Chapter 07

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Buck avaliou que aquele fora um procedimento justo da parte de François, e isso fez com que sua estima pelo mestiço aumentasse.
O outro cão chamava-se Dave. Nunca tentou aproximar-se dos outros, nem tentaram aproximar-se dele. Mas nunca, também, tentou roubar nada dos recém chegados. Era um sujeito triste e rabugento. Demonstrou claramente que tudo o que desejava era ser deixado em paz e, mais, que armaria uma confusão caso seu desejo não fosse respeitado. Comia e dormia, bocejava entre uma coisa e outra e não se interessava por mais nada, nem mesmo quando o Narwbal atravessou a baía chamada Queen Charlotte Sound, corcoveando nas ondas, despencando do alto delas e rodopiando como se houvesse sido possuído por um demônio. Quando Buck e Curly ficavam mais agitados e o medo os tornava irascíveis, Dave levantava a cabeça de um jeito entediado, dirigia-lhes um olhar quase indiferente, bocejava e voltava a dormir.
Ininterruptamente, o navio vibrava muito, com o funcionamento das turbinas e das hélices. Todos os dias se pareciam, mas ficou evidente para Buck que iam se tornando mais frios. Afinal, numa certa manhã, o Narwbal foi impregnado por uma atmosfera de excitação. Buck e os outros cães sentiram que uma nova mudança estava prestes a acontecer. François amarrou-os e conduziu-os para o convés superior.
Era a primeira vez que pisava naquela superfície fria. As patas de Buck afundaram numa massa branca e esponjosa, feito lama. Ele recuou bufando. Um bocado daquela coisa branca estava caindo do céu. Buck remexeu-se, mas a tal coisa começava a cobri-lo. Resolveu cheirá-la, e um pedaço dela grudou-se em sua língua. Beliscava-o como fogo, mas no instante seguinte, desapareceu. Ele tentou outra vez, mas o resultado foi o mesmo. As pessoas o observavam rindo muito, sem que ele soubesse por quê. Começou a ficar envergonhado... Era seu primeiro encontro com a neve.

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