Os Amargos dias

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Narrador: Jó

Hoje, eu hoje, sinto-me só, esquecido, sinto a falta dele, ele faz-me falta, o seu olhar, o seu sorriso, o seu rosto tudo nele me faz falta. Não conseguirei nunca ser o mesmo que fui e ao longo de todo este tempo que passa e que nos separa, sinto-me a apodrecer, como se eu de uma maçã se tratasse, estando pronta, então, para cair ao chão devido ao peso da amargura e deslizar e rebolar pelo chão até o pó ser a minha única existência.

Há dias como este em que não nos chega umas palavras reconfortante de uma pessoa que não conhecemos para nos aconchegar.

Há dias como este, em que as crianças a passearem com os pais na rua me incomoda, só me apetece, tirá-los e esperar que sintam o mesmo que eu estou a sentir.

Há dias como este, em que o próprio sussurro do vento entre as árvores me trazem lembranças memórias, como se as árvores me segredassem palavras ditas por ele.

Neste momento, penso o que podia estar a acontecer se o passado não tivesse acontecido, simplesmente penso, e interrogo-me sobre o mundo, sobre porquê ele?

Havia tanto para dizer, tanto para falar, para discutir, recordar e amar. Tantas conversas que adiei, tantos sorrisos, tantos abraços que deixei para um dia, que agora já não podem existir. E faltou um " eu amo-te" de vez em quando.

E como dizer-lhe adeus naquele momento, como ter coragem e dizer-lhe para fechar os olhos por uma última vez e ouvir a minha voz a dizer que o amo e amarei mais que tudo.

Diria adeus até um dia ou lembra-te de mim, não te esqueças de me sorrir da estrela onde estiveres. Mas não seria capaz de dizer qualquer uma destas frases bonitas, que levam as outras pessoas a morrer para onde o ciclo da vida marca. Ficaria e fiquei sentado a um canto a chorar a sua morte.

Estou deitado no sofá da Babilônia, fecho as pálpebras e imagino-me a falecer, respiro fundo entro num sono profundo ou quase um pesadelo, onde sem existência do meu pai, tudo é diferente.

Imagino-me a empunhar uma pistola em frente à Babilônia, olho para ela, aponto-lhe a arma, disparo mas ela não se mexe mas em vez disso, vejo uma mancha de sangue no meu peito. A minha realidade dura e crua é esta. Antes de voltar a acordar medito para mim mesmo, um dia aprenderei como se morre e abro os olhos onde uma luz faiscante alegra a casa de Babilônia. Ligo a tv e adormeço parado a olhar para a televisão. A realidade não é o que nós pensamos. 

O Barulho do Silêncio #oscarliterario #escritoresdeouroDonde viven las historias. Descúbrelo ahora