O Começo

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Narrador 1

Jó continuava à espera de Babilónia, e que a mesma vestisse o tal biquíni que os levaria  à doce praia. Jó já sentia falta dos seus momentos de infância em que se divertia como um miúdo normal. Mas já não era o mesmo. O fardo da alma agora pesava-lhe mais. Conseguia ouvir o sabor da raiva e da maldade, angústia, de tudo o que o faziam desesperar. Pensava em tudo, aliás, não sabia em que pensar, a sua vida tinha dado uma volta quase ou eternamente irreversível e tinha-lhe levado a pessoa que ele mais amava. Jó deslocou-se ao espelho da sala de estar, enquanto Babilónia ainda deveria estar a escolher o biquíni certo, olha-se ao espelho como a tentar ver o que está para lá dele, o seu passado o seu futuro tudo numa amarga amálgama. Escorre-lhe uma lágrima do olho que ele deixa escorregar até sentir a sua amarguês, e com essa vem outras tantas, formando uma rede contínua de pura verdade. olha-se ao espelho, aquelas nódoas negras que o acompanham são novas cá fazem parte de um novo historial. Não as conhece, toca-as, mexe-lhes, sente-lhes a amargura e a rugosidade. Deixa cair mais umas tantas lágrimas. Ouve-se um barulho nas escadas. Babilónia pensa Jó. Colhe as lágrimas faz um sorriso falso e procura ser o mais natural possível. Ela , por sua vez, traz um biquíni preto com bolas vermelhas que lhe deixam de fora maior parte das mamas, traz o cabelo colhido e os lábios rabiscados de um vermelho escuro. 

Ela olha-lhe na cara, percorre-lhe cada pormenor e caminha em direcção à garagem, onde se senta no seu mata-velhos. Ele segue-a como um cordeirinho segue o seu pastor e senta-se a seu lado. Ela liga o carro, coloca música a partir do seu telemóvel, qualquer coisa como Hard Rock, em que os cantores bafejam os microfones. Aquela música incomoda-o, ela sabe-o, mas faz questão de a colocar mais alto e gritar.

Nunca saberemos, ou talvez sim, como é que Babilónia tirou a carta de carro, não pelo dinheiro mas pela astúcia que a mesma tem ao conduzir, era capaz de num percurso de 3 km, vá com 4 passadeiras, quase matar 5 pessoas o que poderíamos considerar um recorde pessoal e mundial. Talvez tenha ido para a cama com o instrutor de código ou tenho pago ou simplesmente apontado uma das suas armas e dito que ou a passava ou os seus miolos iriam-se estoirar contra a parede, o instrutor deve-se ter sentido ameaçado, mas por fim aceita, não sabendo o que isso lhe vai custar.

Mas o que posso dizer é que Jó, segura tudo aquilo que pode do carro para se sentir seguro. Chegam, finalmente, a uma ravina onde por baixo existe uma praia rochosa. Saem do carro, o dia promete. Jó olha à sua volta, sente-se livre e aprisionado,  livre de estar num espaço aberto e aprisionado por existir uma falésia.

Descem à praia, Babilónia retira os seus calções de onde transborda um biquini rendilhado que Jó tenta não olhar de frente. Estendem as toalhas e olham o gigante aquático de frente, sentindo a sua rebentação, ou seja, a sua raiva com o mundo, tentando por tudo molhar os pequenos pés de Babilónia. Ouve-se um carro lá no cimo, olham um para o outro, levantam-se e dirigem-se ambos perto da água onde o mar lhes afaga os pés com salgadas lambidelas.

O Barulho do Silêncio #oscarliterario #escritoresdeouroDonde viven las historias. Descúbrelo ahora