Autor: Adão
Narrador: Messias
Palavras para quê, farto-me de repitir isto, de me sentir repetido, cansado, cansado de ser fardo de palha de burros alheios. Estou cansado desta melancolia, este não fazer nada, apenas porque morreram duas pessoas.
Apenas porque as pessoas que eram o meu apoio morreram, sairam-me de mim, quase como uma alma a sair. Mas não a sair porque quiseram, embora ambos se tenham suicidado, mas sim porque eram puxados, arrastados, sugados, apenas presos por pequenos fios de partículas.
Quando se parte ou aliás, quando se partiu esta linha, estes escorregaram moles e duros, hirtos e mais melancólicos do que eu próprio para o fundo dos pés, como simples tapetes.
Há algum tempo li um livro, em que a personagem principal percorria o mundo à procura da mãe desaparecida, uma história comum.
Apesar de tudo isto, a rapariga descobre que a sua mãe não está morta ou desaparecida, mas ela própria, a personagem principal está morta em toda a história.
Talvez seja esta a resposta, a solução de toda esta equação, de todo este teorema macabro.
Não sei o que pensar, sei que a casa já devia ter explodido, incendiado, me levado pelos ares, mas não.
Há meia hora que estou aqui deitado, a pensar no que poderia ter acontecido se tudo isto, se aquilo que iniciei aqui. Esta história não tivesse acontecido, talvez esteja destinado a grandes feitos, a grandes surpresas e sucessos ou a incompleta ignorância dos demais. Esse surto que me repele.
Depois penso, eles morreram sim, eles morreram...eles morreram. Por mais que eu mova montanhas, respire ares rarefeitos, viaje até ao purgatório, não os conseguirei trazer de volta. Voltar a ama-los, eles foram uma etapa, uma etapa de aprendizagem, um ciclo. Uma linha torta que se tinha de escrever.
Eu não posso deixar que as mágoas me levem o coração! Eu não posso deixar de ser feliz, de viver, de ser vivido.
Não me posso, simplesmente, abandonar, deitar fora e esperar que dê frutos.
Não vou baixar os braços, serei mais, serei eu próprio. Serei o que for, serei uma forma mística, num mundo arredondado.
Levanto-me, o corpo pesa mais do que pensava. Parece que estou aqui deitado há meses, a debruçar-me sobre este assunto, a refleti-lo.
Estou já levantado, imagino uma leve dança, imagino uma melodia daqueles filmes antigos, que nos faz dançar agarrados a pares.
Danço, sigo o som da música, esta fração de não silêncio.
Agarro-me ao nada, dou-lhe a mão com gentileza, sussurro um convite para dança, ele aceita e dançamos, numa dança mais que dança. Numa entrega mais que entregue. Num amor, mais que amado. Sorrimos, deixamos escapar suspiros. Paramos, beijamo-nos. Um beijo leve e longo, um beijo grave e suave, austero e simples de um casal livre.
Despeço-me, pois toca a badalada da meia-noite, ecoando e vibrando a casa, que se oscila, que se vira o desvirado, o inconcebível.
Desço as escadas, à pressa, numa corrida à pressa, na pressa de que lá fora, estará tudo bem.
Vou à cozinha, tudo está no sítio que era suposto estar, pelos vistos nada aconteceu, simplesmente, porque não era suposto acontecer.
Saio pela porta, arrastando o corpo do Psicólogo dentro de um saco, coloco na bagageira do carro, o Yuri continua à minha espera.
Entro no carro, ele não diz nada, todos nós sabemos que o silêncio diz muito mais.
Ele olha para mim, eu pego-lhe na mão e digo:
- Vamos para onde o vento nos levar!
E é que nos leva mesmo para um quarto de hotel barato, onde acabamos por dormir, um sono merecido.----------------////--------///-------------------
Peço desculpa, por todo este tempo, mas tudo me impede. Esta história como digo sempre vai ser diferente. Gostaria que me dessem a vossa opinião, é muito importante para mim.
Adão
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O Barulho do Silêncio #oscarliterario #escritoresdeouro
Mystery / ThrillerTudo começa com a morte, após a morte de seu pai, um rapaz entra em depressão, conhecendo uma rapariga ruiva, que o leva por caminhos, nunca navegados. Desde droga, prostituição, até matar, tudo por dinheiro, dinheiro é o que faz movimentar esta his...