Chapter 32

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Chegou o outono, e os alces apareceram em abundância. Buck já matara um jovem macho, certa vez, mas o que ele desejava de verdade era uma presa maior. Um bando de vinte alces havia se refugiado na floresta, na terra dos córregos e das grandes árvores. O chefe era um enorme alce de temperamento selvagem e com uma altura de dois metros; era justamente o adversário que Buck tanto procurara. Ele agitou sua imensa galhada, que se ramificava em catorze pontas e media um metro e meio, de uma extremidade à outra. Seus pequenos olhos consumiam uma chama verde e perversa, enquanto urrava furiosamente, desafiando Buck.
Do flanco do alce projetava-se uma flecha com penas na extremidade -e isso era a causa de toda a sua selvageria. Guiado pelo instinto oriundo dos velhos tempos de caça, no reino primitivo, a primeira providência de Buck foi afastá-lo do resto do rebanho. Não era uma tarefa fácil. Teria que latir e dançar diante dele, mantendo-se fora do alcance dos seus chifres e dos seus cascos, que poderiam matá-lo, como se arrancassem a vida para fora dele com um simples sopro.
Não ousando simplesmente virar as costas para aquelas perigosas mandíbulas e ir embora, o alce deixava-se arrastar pela fúria mais enlouquecedora. Em dado momento, investiu sobre Buck, que astutamente recuou, iludindo-o com uma simulada inabilidade para evitar os golpes. Mas, quando o alce se separou de seus companheiros, dois ou três outros, mais jovens, atacaram Buck por trás, o que permitiu ao alce retornar ao rebanho.
No animal selvagem existe uma paciência obstinada, inatingível, inquebrável. É como a aranha se mantém horas intermináveis imóvel em sua teia, como a cobra permanece enroscada e a pantera, quieta em sua emboscada. É uma paciência peculiar que o animal caçando seu alimento vivo ganha naturalmente, e dela se valia Buck, ao plantar-se no caminho do rebanho, retardando sua marcha, irritando os machos mais jovens, preocupando as fêmeas que cuidavam de suas crias e levando o alce ferido a uma ira impotente. Por metade de um dia, esse jogo prosseguiu. Buck multiplicava-se, atacando de todos os lados, envolvendo o rebanho em um emaranhado de situações ameaçadoras, cercando sua vítima de toda sorte de empecilhos, para que se afastasse de junto dos outros, consumindo a paciência daqueles que considerava suas presas.

O dia correu até o sol recolher-se ao leito, no Noroeste. A escuridão retornava, e duraria seis horas. Os jovens alces relutavam cada vez mais em seus passos, sem a orientação do chefe assediado por Buck. A aproximação do inverno empurrava-os para regiões mais baixas, e eles pressentiam que não seriam capazes de afastar o caçador de sua caça. Além disso, não era a vida do rebanho ou dos jovens alces que estava em jogo, mas apenas a de um de seus membros, um tributo que se dispunham a pagar, para poderem prosseguir em paz.

Quando o crepúsculo chegou, por fim, o velho alce deixou a cabeça pender, ao ver o rebanho partir sem ele. As fêmeas que eram suas companheiras, os filhotes de quem era o pai, os alces que havia derrotado -todos foram embora, em passo rápido, através da luz do dia prestes a desaparecer. Ele não podia mais acompanhá-los porque, dali para a frente, bem diante dele, o inimigo impiedoso aguardava o momento oportuno para enterrar os dentes famintos em suas carnes. O alce pesava mais de meia tonelada. Vivera uma vida longa, cheia de combates e de vitórias, e enfrentaria a morte nas mandíbulas de uma criatura que não chegava à altura de seus joelhos rugosos.

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