, e sua mãe a cada dia o infernizava para se casar, como se ele não tivesse muitos problemas o suficiente, ela queria lhe empurrar mais um.
Fazia alguns anos que ele e a mãe não se entendiam muito bem, isso só lhe causava dores de cabeça. A arquiduquesa Susi estava ficando cada dia mais impossível de ter uma conversa tranquila e civilizada. Seus irmãos sofriam mais com isso do que ele, por sorte, poderia ficar trancado o dia todo no gabinete, eles não. Ele revisava os documentos do acordo com a Inglaterra, quando o guarda abriu a porta e anunciou a entrada da sua mãe.
Ela estava com seu vestido de cor lilás, que simbolizava o meio luto. Ele achava que sua mãe não amasse seu pai, e ainda continuava com isso em sua mente, mas ela se mostrou triste e desconsolada durantes os anos que se passaram. Não sabia se era puro fingimento, ou eram seus verdadeiros sentimentos. Sua mãe se tornou uma pessoa estranha para ele de certa forma.
— Eu acho que não preciso marcar uma audiência com meu próprio filho.
— Deveria. — continuou sentado. — Sente-se minha mãe.
— O que é mais importante do que sua mãe?
— Não sei. — respondeu com sinceridade. — Agora, diga-me, o que traz a senhora aqui?
— Quero lhe informar que minhas duas sobrinhas vem morar aqui.
— Bem, isso não me interessa em nada. A senhora pode trazer quem quiser para cá.
— Eu acho que Eugenie...
— Outra vez esse assunto de casamento? Basta.
— Precisa ter herdeiros logo!
— Eu tenho um irmão. Caso eu morra, ele assume sem problema algum. Ele também foi educado para assumir o império caso me acontecesse alguma coisa. Não fique tão temerosa mamãe.
— Heinz! Pare de ser tão insolente e irresponsável.
— Eu apenas não vou casar para agradá-la. Pensei que eu já tivesse deixado isso bem claro. — encostou-se na poltrona. — Esse assunto me incomoda mais do que a senhora imagina.
— Tudo que eu quero, lhe incomoda. Tem uma mania horrível de ser contra tudo que eu digo e quero. Eu nunca pensei que você seria assim.
— Assim como? — apoiou os cotovelos na mesa. — Uma pessoa que não segue todas as suas ordens? Sinto em dizer que não sou seu boneco de marionete, mamãe.
— Não seja irônico comigo, Heinz. Você sabe que eu detesto isso.
— O que a senhora não detesta?
— Meus filhos.
— Pelo menos isso. — riu sem humor. — E suas joias. Tenho certeza que as ama.
— Acha que eu sou tão fútil assim?
— Acho.
— Eu gostaria de manter uma conversa civilizada com você, mas sempre torna isso impossível.
— Acho que é a senhora que torna as coisas difíceis. — revirou os olhos. — Eu não aguento mais tantas discussões. — exaltou a voz. — Eu estou cheio de problemas, não tenho mais uma vida social, praticamente todo dia recebo vários representantes de vários países. E a senhora só pensa em casamento!
— Eu penso no seu melhor! Eu nunca desejei mal a você, ao contrário do que pensa, Heinz. Eu só te peço que conheça alguém...
— Como vou conhecer alguém? Não tenho tempo para nada.
— Eugenie da Áustria chegará em breve. — Susi abriu um sorriso ao ver seu filho considerando a ideia.
— Filha de tia Magda?
— Exatamente. E Amélie também virá.
— Não lembro muito bem de Amélie. — colocou a mão em seu queixo. — Qual será o motivo da longa estadia delas aqui?
— Amélie sofre de um grave problema nos pulmões, o médico achou melhor ela passar uma temporada fora para ver como eles reagem. Magda sofreu muito com essa menina. Peter a mesma coisa, porém eu só recebia cartas de Magda, claro. Ela é minha irmã mais querida.
— Acha que Amélie vai melhorar aqui?
— Provavelmente. Viena tem o clima bem mais frio que o nosso. Isso é verídico.
— Quando elas chegam?
— Em seu aniversário.
— Vão vir para a festa. Tia Magda vem também?
— Sim, e logo depois vai embora.
— Finalmente visitas nesse palácio.
— Você terá várias por esses dias.
— Mas tia Magda é bem mais interessante.
— Você malmente a conhece.
— Lembro-me pouco dela, mas eu sei que ela era uma ótima pessoa comigo.
— Minha irmã sempre foi fraca com crianças.
— Você também deveria ser.
— Basta. Vou responder a carta de Magda. Até breve.
Heinz nada respondeu, apenas observou sua mãe sair do escritório. Ele não havia percebido que segurava a respiração, até ela sair. Era totalmente irritante ter uma pessoa querendo controlar sua vida o tempo todo. Como se não bastasse os outros querendo fazer isso o tempo todo. Heinz tocou a campainha do escritório do seu secretário, que em poucos minutos chegou.
— Richard, cancele todas as minhas reuniões de hoje.
— Majestade, são muitas...
— Diga a eles que não me sinto muito bem. Pode ir.
— Com sua licença vossa majestade.
Heinz saiu do escritório e foi para seu quarto relaxar um pouco. Havia dias querendo um pouco de descanso, e agora ele se daria esse luxo. Tirou a farda diplomática, os sapatos, ficando somente com a calça. Deitou-se na cama com maior alegria. Ele amava aquela cama, principalmente quando podia dormir sem se preocupar nada. Colocou a cabeça no travesseiro, e em poucos minutos adormeceu.
❈
08 de dezembro, 1850
Querido diário, mamãe recebeu uma carta da minha tia Susi. Ela confirmou que poderíamos morar lá o tempo que precisássemos. Mamãe ficou muito feliz, é claro. Eu não sei expressar meus sentimentos em relação a isso, porém, são os melhores. Meu pai acalmou meu coração naquele dia de uma maneira linda e maravilhosa. Eu não ouvi gritos, reclamações, e broncas. Eu fui ouvida e entendida. Minha vida está tomando rumos que eu não sei onde vai parar. O primeiro lugar é em Berlim, Alemanha. Que Deus me ajude.
Amélie
VOCÊ ESTÁ LENDO
O destino de Amélie
Historical FictionAmélie nasceu com uma doença nos pulmões. Sua infância foi sempre acompanhada de médicos, sem poder aproveitar muito o que a vida poderia oferecer. Com o passar do tempo, desenvolveu um humor único e ferino, principalmente quando percebia o olhar de...