BITCH | versão inédita

14.

— Você é único.

Ele diz empurrando meus livros para o outro lado da cama de casal e ficando em cima de mim. Começou puxando meu lábio inferior. Do jeito que ele sempre faz. Depois me envolveu com um beijo.

— Único?

— Sim!

— Não acredito. — o provoquei passando meus lábios perto dos dele.

— Você é o único para mim. E você como ninguém sabe que eu não minto. — ele riu e apoiou a cabeça no meu peito.

— Eu sei. — sorri e acariciei seu rosto. Eu realmente sei.

— Eu estava aqui pensando... Qual é seu maior sonho?

— Meu maior sonho?

— Sim! Vai Harry me conta. — fez um biquinho.

— Não tenho sonhos.

— Todos têm.

Eu tenho um sonho. Só que é patético. Sonho que um dia todos podem ser aceitos como são. Sem divisão de popularidade, ou classe social. Apenas todo mundo podendo ser amigos. É ridículo.

— Eu não tenho.

— Mas eu tenho. — ele rolou para meu lado esquerdo e se aconchegou nos meus braços. — Meu sonho é ter tudo e ser lembrado por ter tudo.

— Você sabe que não pode ter tudo. — o puxei mais para perto sentindo o cheiro de chá de canela com avelã.

— Não coisas materiais Harry. Eu digo poder ter tudo. Tudo, tipo: saúde, felicidade, raiva, amor, você sabe. Ter pelo menos sentindo uma vez todas as emoções que existem no dicionário. Viver todo dia como se fosse uma aventura. Fazer toda noite memorável. Descobri coisas que ninguém sabia. Viver um sonho cada manhã. Quero ser lembrado por isso.

— Meio ousado não acha?

— É isso que eu quero. Uma vez eu li um livro que a menina tem um lema.

— Qual seria o lema?

— Sempre faça aquilo que teme.

— Você teme o que?

— Temo ter filhos nos quais eu não tenha uma história para contar. Temo que quando eu morrer e estiver no céu ou no inferno, eu não sei. Uma pessoa me parar e me desafiar para um jogo chamado "Qual vida na terra foi mais empolgante". Tenho medo de perder esse jogo. Temo de olhar para trás e ver que minha vida foi uma merda sem emoção.

— Sabe o que eu temo? — perguntei vendo seus olhos se viraram para mim, com calma e com aquele toque de hostilidade que ele sempre tinha.

— O que?

— Tenho medo que você nunca me conte o que você esconde por trás dessa atitude de "não posso ser tocado".

Seus olhos brilharam e seu sorriso cresceu. Levantou a cabeça e mordeu seus lábios. Pulou em cima de mim.

O calor que cresceu me queimou em todas as partes do meu corpo. Derreteu meus órgãos. Senti meu coração correr pelo quarto e bater no violão que estava encostado na parede. Senti lágrimas escorrendo no meu rosto incendiado. Minha alma vagou pelo quarto esperando a morte chegar.

Seus lábios molharam os meus. Seu hálito com gosto de chá se misturou com meu. A alma voltou para meu corpo meu coração voltou a pulsar no meu peito. Minha respiração acelerou e meus sentidos voltaram ao normal. Seu beijo sarou cada queimadura feita e curou cada coisa que eu sentia.