Fiquei com seu número

O pior dia da vida de Clarke

Foco. Foco, garota.

Não é tudo um completo desastre, o mundo não está sofrendo um ataque nuclear, e eu não shippo casais lésbicos em seriados. Então está tudo numa boa. "Relaxa, Clarke. Respira, é só refazer os seus passos."  Espero que um dia eu ria de tudo isso, mas agora estou completamente desesperada.

Procuro por todos os lugares que você possa imaginar, debaixo do tapete, no salão do hotel, debaixo dos guardanapos, dentro das taças de vinhos, nos banheiros, nas privadas, procuro em lugares onde ele nem poderia estar. Eu perdi. Seria bem menos aterrorizante se eu tivesse perdido os braços, mas eu perdi o meu anel de noivado. Nem pense que é um anel qualquer, é um anel de noivado extremamente antigo, e especial, e caro. Está na família do meu noivo há gerações. É uma esmeralda enorme, cercada por pequenas pedrinhas de diamantes. Avaliada em quase 1 milhão. Monty talvez ame mais esse anel que a sua noiva, ou seja, eu.

Não pense que eu não tenho cuidado com a joia, eu tenho. Cuido religiosamente da segurança daquele anel, sempre colocando em mais de um saquinho de cetim, depois colocando na caixinha, e depois em uma caixinha maior, colocaria um alarme naquele anel se eu pudesse. Mas agora eu o perdi. Perdi o maldito justamente no dia em que os pais do meu noivo vêm da Alemanha. Não preciso nem dizer que os dois são bem intimidantes. Ele sempre com aquele ar de 'sabe tudo' e ela com aquelas perguntas ridículas sobre "como você se sente em relação ao feminismo, Clarke?" "Você é a favor do casamento gay, Clarke?" Os velhos são um saco. E é obvio que eles vão querer ver o tal anel, vão querer tatear o anel, beijar o anel e colocar em um altar. Aposto que os dois devem estar nesse exato momento pensando o quão "não merecedora do anel eu sou." Ótimo.

"Não surta agora Clarke, não desce do salto, mantenha-se otimista."  Fecho os olhos, conto até perder a conta.

- Senhorita?

É a senhora da limpeza, está pedindo passagem, é claro que eu estou parada feito uma maluca na frente dela e seu aspirador maligno. Se ela passar para o salão, provavelmente vai aspirar o anel. PÂNICO.

- Me dê mais cinco minutos, antes de começar a aspirar, por favor.

Praticamente me jogo nos pés dela.

- Ainda não achou seu anel? Fica tranquila, provavelmente você o deixou em casa.

- É, provavelmente.

Sinto vontade de chacoalhar aquela mulher, ela tá me achando com cara de burra? É claro que eu não deixei meu anel em casa. Do outro lado do salão uma outra faxineira começa a limpar as mesas, jogando os guardanapos em um grande sacolão preto cheio de restos de doces, bolo e tudo que fora usado na festa.

- Oi, com licença. Está procurando o meu anel, não está?

- Nenhum sinal dele.

Ela joga mais guardanapos e os pedacinhos de bolo dentro do saco, NEM SEQUER OLHOU. Eu avanço em direção aos guardanapos, a mulher me olha atônica, então começamos uma prova de força, quem pega mais guardanapos. Como se não bastasse, ela ainda arrasta a sacola de lixo para longe, vaca. Agora estou indo em direção a sacola, não me importo em colocar a mão ali, agarro aquele lixo como se fosse uma agente investigativa fazendo uma perícia forense. Meu desejo é colocar uma fita amarela ao redor do salão e declarar aquele lugar como uma cena de crime.

- Você está bagunçando tudo! Ay Dios Mio!

Resmunga, e o salão começa a ganhar cara de zona de guerra. Vários faxineiros do hotel estão limpando as mesas agora, definitivamente não vou conseguir vasculhar todas aquelas sacolas. Levanto-me sem sentir uma gota de constrangimento.