Harker - Parte 6

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6 de maio, 21 horas – A ida à casa do Vereador não me rendeu maiores informações. Pelo que a mãe do homem me contou, ele já havia dormido quando foi atacado. Era um rapaz jovem, bem apanhado, que namorava a filha do padeiro, uma mocinha de seus 16 anos que eu vi ontem servindo os pratos no comércio do pai.

Tomei um café com a mulher que, me parecendo muito mais idosa do que era, não exprimia qualquer tristeza com a morte do rebento. Pelo que me contou, eventualmente seguia rabos-de-saia pela cidade e a mãe acha que, por isso, as tais feiticeiras o haviam atacado. Mais uma pessoa crédula e ingênua. Não posso dizer que não me afeiçoei à senhora, que em muito me lembrou minha falecida avó. Mas quando me contou a lenda, percebi que o povo crédulo vinha ouvindo a mesma ladainha há anos...

- Três mulheres fogosas invadiram a tribo - uma alta, uma baixa, uma média; uma loira, uma morena e uma ruiva; uma pele vermelha, uma pele branca e uma pele negra; uma bonita, uma muito feia e outra comum; uma com longas e finas pernas, outra com pernas grossas e curtas e outra toda magricela. Não sei qual é qual, mas sei que elas revezavam. Elas ficaram conhecidas como "Três Feiticeiras" e atacavam sem qualquer motivo. Os homens começaram a morrer sem sangue. Elas bebiam o sangue. Então...

Interrompi a senhora, pedi licença e deixei a casa. Ela não me acrescentaria nada com essas crendices. Tudo que consegui descobrir de útil é que não há partido de oposição que pudesse fazer mal a qualquer homem. E me fez uma pergunta curiosa: por que um partido castraria um rival?

Voltei para o hotel pensando na possibilidade de o Prefeito ter sido infiel, assim como o Vereador, e essa ter sido a causa das mortes – afinal, foram mutilados. Mas como alguém poderia ter sido infiel à belezura que me serviu de prazer ontem? E, de certo, a casta e delicada filha do padeiro não faria isso com o jovem político.

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