Recomeço - Parte 2

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Ela estava cansada. Muito cansada. Nenhuma deusa havia avisado Amanda sobre Leonardo, sua profissão, seu ardil. Como ele pode? Como ela pode ser tão ingênua? Ele era tolerante com seus rituais, não se espantou ao descobrir, era gentil e atencioso. Tudo que Amanda sentia era raiva. Raiva por ser impotente perante o homem que estivera ao seu lado por 10 anos.

Sentada na rodoviária com a única mala entre as pernas, Amanda não sabia onde ir. Seu clã há muito a abandonara. Sozinha, fitava o ir e vir dos ônibus, lendo os destinos para decidir onde ir. A moça franzina esperava que alguma deusa lhe mostrasse o caminho. Aparentemente, elas a haviam abandonado.

Fechou os olhos e invocou silenciosamente, com todas as forças, sua falecida mãe. Quando abriu, um ônibus havia parado a sua frente. O destino: Foz do Iguaçu. Sem pensar, entrou. Não ia adiantar ficar ali sentada. Pelo contrário, ainda corria o risco de ser encontrada pelos hunters.

Acomodou-se no último banco, colocando a mala embaixo dele. Lembrou-se da primeira vez que topou com Leonardo e Manoela, em um café no centro de Curitiba. Fechou os olhos e adormeceu.

Amanda sofria de terror noturno e a noite gélida não era nada favorável à sua paz. Desde menina, via espíritos de luz vermelhos ameaçando-a. Associava-os aos hunters, de quem só havia ouvido falar. Não sabia como eram, como falavam, o que fazia. Só sabia que tinha que fugir deles. Quando sua mãe foi assassinada, soube que era mais uma vítima do grupo de extermínio.

Dessa vez, o espírito de luz tinha rosto. Manoela. E Amanda gritou, mais para dentro do que para fora. Acordou suada, trêmula e assustada. Todos em volta ainda dormiam. 

Naquele momento, Amanda tomou uma decisão: agora, ela era a hunter. Mas seu foco eram eles, seus próprios algozes. 

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