Destino - Parte Final

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Semanas se passaram sem qualquer resposta. Até que ela chegou, por e-mail e não cavalo, concisa e não prolixa como eu gostaria. Passamos a nos corresponder e, sem qualquer pedido dele, através do número de celular na assinatura do e-mail, enviei uma mensagem pelo Whatsapp. Malditas mensagens instantâneas! Deixaram as missivas escritas à mão, tão românticas e tão menos imediatistas, perdidas no passado. Àquela época, era possível escrever e se arrepender antes de chegar aos Correios.

Mais uma vez, minha ansiedade foi a algoz das minhas palavras escritas e lidas imediatamente. Passamos a trocar mensagens e assim permanecemos por um bom tempo. Soube que aquela namorada tinha terminado com ele, soube que ele morava em uma cobertura e, então, soube que ele estava namorando de novo. 

Nesses papos de Whatsapp, tive a chance de me recompor para ele, de mostrar que eu não era mais a explosiva menina de 15 anos, de enaltecer minhas qualidades – mesmo aquelas fruto da minha imaginação. Não entendo ainda muito bem porque eu precisava provar alguma coisa para ele, mas essa é a realidade.

Recorrendo ao maldito Facebook, vi a foto da namorada. Odiei cada detalhe perfeito do seu rosto angelical. Não por ela, em si; por mim, pessoa egoísta que imaginou que o carinha ainda estaria sentado na porta da sala de aula com a cara de cachorro desejoso.

Os papos ficaram incoerentes, especialmente por minha parte. Inúmeras indiretas, que jamais refletiram o que eu sempre quis conversar com ele, minaram a possibilidade de sermos amigos. Nem eu compreendo direito a minha própria cabeça. Jamais poderia esperar que ele a entendesse. Desatinos é a palavra que me vem à mente.

Eu queria que ele também tivesse sentido a minha falta alguma vez ou que ele pelo menos tivesse imaginado um possível final diferente para a nossa história. Mas a verdade é que ele nunca pensou em mim, nem sentiu minha falta, nem quis ser amigo ou mesmo imaginou se eu estava bem. Ele nunca me procurou no Orkut ou no Facebook. Não havia desprezo ou rancor. Pior do que isso é que, simplesmente, não havia nada. 

Eu tinha sido uma vírgula na vida do menino bonito, e ele foi um conjunto de reticências na minha. Eu não tinha sido o primeiro amor dele, mas ele foi o meu.

Certo dia, ele parou de responder e ler as minhas mensagens. Cortou qualquer forma de comunicação que eu pudesse ter com ele. Sumiu, de vez. "Esse nunca foi o nosso destino.", pensei e fiquei ali, olhando a foto dele sumir da tela do celular enquanto eu apagava o contato. Ainda um tempo depois, eu ainda revivia os últimos meses, me julgava e condenava pelas atitudes impensadas. Por tantos anos, tudo que eu queria era ter contato com ele, mas fulminei a possibilidade de conquistar a amizade dele em poucos meses.

Peguei o papel e escrevi. Escrevi tudo que eu lembrava em um ritmo acelerado, tentando organizar as ideias no papel, e não em mensagens instantâneas. Apagando, reescrevendo, repensando e refazendo os passos desses anos todos. Tive a oportunidade de enxergar claramente os meus erros – e não somente com relação a ele, como coloquei aqui, mas em toda a minha vida e relacionamentos. Aposentei o texto em uma pilha de outros papeis. Enterrei para não ler e não sofrer.

Hoje em dia, um bom tempo depois, não procuro mais por ele. Entendo que o passado me fez ser o que sou e acredito que a minha passagem pela vida dele tenha inegavelmente contribuído para ele ser o cara que é hoje. Eu nunca fui o destino dele, ainda que eu tenha imaginado que ele era o meu. Descobri que ele se tornou o meu Everest desde que o irmão dele me desafiou na festa de formatura. Passei anos precisando desta adrenalina, fantasiando a minha vida como um romance proibido e imaginando um sentimento vulcânico entre nós. A verdade é que não somos personagens do mesmo livro; somos criações de escritores totalmente diferentes.

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