A perseguida

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AVISO

Se você chegou a essa parte da história, ou você é maluco, ou você é um curioso. Queria poder dizer que as coisas ficarão mais fáceis, entretanto, como personagem principal dessa desventura, me sinto na obrigação de alertá-los, alguns mistérios jamais poderão ser desvendados.

Clarke 


O frio penetrava a minha pele. Como finas agulhas de gelo, injetadas nas minhas veias.

Estamos no início de outubro, é outono ainda. Mas, parece que o inverno está chegando.

Prendi meus olhos em Lexa, ela se movimentava apressadamente, e não notara que já fazia um tempo que eu não conseguia deixar de observá-la. Lexa estava tão encrencada emocionalmente e psicologicamente quanto eu.

Estávamos no jardim da sua casa, colocando algumas caixas com as porcarias eróticas pra fora.

- Você tem um cigarro? – Disse subitamente, trazendo a atenção dela para mim e não para o conjunto de vibradores coloridos de neon.

- Já volto.

Lexa estava feito um vulcão essa noite, quente, viva, como se larva corresse por suas veias, seus sorrisos eram largos, e era impossível não ver beleza nela.

Eu estava o oposto. Rezava para que ela não notasse a minha súbita tristeza. Estava cinco ou seis níveis abaixo da merda.

Vocês estão acompanhando a montanha russa emocional que é a minha vida. Sabem todos os detalhes sórdidos da minha constante falta de sorte. Não posso ser ingrata, já estive bem pior, já estive tão ruim que não conseguia fazer absolutamente nada.

- A música favorita do meu álbum favorito. – Isso daria um bom quote para o meu próximo conto.

- Disse algo?

Ela havia voltado, com dois cigarros.

- Sabe aquela música que você escuta todos os dias repetidas vezes e tem medo de enjoar da música e acaba deixando de ouvir só pra não enjoar? Eu não tô fazendo isso. – Confesso.

- Isso é uma metáfora pra algo?

- Pode apostar. – Sorrio, arrancando os cigarros de sua mão.

Fumei em silêncio, embora soubesse que estava sendo observada.

- Músicas favoritas nunca deixam de ser músicas favoritas, não importa quantas músicas favoritas você adicione na playlist ao longo dos anos.

Ela comenta entre risos, satisfeita com suas observações perspicazes.

- Bruce está uma fera por eu ter arrebentado com A coisa. Mas, parece que alguém pagou os reparos. Foi você?

Ela nega.

- Costia.

Estendi o último trago até seu campo de visão. Sei que ela não fuma, mas dessa vez, tampouco negou.

- Me sinto incompleta. – Digo em voz alta, para espantar todos os meus demônios. Era muito fácil ser aberta com ela, era muito fácil ser entregue e intensa.

Natural até.

- Vou te abraçar. – AVISOU, já rodeando meu corpo com seus braços. – Calma, um dia tá tudo fora do lugar e no outro as coisas se encaixam, tipo como a gente agora.

DROGA DE MULHER CONTRADITÓRIA DOS INFERNOS.

Assenti, repousando meu queixo entre seu ombro e pescoço. Estava arrependida? Não. Mas, me pergunto o que aconteceria se eu decidisse fazer as coisas diferentes.

Fiquei com seu númeroOnde histórias criam vida. Descubra agora