Fiquei com seu número

É dando que se recebe

Clarke

- ANDEM LOGO VIADAS, EU NÃO TENHO O DIA TODO!

Murphy gritava ordens e instruções por todos os lados. Caos e desordem. E eu? Saboreava um cappuccino com tranquilidade.

Era bom finalmente estar no controle das coisas.

Não conseguia evitar sorrisos presunçosos. Estava, enfim, e de uma vez por todas, bem.

Fecho os olhos, deixando que o café com creme e canela atravesse minha garganta.

- RAVEN, SUA ACÉFALA, EU DISSE PARA COLOCAR OS CHICOTES AO LADO DO PALCO CENTRAL.

Zen. Encontrara o perfeito equilíbrio entre minha mente e meu espírito.

- RAVEN, EU VOU CORTAR OS SEUS DEDOS.

- VAI SE FODER, MURPHY.

A movimentação era frenética, parecia os bastidores de RuPaul's Drag Race. Pessoas por todos os lados, colocando e tirando coisas do lugar. A maioria tentava resolver o problema da sessão dos vibradores. É que, Niylah optara por uma decoração mais minimalista, entretanto, Raven logo descordou, desarrumando e gritando até para as paredes, que tudo deveria ser EXAGERADO.

Talvez café seja mesmo o néctar dos deuses...

Octavia projetava mídias diversas em um telão no canto esquerdo, perto do palco. Nus artísticos. E aos poucos conseguíamos dar vida ao ambiente, estava erótico, sensual e íntimo.

A inauguração estava repercutindo pelas redes sociais. O hype era real. Tava orgulhosa, todos nós estávamos. Aquilo sim era um ótimo trabalho de equipe. Desde que aparecemos trajados (literalmente) com nossos produtos eróticos na festa de Lexa, o nosso negócio só crescia. Cercado de escândalos e gritos histéricos, mas, crescia.

- CLARKE! – Atolado com quase dez vibradores nas mãos, Murphy tentava me arrastar aos gritos.

- Você vai ficar sem voz. - Balbuciei. Seguindo-o preguiçosamente.

- Vá ajudar Costia com aquelas calcinhas comestíveis. AGORA!

AAAA Costia. Definitivamente as coisas haviam mudado entre nós.

- Vim te ajudar com as calcinhas. - Sussurrei no seu ouvido, tentando frustradamente seduzi-la.

- Sai de reto satanás.

- Não precisa mesmo de ajuda com as calcinhas? - Questionei, balançando algumas das peças comestíveis na cara dela.

- Espero que use um colete de couro hoje, bem sapatão. – Sua risada acompanhou uma piscadela rápida.

- Não quero ofuscar as estrelas da noite.

Sorrimos, como cúmplices descaradas.

A música latina banhava o ambiente. Estávamos em um galpão, rústico, meio abandonado, entretanto, decorado com luzes neon vermelhas e todas as sessões com os produtos que iríamos vender.

Meus olhos cravaram em qualquer ponto. Sabe quando sua mente vai em um branco total? E os pensamentos vêm e vão sem você notá-los como pensamentos?

Costia mereceu sua segunda chance, apesar de todas as burradas que fizera comigo. Acho que eu tinha um imã para amigos imprevisíveis e sem sanidade alguma.

Mesmo disfarçando bem, nada tirava de mim o horror na cara de Lexa enquanto era perseguida por aquelas vaginas. Nada tirava de meus ouvidos a sonoridade pesada do meu nome profanado por aqueles lábios trêmulos.