Os imprevistos improváveis e as impossibilidades

1.1K 110 99
                                    


Lexa

Deixar ir... dizem que esse é o ato mais revolucionário que alguém pode fazer. A total liberdade desatrelada à necessidade de permanência.

No início da manhã, recebi uma mensagem de Costia.

Suspirei.

Observei a mulher que dormia serenamente ao meu lado. Clarke era excepcionalmente linda, tão doce e tão jovem, ela era como qualquer pessoa deveria ser. Clarke é livre, mesmo que talvez, se sinta aprisionada. Ela é fiel e gentil com a vida e não há aquela máscara de dor que todos carregam quando se deparam com a realidade cruel dos fatos.

Evitar o amor, era uma filosofia que compartilhávamos, secretamente. Mas, imprevistos acontecem.

Alguns fios de cabelo loiro repousam no seu rosto, quase como se descansassem com ela. Percebo que ela é muito boa em derrubar as estruturas que eu achei serem inabaláveis.

Ah, ela tem uma bunda tão linda, e mãos tão lindas, e uma alma tão linda.

E eu, egoísta. Queria que ela me esperasse, que ela pausasse sua movimentada e contraditoriamente serena vida, até que eu encontrasse um jeito de me recuperar.

Pensei em todos os amores que tiveram um fim inesperado, brutal, como uma corda que se partiu ao meio, por falta de coragem. Por mais que eu soubesse que ninguém nunca vai chegar tão fundo na nossa alma, eu peço ao universo que ainda haja tempo para nós. E coragem, acima de tudo.

Porque se existe um mundo onde eu possa ser feliz, eu quero que Clarke esteja nele.

Não podia contar sobre Aden, não podia mostrar uma parte minha que eu sabia que estava prestes a perder, eu iria me tornar algo sombrio quando isso acontecesse, e depois de tanto trabalho em mostrar algo novo para Clarke, depois de fazê-la enxergar que poderia ser muito mais que a noiva de um homem que vivia com duas camadas, muitos mais que uma companheira por conveniência, ou a garota que nunca sabe onde está ou para onde quer ir, depois de ajudá-la a mover as engrenagens novamente...

Nunca pensei muito sobre o amor, eu nunca achei que estava perdendo tempo quando vi o tempo passar e eu ficar cada dia mais sozinha. Mas, Clarke Griffin quebrou as barreiras, mudou as coisas de lugar, abriu portas, limpou o mofo, escreveu, sorriu, roubou restaurantes, vendeu produtos eróticos, usou fantasias sensuais no meio da rua, transou comigo em um banheiro qualquer, dançou, tocou, fugiu com os saltos quebrados, passeou com sua língua por todo o meu corpo, deixou marcas, arrancou as partes secas das plantas, replantou, conectou-se de volta com seus amigos, e juntos eles espalharam doses e mais doses de felicidade para eles mesmos, como uma parte inteira que fora dividida pelo tempo, circunstâncias e todas as coisas que ela reprimia, e que agora estava completa novamente.

Ela deixou a menina de lado, e uma bela mulher apareceu, livre, imponente, dona de si, apaixonada, gentil, Clarke.

E agora eu precisava deixá-la ir.

Precisava deixar os dois irem.

Ele que dormiu por anos, e ela que adormeceu a vida.

Talvez eu também tenha.

Ele que acredita em vida em outro planeta, ela que secretamente escreve sobre vida em outro planeta.

Ele que sorri para todos, ela que se irrita por não conseguir parar de se afeiçoar pelo mundo.

Os dois amam tanto o mundo, e o mundo os prendeu, abafou-os, deixou que eles fossem sugados, Clarke pela sua vida monótona, a falta de perspectiva, o desejo de que a noite chegasse logo, e assim o dia seguinte, sempre um ciclo, e Aden, naquela cama de hospital.

Fiquei com seu númeroOnde histórias criam vida. Descubra agora