BITCH | versão inédita

37.

No dia em que sentamos e nos reunimos para fazer uma espécie de mapa para descobrimos quem afinal de contas estava por trás do meu inferno foi o mesmo dia que descobri que Tyler consegue ficar quieto por horas e que realmente é um amigo maravilhoso.

Não chegamos a nenhuma conclusão, apenas chegamos a um Tyler de olhos sérios e pensativos. Niall e Liam foram e chegaram sem pistas. Não tínhamos feito nenhum avanço. A certeza de Tyler havia ficado apenas para ele, me deixou sozinho sem respostas.

No mesmo dia a noite Louis apareceu com um sorriso irresistível, perguntando as novidades, com pesar o informei tudo. Louis não parecia surpreso com nada que eu contava, era como se estivesse comigo o tempo todo.

Depois de um tempo Louis estava jogando todo seu charme e mistério em cima de nossos corpos deitados em meu telhado. Havia uma maneira de subir no telhado e ficar com segurança lá. Eu e Louis costumávamos fazer isso quando queríamos olhar as estrelas e esquecer o mundo. Era uma espécie de "nosso lugar".

Não era o único, obviamente. Tinha a casa abandonada. Só que era tarde demais e igualmente assustador ir lá hoje.

Já se podia ver o céu se colorir em tons mais claros e escutar o silêncio de Louis. Seu corpo estava colado ao meu e ao mesmo tempo afastado de mim. Havia uma barreira enorme entre mim e ele hoje. Havia algo rolando em seus pensamentos que estava inalcançável para qualquer um que tentasse.

Eu já estava para desistir de tentar quando vi seus lábios se mexerem pela primeira vez em horas. Seus olhos se fecharam e um sorriso leve surgiu nos lábios. Encarei esperando falar algo, nada além do sorriso em seus lábios.

- Eu vou falar Harry. Você não precisa ficar me olhando quem nem um idiota. - ele disse sentando.

- Eu não estava te olhando que nem um idiota.

- Estava. - sua voz era suave - Às vezes eu preciso de silêncio.

- Você está em silêncio por horas.

- Harry?

- Louis.

- Você já parou para perceber que tempo é algo que parte de sua própria concepção?

- Como assim?

- Lembra quando eu vim na sua casa pela primeira vez? - assenti - Eu levei os meus DVDs do Star Wars e assistimos o primeiro da trilogia original?

- Sim e foi um saco. Demorou um ano para acabar.

- Cala sua boca que foram as melhores horas que você gastou em sua vida inteira. - ele ri - Só que é exatamente esse ponto que eu quero chegar. Você achou chato e eu achei maravilhoso.

- Aonde você quer chegar? - digo olhando suas costas.

- O tempo é física e tudo na física precisa de um ponto de referência. Eu sinto o tempo passar de forma diferente que você. Um segundo para mim pode ser um minuto para você. Isso depende o quanto você está concentrado nos ponteiros do relógio ou está aproveitando a vida.

- Por que você é assim? - perguntei sentando ao seu lado.

- Assim como?

- Tão Louis.

- Isso foi um elogio? - perguntou encostando-se a mim.

- O melhor elogio do mundo.

- Sabe Harry... Eu estive esse tempo em silêncio pensando em várias coisas.

- O que eram elas?

- Quando eu me mudei eu passei um tempo observando e sentindo o peso da minha própria humilhação. Não sei se você sabe, mas a humilhação além de ser pesada ela tem um preço. Um preço que te acompanha mesmo não querendo. O preço de abrir o computador e ser esmagado de acusações cruéis e traiçoeiras. Você se sente tão pequeno e tão sem voz que se pergunta se existe alguém que vá escutar suas orações e pedidos desesperados. O preço do olhar de pessoas de quem você confiava. A humilhação tem um preço pesado demais e cruel demais. A humilhação mata Harry. Mata tanto quanto uma doença fatal. Ela te faz desistir e te transformar.