Harker - Parte 1

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3 de maio de 1973, 12 horas – Saí da capital por volta de 11 horas, embarcando no vagão-dormitório duplo com uma mala de mão, uma pasta com bloco e a máquina fotográfica. Assim que eu terminar a reportagem, em dois ou três dias, retornarei aos braços de minha amada Guilhermina.

Organizei minhas notas sobre os eventos dos últimos dias e já pude perceber a clara semelhança entre as vítimas do serial killer: são políticos. Prefeito, vereador, deputado... Certamente, trata-se de algum ardil de motivação partidária. Em ano de eleição, estas distrações retiram dos holofotes os candidatos corruptos e colocam as lamúrias em destaque.

Gravando todas as ideias e insights em meu pequeno gravador de mão, distraí-me admirando a paisagem bucólica que se formava nas janelas. Viajar de trem é um grande prazer. Além de permitir que chegue antes ao destino, ainda permite descobertas fascinantes pelas janelas. Sinto-me admirando a paisagem de Noirmoutier de Renoir, com toques impressionistas de flores e cores.

De certo, perdido em meus próprios pensamentos com a delicada paisagem, pude até mesmo enxergar a moça com a sombrinha, que em muito me lembrou a bela Francisca. O apito da Maria Fumaça diluiu a imagem à minha frente, mas me permitiu sentir uma excitação real com as lembranças recentes dos beijos apaixonados da rapariga de guarda-chuva que entrevistei alguns dias atrás. Sozinho no cubículo, imaginei as carícias de Chica.


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